segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Meu pequeno sapinho

Capítulo quinto...

Um brilho diferente no sorriso perolado de Nino. Naquela tarde voltou para a casa explodindo felicidades. Tomou Elis nos braços, essa logo precisou largar o lenço que estava nas mãos.

– Consegui. Disse ele tatuando beijos no rosto da garota confusa, porém sorridente. Libertou Elis de seu forte abraço e continuou: - Consegui um emprego numa empresa de arquitetura lá no centro, começo amanhã...

-Isso é ótimo Nino, mas será arquiteto mesmo, vai realizar projetos? Já?

-Não, que dizer vou trabalhar como arquiteto sim, mas em conjunto não vou assinar nada sozinho, mas isso é por enquanto, vou chegar lá...

-Claro... Eu tô muito feliz por você. Então vamos sair e comemorar?

-Vamos, eu falei com a galera e vamos para o Big John hoje às 7:00.

-Ótimo! Beijou-lhe os lábios felicitando o namorido, Marte e seus pêlos de neve logo se meteu no meio do abraço dos dois arrancando sorrisos de ambos.

Naquela noite no Big John, bar freqüentado pelo casal, Nino e Elis encontraram três amigos próximos, os inseparáveis Jorge e Lizy e ainda o Gim. Compartilhavam sorrisos e boas piadas de Gim enquanto tomavam cerveja.

–Eu tô falando sério, não foi engraçado galera...

-Gim, pensa cara...

-Não faz pedidos difíceis a ele Jorge. Lizy brincou com o amigo conseguindo risadas e mais risadas de todos ali na mesa. Bagunçou os cabelos que chegavam aos ombros do amigo, demonstrando que era apenas uma brincadeira.

-Vocês já riram demais de mim por hoje, agora vamos, conta Nino e esse emprego? Já sabe se dá para emprestar uma grana para mim no fim do mês?

-Mas o senhor é muito folgado... Caíram em risos, Nino sorria por detrás do gole de cerveja lutando para não rir tanto que fizesse chover cerva. –O emprego é bom, é na minha área então vai dá certo, vamos brindar à mim...

-Meu Deus, mas ele nem se acha, “vamos brindar á mim”... Mas só você Nino. Lizy falou entre risos, acompanhou os outros com os copos suspensos no ar e brindaram a nova fase do amigo.

***

Realmente era a vez de Nino. Aquela oportunidade havia chegado para aliviar sua ansiedade pela busca de um emprego, mas, além disso, havia algo que parecia ser ainda mais importante na conquista daquele trabalho. Era o momento que esperava para provar aos outros que era capaz.

Naquela noite Elis havia preparado um jantar o que era uma vitória para ela que pouco entendia de cozinha. Uniu a sua vontade e ingredientes saborosos, e daí fez o macarrão com cogumelos, voilá. Ainda em um avental colocou pratos na mesa, copos e talheres, tudo para um jantar perfeito. No centro um espaço para a bandeja com seu macarrão já havia sido reservado e ali bem ao lado o vinho que ela mesma comprara naquela tarde aguardava ansioso para ser degustado.

–Pronto! Agora Marte a mama aqui vai se arrumar para a chegada do Papá. Deixou a cozinha, banho e logo depois se arrumaria para aguardar a chegada de Nino.

Já bem confortável naquele azul básico e claro, sentou-se em um dos Pufs com uma revista em mãos para esperar os ponteiros do relógio rodarem e finalmente trazer o namorido para casa, faltava pouco, meia-hora. Mas, essa meia-hora passara rápido e a chegada de Nino era coisa da imaginação de Elis. A revista cobria seu rosto zangado, preocupado e ansioso, mas sua perna cruzada na outra denunciava tudo isso enquanto subia e descia balançando sem parar. Era a impaciência vindo incomodá-la. Olhou para Marte parado na porta, ele já havia até deitado e cochilado, passavam das dez.

-Eu odeio isso, mas não tenho outra escolha!

Tomou o celular nas mãos e discou os números do outro, aguardava a cada chamada que a voz dele dissesse um “alô”, mas aqueles “pans” de chamada eram uma música irritante depressiva para ela. Desligou quase afundando o botão do aparelho de tão forte. Levantou-se deixando a revista escorregar de seu colo, foi ter na cozinha onde os pratos eram tirados da mesa quase que sem pressa alguma, seus pensamentos dançavam confusos na mente, não percebeu a chegada repentina do outro.

-Elis... Sorriso largo no rosto, nem mesmo percebeu a falta de sorriso da outra. Por vê-la com pratos nas mãos acreditou que estaria colocando a mesa.

-Tentei falar com você...

-Eu não ouvir o celular, vi agora a ligação, desculpe eu não avisei que iria demorar o pessoal no trabalho me chamou para um bate-papo ao lado da empresa...

-Tanto faz! Deixou os pratos na mesa novamente, mas um por cima do outro. Passou por ele sem mesmo trocar olhares com Nino, que não deixou de notar depois de sua frase seca que havia algo errado. –Então... O que aconteceu? Me desculpa, eu não avisei...

-Nino, preparei um jantar legal para gente, vinho, tudo o mais porque queria fazer algo diferente para gente. Te esperei e nada de você chegar, liguei para você e nada de você atender, e você nem ao menos para me avisar que iria chegar atrasado hoje.

-Eu não fui legal, mas... Elis a gente pode jantar agora, eu tomo um banho rápido e sentamos...

-Nino, toma seu banho e janta o macarrão está no microondas. Até amanhã!

Abandonado sozinho na cozinha, quando foi dormir depois de jantar Nino não pode conversar com Elis que já havia pegado no sono. Na manhã seguinte antes de sair, uma conversa no café da manhã parecia colocar as coisas no lugar. Nino e seu desejo de quebrar o silêncio fez da maçã uma ponte para os dois. Estendeu a fruta até Elis do outro lado da pequena mesa. –Quer? Conseguiu lhe tirar um sorriso, tímido que não resistiu ao outro, mesmo ainda chateada. –Eva é quem oferece maçã a Adão, Nino. Sorrisos eram novamente trocados em paz. –Engraçadinha!

-Não quero, obrigada!

-Vou levar comigo então. Volto no horário hoje e se acontecer alguma coisa ligo avisando. Fez uma pausa para mastigar um pedaço de sanduiche. –O macarrão estava muito bom, está de parabéns querida!

-Obrigada Meu pequeno sapinho!

-Acho que minha mãe vai ligar hoje, quando contei a ela que havia conseguido esse emprego ficou feliz claro, mas me encheu de perguntas como sempre duvidando que eu pudesse conseguir algo realmente legal. Mas, ótimo vou provar para todo mundo que “conhece” o Nino que ele não é incapaz de algo grande, e nem vou precisar roubar um banco para isso! Sorriu.

Naquele sorriso, naquele olhar deslumbrado e feliz Elis conseguia ver que Nino continuava a nadar naquele rio de idéias bobas de provar algo aos outros a sua volta.

-Vamos almoçar com eles no fim de semana, minha mãe convidou a gente!

-Nino precisa isso?

-O almoço? Também achava que não, mas eles querem me ver, sei lá, puxar o saco. Caiu em risos enquanto que Elis girava aquela colher no café preto.

-Eu posso dizer uma coisa?

-Pode.

-Não fica chateado...

-Pode falar...

-Eu não acho que está fazendo certo, acho que isso não é necessário. Nino eu não tô falando do almoço com sua família, estou falando de você e essa sua obsessão em provar, provar, provar. Para quê, me diz? Você é dez, você é bom no que faz, é um cara inteligente, coração de ouro, e não falo isso por ser sua mulher-namorada, eu digo isso porque conheço muito bem essa pessoa ai...

-Eu não estou entendendo, Elis...

-Está, está sim. Você se sente magoado por não acreditarem em você, família, alguns colegas, mas eu acredito, e não acho que deve provar nada a ninguém, você só precisa provar algo para você mesmo, você acredita em você, então, isso é importante.

-Você não sabe o que é... Não Elis eu não vou discutir isso com você, eu tentei outra vez e você continua sem me entender. Seu tom de voz entregava a sua chateação. Deixou a cadeira. -Qual o problema em querer provar para o mundo que eu posso fazer algo de grande?

-Nino, desse jeito parece que você não acredita em você mesmo, sei lá. Veja, pense você não tem outro objetivo senão esse, o tempo todo provar, provar, provar. Não precisa disso cara...

-Eu vou trabalhar Elis, você fica com suas certezas, eu fico com a minha. Bom dia!

Saiu sem mesmo olhar um nos olhos do outro. Voltaram a estaca zero, quando tudo parecia bem, as paredes do apartamento voltavam a testemunhar desavenças.

Nenhum comentário:

Postar um comentário