terça-feira, 14 de junho de 2011

Uma paixão, uma arma e la putana

Parte IV


Não tinha notícias de Henrique, desde a noite em que o expulsou de sua porta. E não fazia questão de saber, estava cheia das confusões dele, e ter sacado uma arma em sua frente havia sido a gota d’água.

Estava concluindo o ensino médio, era um ano decisivo para a garota. Naquela tarde assistia a uma aula de geografia e viajava em coisas nada haver com o mapa-múndi, pensava em como diria a sua mãe que pretendia ir embora da cidade no fim do ano, e já imaginava a despedida de seus amigos.

O sinal tocou chamando os alunos para um intervalo, cortando a empolgação da professora de geografia. Os alunos deixaram os livros e saíram rapidamente da sala de aula, Maria não fez diferente, foi ter na lanchonete com Lúcia. E foi lá que recebeu a ligação desesperada de dona Lourdes, mãe de Henrique. Chorava ao telefone descrevendo a destruição que o filho fez em casa, e a sua partida sem destino.

-          Pode deixar dona Lourdes, que eu sei bem onde esse vagabundo deve estar... Não chora, pois o Henrique não merece metade das lágrimas da senhora. Até mais dona Lourdes, fica bem.

***
Manhã de sábado, o sol iluminava a pequena cidade alagoana que estava movimentada por conta da feira livre. Homens gritando, anunciando os seus produtos, a carne que sangrava na mesa imunda, frutas frescas, donas de casas enfeitadas com bobis na cabeça e puxando os carrinhos de metal onde guardavam as compras para o almoço.

No meio da feria estava Maria. Carregava consigo uma expressão nada amigável, olhos alertas. Procurava uma casa, conferia de quando em quando um endereço no papelzinho em sua mão. Finalmente, a poucos metros encontrou, e foi ter na casa verde. Diminuiu os passos e parou diante da casa, conferindo ainda uma vez o endereço, era ali, não havia dúvidas. O portão estava aberto, abriu cuidadosamente, mas um pequeno ruído foi inevitável, não se deu o trabalho de fechar e aproveitou que a porta também estava entreaberta e adentrou na casa.

Henrique, sentado no sofá assistia TV, as pernas descansavam esticadas em um banco. Em uma das mãos uma cerveja e no rosto uma expressão assustadora de surpresa ao ver Maria diante dele. Saiu de sua postura largada, enquanto Maria desligava a TV e do corredor surgia a La putana com quem ele estava morando.

-          O que está fazendo aqui minha amiga?
-          Vai, pega tuas coisas e vamos embora Henrique...
-          Quem é você vagaba? La putana, mexia a cabeça e o corpo enquanto indagava com as mãos na cintura. Possuía uma valentia impressionante, mas não maior que a ousadia de Maria.
-          Diz para essa aí não falar comigo.
-          Mas, você está na casa dela...
-          Olha aqui Henrique, eu não tenho tempo pra conversinhas...
-          Você pensa que manda em mim ô garota...
-          Mas, eu mando mesmo. Pega logo suas coisas e vamos embora. Tua mãe me telefonou Henrique, como é que você apronta uma coisa dessas pra ela, derrubou tudo em casa e depois vem morar nesse muquifo?
-          Mas, você é muito ousada...

La putana armou-se de violência e voou em cima de Maria, que rápida colocou os braços para proteger seu rosto. Henrique agarrou a La putana arrastando ela para um canto da sala, Maria aproximou-se deles com olhos grandes.

-          Chega, eu não vim aqui para trocar tapas com uma mulher como você por causa de um tipo como Henrique. E você Henrique, pegue suas coisas e vamos embora, estou esperando lá fora.
Maria ajeitou a camisa amassada pela confusão, os dedos penetraram nos fios dos cabelos, colocando-os para trás. Deixou a casa.

Henrique soltou a La putana, pensava com as mãos na cabeça dando voltas pela sala. Ela ainda tinha raiva, suas mãos tremiam e sua boca não parava de soltar palavras sujas. Henrique entrou pelo corredor em direção ao quarto e voltou com o tênis na mão e a mochila nas costas, deixando a outra sem acreditar no que via. Resmungou: - Você é um pau-mandado mesmo, não acredito que vai com essa mimada saf...

-          Hey, chega. Nada de palavrões com ela. Eu vou embora.

Foi ter com Maria na porta da casa, ela olhava para o relógio no pulso quando viu os pés dele descalços ao lado dos seus. 

-          Antes que confunda as coisas, saiba que vim aqui por causa da sua mãe, e tão cedo não quero ver você no meu caminho e tão cedo não quero ouvir falar se você andou aprontando.

Caminharam juntos e o silêncio os acompanhou.







segunda-feira, 13 de junho de 2011

Sem título, porque me falta imaginação...



Como era ansiosa, seus dedos tremiam em sincronia com um não sei o quê que sentia no peito. Na cabeça flutuavam todas as idéias, planos, desejos que guardava e precisava trazer para o real, mas o tempo era o muro mais alto, o concreto mais duro e impiedoso, não chegava a ser um inimigo, mas uma pedra no caminho.

Acreditava que no dia seguinte acordaria mais calma, as idéias seriam organizadas como em um calendário e tudo ficaria sobre o seu controle, assim fácil. Iludida. A manhã nasceu e ao abrir os olhos sentiu todo aquele incomodo do dia anterior. Respirou e deixou a cama com toda a coragem que roubava de dentro do corpo e achou esquisito o escuro, perguntava-se onde estava a luz do sol que sempre entrava pela fresta da janela incomodando os seus olhos.

Nos lábios um sorriso, resposta do céu cinza lá fora e da chuva que caia fraquinha trazendo um vento fresco. – Talvez uma música... e um café também. Sussurrou para si mesma. Morava sozinha e era a sua maior conquista aquele apartamento pequeno com o seu jeito, as suas cores, o seu cheiro.

Descalçou os pés para a pele sentir o frio que forrava o piso, caminhou até a cozinha, preparou e tomou café da manhã rindo sabe-se lá do quê. E a ansiedade descansava e voltava lhe roubando a calma e os pensamentos. Neles desenhavam-se papéis em branco, livros, uma máquina fotográfica, um rapaz, um pen-driver, roupas que deveria escolher, tênis ou sapatilha? Sandália de dedo, talvez? Outro rapaz. Pausa para um gole de café, uma mordida digna no sanduíche de queijo derretido. Novamente os desenhos nos pensamentos, a passagem da viajem, o dinheiro que deveria guardar, uma agenda escrita quase completa.

Hora de voltar à realidade e fazer as coisas que eram preciso fazer. Deixou a cozinha e foi de cabeça para a ducha morna, tinha exatamente 30 minutos para deixar a sua caverna e ir para o trabalho.

Dirigia bem. Dirigia? Pelo menos era atenta nas ruas, o carro emprestado dos pais há quase dois anos, sua sorte que eram seus pais os donos, pois que abuso. Mas, eles não se importavam, não muito. Logo... logo...logo... ela compraria o seu e tudo ficaria bem. Essa parte da história não fazia parte do seu troféu de independência. 

Dona de pouca idade, sentia-se criança quando pensava em confiança. Diante de diversas situações dividia-se em duas naqueles dias, tantas histórias e tantas versões que sabia-se lá em quê ou quem dá mais crédito. Mas de uma coisa tinha certeza: Estaria do seu lado, que era o mais confiável. Bastava discuti com sigo mesma todos os dias, entre a quieta e corajosa, a santa e a ousada, a individualista e a amável.


Era meio esquisita também, não se sabe explicar. Era um dia de sol amarelo brilhante no céu, deixara a prisão de deveres e afazeres que era seu trabalho, e sem explicação alguma, sem ter nem porque o seu espírito flutuava, leve e alegre, um sorriso tatuado de canto a canto do rosto, impossível de conter. Tudo nas ruas era mais lindo, o céu mil vezes mais azul, era paciência pura, os semáforos poderiam fechar que os seus pés não reclamavam por está com pressa. Esquisito toda aquela alegria que explodiu dentro dela, mas maravilhoso e muito bem-vinda, era paz de espírito. 

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Uma paixão, uma arma e la putana



Parte III



Henrique havia bebido três doses de tequila, andava feito louco pelo salão do clube com cara de poucos amigos procurando Maria e o parceiro de dança. Nada encontrou. Deixou o clube com asas nos pés, seus lábios não sabiam sorrir e dispensou os cumprimentos aos amigos.

Combinou velocidade e raiva, caçando a namorada em várias partes da pequena cidade alagoana. A praça na frente da Igreja matriz estava deserta, os coretos solitários, e gatos que vagavam na noite sem mesmo sentir frio. Henrique tinha olhos atentos e o sangue fervia de raiva dentro de suas veias. Passou pela lanchonete que já estava fechada. Descansaria apenas quando a encontrasse com seu parceiro desconhecido.

***
Maria levou seus amigos para sua casa, a varanda estava iluminada e sua família já descansava. Estavam entre risos e mãos dadas, Lúcia e Bruno havia passado das indiretas e jogo de olhares para os beijos e Maria junto com Marcos conversavam aos risos.

Ouviram pneus cantando na frente da casa, logo deixaram as cadeiras quando avistaram Henrique surgindo feito um vingador de dentro do carro. Marcos apressou-se em descer as escadas , mas Maria o segurou pelo braço e colocou-se na frente dele. Bruno estava surpreso com a chegada do amigo, quis cumprimenta-lo, mas Henrique logo gritou com ele: - Nem fale comigo seu traira, por que deu carona para esse cara ai e a Maria? Você é idiota?

-          Cala a boca Henrique e fala baixo na frente de minha casa... Maria estava furiosa.
-          Vai embora agora seu sacana... Henrique continuou a gritar, dessa vez com Marcos que tirou Maria de sua frente e desceu as escadas correndo, havia raiva em seus olhos e descontaria no outro. Maria o seguiu. – Não Marcos. Vai embora você Henrique...
-          Ele vai... Henrique sacou das calças uma arma e apontou para Marcos a poucos metros dele. Apenas o portão e o muro baixo os separavam. Lúcia assustada perdeu a voz. Bruno desceu as escadas para junto de Maria que passou para frente de Marcos como um escudo.
-          Abaixe isso agora e vai embora daqui, seu sacana, eu não quero mais olhar na tua cara e é com ele que eu vou ficar, você está me ouvindo...
-          Maria...
-          Vai.. vai agora... Maria gritou sem mesmo se importar com a família que dormia dentro de casa. Henrique abaixou a arma olhando nos olhos dela que cresciam no rosto, numa expressão séria e furiosa. Ele voltou para o carro e antes de dar partida gritou colocando para fora toda a sua fúria. Partiu.

Lúcia do alto da escada respirou aliviada e sua voz então voltou, foi ter com os amigos. Maria despediu-se silenciosamente, a raiva havia deixado ela sem forças e logo entrou em casa. Seus amigos foram pouco depois.

Uma paixão, uma arma e la putana


Parte II


Passos animados, rostos bonitos e felizes circulavam no clube. Maria e o casal de amigos logo encontraram velhos conhecidos e socializaram. Diferente de quando ainda estava a caminho para o baile, agora ela já não se importava com Henrique e la putana, desejava dançar a noite inteira e a música a convidava a isso. Não só a música como também o olhar sedutor de um moreno do outro lado do salão.

Lúcia e Bruno distraídos com as indiretas de ambos, não perceberam quando a amiga sorriu para o moreno que se aproximou lhe oferecendo a mão para dançar. Uma conversa envolvia o casal, Maria esqueceu-se por instantes da situação que a cercava desde aquela tarde. O rosto do rapaz tocava o seu com os lábios tão perto de um beijo, quando por cima do ombro largo do outro viu o marrento do Henrique entrar no salão. Estava atento, olhando para  todos os lados à sua procura, quando foi abordado por um grupo de amigos, tapinhas nas costas, algo como: - E aí cara! E lá mesmo ficou, perdido nas conversas bobas dos rapazes.

Maria não desviava a atenção de Henrique, que de longe não a reconheceu. O parceiro de dança estava aproximando-se cada vez mais de seus lábios, devia resistir ou aquilo se transformaria em uma guerra.

-          Você parece distraída com alguma coisa, são seus amigos? Podemos ir lá...
-          Não! Negou prontamente. – Não, é melhor não. Eu preciso ser sincera com você, até mesmo para lhe proteger.
-          Não estou entendendo nada. Sorriu.
-          O meu namorado acabou de chegar...
-          Você tem namorado...
-          Sim. Mas, o problema é que ele é meio violento e não quero envolver você em problemas...
-          Tenho certeza que ele é só um metido a machão...
-          Não queira pagar para ver, por favor!

Henrique percebeu os passos de sua namorada e do moreno desconhecido, seu desejo foi de ir até lá, os seus olhos não negavam o ciúme que o dominava, mas foi impedido por seus amigos que o arrastaram para o bar.

Bruno e Lúcia dançavam no meio do salão, quando Maria e o parceiro de dança se aproximaram. A amiga convenceu o casal a ir embora, saíram á francesa deixando Henrique. No carro, Maria explicava aos amigos o que era aquela fuga, o moreno que a acompanhava ainda não entendia o porquê de tudo aquilo.

-          Mas, a festa estava começando Maria, o Henrique estava lá com aqueles babacas dos amigos dele, não deve nem ter visto vocês...
-          Lúcia... hey, babacas não, eles são meus amigos também... Bruno falava sem tirar a atenção da pista.
-          Eu disse a ela que não precisava a gente sair correndo de lá...
-          Vocês acham que conhecem o Henrique e você Marcos não sabe mesmo quem é ele. O Henrique já estava bebendo e depois como adora brigas eu não queria ficar e pagar pra ver!
-          Então... Pra onde vamos? Porque ainda é cedo... Falou Bruno, ainda pensando em flertar com Lúcia.


***


quarta-feira, 1 de junho de 2011

Uma paixão, uma arma e la putana

Parte I



Trazia um sorriso fácil nos lábios, caminhar seguro, e uma ansiedade que parecia não combinar com a sua postura de homem briguento e machista. Entrou na lanchonete sem mesmo dar atenção as vozes que misturavam-se e conversas que se confundiam, pois era nela que focava o seu olhar, os seus sentidos. Seu nome era Maria, e os seus olhos não expressavam a mesma alegria que os dele em vê-la.

Sentou à mesa junto a ela, suas mãos desejavam tocar o rosto fino da moça, mas ela se esquivou, virou o rosto e o nos lábios o bico estava estampado de insatisfação. Ele respirou , apenas um olhar para o mocinho da lanchonete e logo uma cerveja estava servida.

-          Então, o que ta pegando?
-          O que ta pegando? Você é bem engraçadinho Henrique. Eu sei, todo mundo tá sabendo que você anda me enganando com uma puta... e não adianta fingir que não sabe de nada...

Os olhos de Henrique pareciam querer saltar do rosto, como ela havia descoberto tal coisa? A cerveja do copo desceu em um só gole pela garganta seca de nervoso.

-          Você só pensa que sou idiota, só pensa... Me telefonaram para contar as suas safadezas, seus amigos sabem, minhas amigas, todos  dessa cidadizinha sabem...
-          Calma Maria... foi só uma aventura sem graça...
-          Aventura sem graça? Você a traz aqui onde a gente freqüenta e é só uma aventura sem graça? Olha aqui Henrique, suas aventuras para mim sempre foram besteiras, mas você levar suas vagabundas para o local onde freqüentamos, ah isso não.
-          Eu vou terminar com ela.
-          E eu vou para a festa de hoje á noite e sem você. 

Maria estava prestes a deixar a mesa, as mãos seguravam firme a bolsa. Henrique a segurou em um dos braços e a resposta foi um olhar metralhador de Maria em cima de sua mão. Ela sacudiu o seu braço para que ele largasse.

-          Não me toque dessa maneira.
-          Eu vou com você hoje à noite, antes marco com ela, termino tudo e te encontro lá. O Bruno te leva na festa e encontro vocês.
-          Não demora a fazer isso... Tchau!

Maria deixou a lanchonete com um sorrisinho vencedor nos lábios, enquanto Henrique calculava planos para resolver a situação em que estava. Cerveja gelada novamente na garganta e logo partiu.
***
A chuva caia um pouco agitada naquela noite. Maria aguardava a carona para a festa, parecia uma dama pintada em um quadro, vestida de vermelho emoldurada pelas bordas de madeira pintada de branco da janela. Gritou algo como: - Mãe, até mais! E logo foi ter com os amigos no carro estacionado na porta. A noite estava apenas começando.

Bruno, amigo próximo de Henrique, possuía umas entradas precoces na cabeça jovem de 22 anos. Risonho, adorava as boas piadas mesmo em horas mais tensas. No banco da frente do carro, ao seu lado, estava Lúcia, amiga de Maria que flertava com Bruno há alguns dias.

A chuva não dava trégua, no rádio tocava baixinho um programa voltado para o rock anos 50. Lúcia e Bruno cantarolavam juntos, entre risinhos e olhares de interesse. Maria, sorria assistindo a cena dos dois, mas hora ou outra voltava os pensamentos da safadeza aprontada por Henrique. Despertou da distração ao ver o carro do namorado estacionado em uma esquina, chovia, a água escorria nas janelas de vidro, mas ela o reconheceu dentro do veículo acompanhado pela outra. Gesticulavam, e sua curiosidade lhe provocava, desejando saber o que conversavam naquele instante. Bruno buzinou para o amigo e seguiu.