sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Feliz ano novo...


2010 vai partindo, e peço com carinho que leve as coisas desagradáveis que acontecerão e que deixe permanecer as lembranças das boas coisas, que não foram poucas. Então, vai 2010, vai com Deus, você foi generoso comigo esse ano, mas também me pregou algumas peças e entendo tudo como aprendizado. Valeu à pena!
Bem vindo 2011... vem com tudo...
E aí vai a minha lista de coisas que desejo que traga para mim e para todos, eu disse todos...

*Luz;
*Paz;
*Amor;
*Saúde;
*Sucesso... muito sucesso... ;)

Valeu à pena, 2010. Mas, acabou seu tempo. Au revoir...
Bem-vindo 2011, e que tudo seja luz e amor esse ano que está nascendo...


terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Meu pequeno sapinho


Capítulo terceiro...

Elis saiu do prédio sem controlar os músculos da face, segurando o choro, engolindo sem sucesso o nó preso na garganta. Seus pés continuavam apressados e a levou para o primeiro ponto de ônibus que viu. Logo surgiu no final da rua uma jaula ambulante, tomou aquela sem mesmo ler o destino, dá voltas de ônibus por ai seria o seu novo e triste hobby naquele dia.

Ocupou um banco de apenas um lugar, trancou-se em seu mundo particular, seria a melhor escolha naquele momento. Esqueceu-se dos rostos dentro do transporte, voltando a atenção para o que vinha além da janela. Já cansados de guardar lágrimas que lutavam para serem derramadas, seus olhos desabafaram a dor que lhe alfinetava. Não deixava de lembrar as palavras trocadas no apartamento.

***

No apartamento Marte desistira de pedir atenção ao pai, ele não o notava. Nino era forçado a refletir pelo arrependimento, apertava na mão o que devia ser uma bolinha ortopédica, distraídos seus olhos alcançavam o mapa preso na parede. Libertou a bolinha e foi ter com o mapa.

-Pronto, está aqui. Elis sorriu marcando com tachinhas a Holanda.

-A Holanda? Você prefere a Holanda amor. Ele marcava Londres, descansando seu braço no ombro da outra. –Vamos à Londres...

-Nino pegamos um trem e de um vamos para outro país! Não passavam de sonhos e planos as marcações por falta das notas verdinhas que poderiam levá-los aos destinos escolhidos. Mas, divertiam-se imaginando viagens como aquelas.

Nino rememorava um dos bons momentos vividos pelos dois naqueles seis meses morando juntos. Deixou o mapa ao perceber o desenho interrompido pela discussão, estava ainda inacabado o tênis abandonado no tapete. Sentou-se com uma das pernas junto ao corpo e tomou nas mãos o all star com o rosto do Bob Marley. Perdeu-se no tempo com o tênis nas mãos admirava cada trabalho da outra, apesar daquele lamentável episódio, apoiavam-se desde sempre. Em seus pés possuía uma recordação de Elis, no último aniversário de Nino ela havia desenhado um sapinho de grandes e alegres olhos e ao lado escrito...

-Meu pequeno sapinho. Sussurrou o carinhoso apelido dado pela namorada.

Olhou além da janela, o céu aos poucos se tornava negro deixando o dia partir. Começara a preocupar-se com a saída de Elis. Tomou nas mãos o telefone, Marte já desperto colara na porta com o focinho encostado na abertura aguardando ansioso o retorno da mãe. Olhar esperançoso em cima da porta enquanto contatava amigos que pudessem lhe dá notícias de Elis. Marte permanecia imóvel na porta, seu focinho gelado buscava o cheiro da mãe por uma mínima entrada de ar.

-Valeu, se ela aparecer por ai me liga. Obrigado! Desligou. Suas buscas não foram vitoriosas, um ar de desânimo sussurrava próximo dele, estava preocupado com o desaparecimento da namorada. Voltou ao chão, ainda o tinha nos pés. Sentou-se meio as tintas e canetas, lamentando em silêncio a desavença.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Maria e João

Maria e João


Maria ninguém

entrou no trem

para Belém.


Ao lado de um desconhecido

sentou-se Maria

sem olhar o bendito.


O trem balançou

ele nela encostou,

ela sorriu, ele se apresentou...


Me chamo João ninguém,

falo com quem?

Maria ninguém.


Maria encontrou João

ou João encontrou Maria,

deixaram de ser ninguém

um ao outro pertenciam.

De volta para o passado


Voltei no tempo esse fim de semana e decidi rever pela milésima não sei quanta vez o filme, “De volta para o futuro” de Robert Zemeckis. Filme de ficção científica não é algo que me atrai para o cinema ou mesmo para frente da tv, mas essa trilogia é uma das exceções na minha lista.

Me lembro de como vir e revir inúmeras vezes esse clássico oitentista na “sessão da tarde” e no “cinema em casa” , atração roubada dos anos 80 para divertir crianças dos anos 90, eu por exemplo.

Mas, voltando ao que interessa mesmo nesse texto. Voltei ao passado esse fim de semana e resolvi assistir a trilogia, agora com um olhar menos leigo em relação a cinema, mas não tão experiente em relação ao assunto. Por tanto, essas linhas é apenas um comentário sobre um filme que revir com outro olhar e me encantei ainda mais.

Em “De volta para o futuro- Parte I” acabei viajando principalmente no figurino das duas épocas relacionadas no filme, anos 80 e 50. Quando partir para o segundo filme da trilogia, apesar de gostar muito mais do primeiro, o “De volta para o futuro- Parte II” me fez boba no sofá da sala.

“Isso é genial”, foi o que eu disse quando já no meio de toda a aventura, Martyn o adolescente desesperado lutando para concertar as coisas no passado, na década de 50, entra na sala do diretor da escola para recuperar o almanaque de esportes que vai salvar toda a sua vida no futuro. Enquanto Martyn por meio do Ok toque avisa ao Dr. Emmet sobre a falha na busca pelo almanaque, por cima do ombro dele, através da janela podemos ver de outro ponto de vista o que aconteceu no filme anterior. Ou seja, o ato de coragem do seu pai o George novo ao brigar com o Biffe e salvar sua mãe. Cena essa vista no filme anterior. Perfeito.

O trabalho de Robert Zemeckis é genial pela perfeição na seqüência, o figurino, os personagens no segundo filme aparecem exatamente como na primeira parte em suas situações.

Outra coisa que me chamou a atenção é algo até cômico, como as pessoas no passado fantasiavam o futuro, esse presente que vivemos hoje. 2015 na parte II de “De volta para o futuro” não chega perto do que vivemos hoje em 2011 e não vamos ver quando 2015 chegar, ano esse que está tão próximo.

A justiça é rápida, carros voam, e apesar do figurino aparecer bem diferente percebi um toque oitentista. Me agradou. Ainda assim, o filme prevê algumas coisas, como a tv LCD na sala do Mcfly velho e ainda a possibilidade de ver vários canais diferentes ao mesmo tempo.

Em “De volta para o futuro- Parte III” Martyn volta ao velho oeste para salvar o Dr. Emmet e a trilogia se encerra depois de encontros com índios e mau feitores.

Tenho lá meus preconceitos com seqüências de filmes, pois o que tem saído para os cinemas ultimamente não tem sido lá essas coisas, em minha opinião. Mas, voltando ao passado podemos encontrar algumas ótimas exceções, e essa é o que podemos chamar de uma trilogia que deu certo.

Me empolguei com essa viajem ao passado oitentista no cinema e agora vou de “Bill e Ted- Uma aventura fantástica”, saudade desse filme.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Meu pequeno sapinho

Capítulo segundo...

Distraia-se com uma canção de melodia doce enquanto dedicava-se a novas formas em mais um all star. Dessa vez o trabalho era ainda mais minucioso, o cliente desejava o rosto do Bob Marley no tênis e precisava chegar o mais próximo que pudesse. Dividia a atenção entre as linhas que marcara no grosso tecido e a fotografia no chão. Suspirou de susto, surpresa ao ver Nino chegar, cruzando a porta e fechando, trajado de desânimo e insatisfação.

-Assim não dá... Cada vez está ficando pior...

Atônita em vê-lo daquele jeito, assistia o nervosismo do outro andando a sala inteira, abandonando bornal no puf, chaves em mesa de centro sem ao menos perceber o suco que descongelava ali, talvez há meia hora, esquecido por Elis.

-Nino...

-Eu não consegui a vaga na empresa Elis, eu contava com isso.

-Calma Nino, eu sei que estávamos animados e seguros com essa vaga, mas se não deu vamos agora partir para outra...

-É sempre assim... Elis eu estou pirando, você na maior parte das vezes está segurando a barra aqui com o que fatura dos tênis, não me sinto o melhor homem dos homens nessa situação.

-Eu entendo Nino, mas...

-Não, não entende nada, ninguém entende. Nino não é capaz de coisa alguma, já dizem aqueles que acham que me conhecem. “Coitado do Nino, sempre tão distante, será que consegue ir longe?”

Sua ironia, explosão de opiniões foram despejadas de maneira grosseira e fria em Elis. Ela deixou seu trabalho de lado, sua razão lhe pedia calma.

-Os dias passam, as oportunidades se espremem até desaparecer e eu continuo sem consegui algo que segure a gente. Não pensamos Elis quando decidimos...

-Pára Nino, pára agora, não quero nem que complete essa frase. Deixou o chão de imediato, havia desabado por dentro com as palavras do outro. -Não acredito que estou ouvindo isso, fala como se tudo o que estamos construindo aqui fosse um planozinho de viajem que deu errado no meio do caminho.

-Elis eu não falei isso, mas precisa entender que é muito sério, você encara as coisas muito simplesmente, não vamos ficar dependendo só de você, eu não quero...

-E isso não vai acontecer, Nino eu não sou nenhuma criança eu levo tudo isso muito a sério não vivo de fantasias, mas não me desespero, não vai nos levar a nada o desespero.

-Desisto de fazer você entender...

A discussão havia tornado-se cada vez mais desagradável, as palavras dele continuavam afiadas, cego pela cabeça quente. Ela respondendo magoada aos bombardeios do outro. Nino sentou-se no puf azul, recolheu do tapete um livro, sem mesmo saber exatamente qual página estava lendo procurava fugir do desentendimento ali naquelas palavras escritas que chegavam confusas e fora de ordem em sua cabeça.

-Isso não pode ser real. Elis falou enquanto observava a indiferença do outro tentando esconder-se naquele livro. - A gente sabia que nada seria sempre fácil, nada na vida é e agora na primeira dificuldade que temos você acredita que não foi a melhor das idéias o nosso espaço, as nossas coisas, nós dois mais próximos...

-Não foi o que eu disse...

-Foi o que me fez entender com seu discurso.

Pegou a bolsa jogada no tapete, saiu em passos apressados sem fechar a porta direito. Nino foi coberto por uma surpresa maior que ele, essa o impediu de mover-se. Seus olhos congelaram por instantes na porta, confusos, arrependidos. Logo os mesmos encontraram Marte sentado em sua frente colocando seus olhinhos quase que questionativos em cima dele. Desde que a desavença havia iniciado Marte observava tudo na platéia, seus olhos eram duas bolas de tênis indo e vindo entre Nino e Elis e suas palavras sem razão.

-Nem me olhe com essa cara...

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Meu pequeno sapinho


Capítulo Primeiro...


Pufs coloridos no canto da sala, uma TV simples quase sempre desligada. Na parede um quadro com um desenho à lápis da Mafalda, ao lado o mundo inteiro revelado no mapa, dois lugares preferidos e ainda desejados marcados com tachinhas.

Esse era o simples lar de Nino e Elis. O desejo por independência e vontade de se unirem de ambos os levaram a juntar malas e escovas de dente em um pequeno apartamento. E assim era há seis meses.

Naquela tarde o sol queimava lá fora. Elis trabalhava sozinha em casa, espalhada no chão da sala, vários pares de tênis all stars descoloridos lhe faziam companhia aguardando a sua vez, cada par, a serem personalizados pelas mãos e imaginação da garota. Tintas e canetas pincéis coloridos eram os seus instrumentos. Com aquelas cores e sua criação os pálidos tênis ganhavam vida.

O sorriso largo e satisfeito estampado no rosto admirava mais um trabalho concluído, faltava pouco para a entrega de uma encomenda, com aquele dinheiro pagariam a água.

-Ficou genial não foi?

Mostrava orgulhosa o tênis ao cachorrinho deitado, descansando a cabeça nas patas. Não reagiu a alegria da dona, continuou ali em sua preguiça movendo apenas os olhos para cima.

-Está na hora, tenho que levar outro tênis, a coisa vai ficar menos preta por aqui Marte!

Pegou outro par de all star já personalizado guardando na caixa, descansou a bolsa no ombro e saiu abandonando a desorganização no meio da sala por uma justa causa.

-Logo o papai chega Marte e não ficará mais só. Beijos da mamãe! Despediu-se do tranqüilo bebê de quatro patas e pêlo de neve.

***

Não demorou muito para a chegada do pai de Marte. O rosto pintado, uma gota de tinta azul abaixo do olho representando uma personagem da alegria, triste. Aquele dia havia sido uma viagem ao tempo, os gritos e puxões das crianças haviam feito a cabeça de Nino, ou melhor, do tio Nino pirar. Largou o Black Power azul em um dos pufs e seguiu para a cozinha, livre das roupas coloridas, mas não do rosto circense. Serviu-se de suco enquanto era seguido pelas patas de Marte, silenciosas e carentes de atenção.

Perdeu-se em pensamentos mirando o piso, logo viu surgir a bola de pêlos que parecia sempre pedir com aqueles olhinhos inocentes.

-Está observando o meu novo disfarce parceiro, será assim mesmo que vou roubar um banco e ainda não me acusaram, pois acreditam que não sou capaz de algo tão grande!

Despejava o desabafo sobre o que o contrariava. Apesar de boa relação com sua família alguns não acreditavam em Nino, em um progresso seu, fosse em sua área de arquitetura ou em qualquer outra coisa. Acho que o Nino não conseguirá! Talvez o Nino não siga em frente com isso! Frases que sempre ouvia a seu respeito em casa de queridos de sangue.

-Querido cheguei! Anunciou a sua chegada ao trancar a porta. Elis trazia no tom de voz uma melodia de alegria, sinal de que mais um negócio havia dado certo.

Nino surgiu na sala, escoltado pelo parceiro pequenino. O sorriso estampado no rosto da outra estava e assim permaneceu ao colocar os olhos na face do namorido. Tentava conter os risinhos que pulavam de sua boca, não queria irritá-lo, imaginava o estresse dele, além do mais conhecia os seus gostos e não era tão fã de circos e palhaços.

-Como foi na festa?

-Deu para sobreviver! Descansou as costas em uma parede vazia enquanto seus olhos seguiam Elis e suas ações.

-Mas acha que...

-Sim, não foi muito, mas foi uma grana legal, não estamos tão mal assim, pelo menos agora!

-Que bom, com o dinheiro de mais um tênis deu para nos livrar da conta de água. Tudo em paz na casa dos mortais. Disse largando a bolsa no puf e foi ter com Nino, seus braços o envolveram e lábios já sem cor lhe tiraram um beijo.

A tinta branca na ponta do nariz e borrões discretos vermelhos próximos a boca de Elis arrancaram risadas de Nino, ela caiu em risos junto ao outro imaginando a obra de arte ultramoderna que estava o seu rosto. Ele deslizava os dedos na face da outra eliminando as manchas de tinta, afastou a franja que cobria a testa revelando uma marca de infância quase invisível.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Oui, oui, je suis romantique. Je me souviens!!!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Agnés, não!

TERCEIRA PARTE

Ele voltou ao petit appartement, percebeu que estava sozinho. Rapidamente com uma passada de olhos e ouvidos atentos não detectou nenhum barulho que denunciasse a presença dela. Trazia consigo um embrulho branco, de dentro fez surgir um tubo com a tampa em formato de spray.

Logo foi ter no canto da porta onde ainda estavam as malditas formigas subindo e descendo, esbarrando-se, encontrando-se e a cada encontro pareciam se comunicar por um segundo. Possuía um olhar não muito amigável em cima daquelas pobres coitadas, estava pronto para dá um fim naquela festa.

Cobriu o nariz e a boca com uma camisa velha esquecida em uma cadeira e começou o massacre das formigas. Assim que espirrou o líquido a primeira vez as pequeninas congelaram entre a madeira da porta e a parede, mesmo aquelas que tentaram fugir não se salvaram da força do veneno e do assassino. Algumas logo foram caindo no chão, já cadáveres, outras ainda ficaram lá grudadas enfeitando o branco da parede.

Finalizou o trabalho, as visitantes indesejadas haviam morrido finalmente. Retirou a camisa que cobria o rosto revelando novamente a sua seriedade, e sentou-se para descansar, só então percebeu que o veneno vazava do tubo e pingava aos poucos em sua calça. Correu até a pia, apressado procurava algo que pudesse ajudar, colocou a mão na primeira coisa que viu, usou uma jarra de suco e despejou todo o líquido.

Sacudiu fora no lixo o tubo vazio e inútil, fez qualquer barulho com a boca revelando seu estresse e foi ter no banheiro.

A chegada dela não foi percebida por ele, entrou silenciosa, a mesma tristeza nos olhos e a garganta arranhando seca. Largou a bolsa na cadeira, pegou um copo e abriu a porta da geladeira. Se decepcionou, não havia água gelada, como também não havia muito que escolher para beliscar, a geladeira estava um deserto só.

Fechou a porta da gorda e vazia geladeira, então percebeu em cima da pia uma jarra de suco com o que lhe parecia ser água dentro. Seria o suficiente para fazer desaparecer sua sede.

Ele deixou o banheiro quando seus olhos a poucos metros da pia se depararam com a cena. Ela levava uma das mãos até a asa da jarra e em um movimento rápido pela sede que a dominava, serviu o líquido incolor em seu copo e em seguida subiu o braço até o mesmo copo quase alcançar a sua boca.

Agnés, não! Ele gritou.

Ela voltou-se para ele deixando escorregar da mão o copo de vidro que se partiu em pedaços no chão molhando seus sapatos pretos. Ele respirava assustado, em sua cabeça rodava um filme e a cena era Agnés morta no chão do apartamento após deixar descer pela garganta o veneno para formigas.

Agnés, a moça da blusa estampada e de sapatos pretos, não possuía os olhos tão tristes de antes. Agora eles cresciam um pouco no rosto, surpresos e mais satisfeitos, afinal o silêncio do outro havia sido rompido e por que ele havia gritado era o que menos lhe importava. Sorriu logo conquistando o sorriso dele.

As formigas partiram e com elas o silêncio atormentador que morava há dias no apartamento.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Agnés, não!

SEGUNDA PARTE

Sentada na varandinha, realmente muito estreita aquela varanda de apartamento minúsculo. Ela observava o nada enquanto ouvia pequenos barulhinhos de lá de dentro, ele decidira mudar as coisas de lugar, as poucas coisas que tinham de lugar. As únicas duas velhas poltronas, a TV que não era ligada há semanas, o tapete velho.

Seus olhos não o encontravam, pois estava de costas para a entrada da varanda, mas sabia que todo aquele barulho era para lhe arrancar a atenção. Eu sabia que ele e seus olhos pequenos observavam os meus cabelos dançar de quando em quando pelo vento que invadia a varanda, sabia que notava a minha blusa estampada de flores amarelas, conhecia os detalhes mínimos, o botão que havia caído e que eu ainda não havia pregado, talvez por preguiça ou esquecimento.

Ele a admirava do lado de dentro do apartamento, os cabelos que subiam e desciam por conta do vento que invadia a varanda de quando em quando, a blusa estampada que ela vestia. Despertou do encantamento misturado ao orgulho quando o telefone tocou, deixou a vassoura que há alguns minutos estava presa em suas mãos e atendeu o aparelho que vibrava louco no bolso.

Tudo bem, eu vou descer, só um minuto. Tchau!

Os ouvidos da outra não deixaram de escutar as palavras breves dele ao telefone. Curiosa não se conteve e voltou-se para a entrada da varanda, o viu sair e a porta bater.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Agnés, não!

PRIMEIRA PARTE

Odiava aquelas formigas subindo e descendo, esbarrando-se entre si no canto da porta. Não sabia como eliminar aquelas visitantes inconvenientes que voltaram desde o fim do inverno, observava de longe enquanto dividia o seu pensamento entre uma solução para aquelas benditas e outra coisa que o atormentava. Serviu-se de café e acendeu um cigarro, era o último da carteira.

Ouviu a porta abrir e fechar, estava de costas, de modo que não a viu entrar, mas sentia a sua presença, o perfume invadiu todo o pequeno apartamento. Trocaram um olhar frio, silencioso, com palavras engolidas. Ele sentou em uma das cadeiras da mesa estreita e ela permaneceu ali parada ainda alguns segundos, até que cansou de olhar para o mudo e percebeu as formigas, uma verdadeira população de formigas na porta. Chegou até a pia pegou o detergente e atacou as formigas com aquele líquido verde, já havia feito aquilo antes e sabia que afastariam elas por alguns minutos, mas logo estariam de volta.

Largou o detergente na mesa e ocupou também uma das cadeiras, estavam um de frente para o outro. Os olhos deles voltaram a se encontrar, mas ele não conseguiu olhar por muito tempo, enquanto ela mantia firme e fixo, quase sem piscar os olhos em cima do outro. Lábios sem sorrisos, fumaça de um cigarro quase no fim rondando ali, e o café frio na xícara. Ela queria o ouvir falar, ele queria a ouvir falar. Nenhum dos dois falaria.

As gargantas pareciam entupidas de palavras que precisavam ser ditas, ofensas precisavam ser retiradas, mas nenhum dos dois falaria.

O relógio na parede deu uma volta e meia hora havia passado, ele levantou, arrastou os pés descalços até a varanda e ficou ali em silêncio, de costas. Ouviu a porta bater novamente, ela partiu.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Euquatro olhos

Eu, quatro olhos. Confesso que em algum momento de minha infância (escrevo isso como se já passasse dos 40 anos, nossa) eu me peguei desejando usar óculos, tudo porque colegas de escola usavam e depois meus primos. Enfim, bobagenzinha de criança.

Há alguns meses voltava da universidade e esperava ansiosa pelo ônibus que só para pirraçar com minha enorme vontade de jantar, não chegava de jeito nenhum. De repente, quando esqueci por um momento a minha espera, surgiu grande e velha a jaula ambulante.

Sabia que era uma das várias carroças em forma de ônibus, mas não tive a certeza de que era a minha jaula. O letreiro eletrônico embaçava e só pude ficar certa de que finalmente partiria quando grande e repleta de gente louca para sair, ela estacionou-se diante de mim.

Estou com problemas para enxergar de longe. Pensei. Desde aquele dia tenho um leve medinho de pegar ônibus errado.

Com o passar dos dias sentir que minha cabeça martelava todo o fim de tarde e as imagens que surgiam diante de meus olhos pareciam telas impressionistas, tudo embaçado.

Eu, quatro olhos. Devo me conformar com essa idéia, difícil, difícil. Eu, quatro olhos e de aparelho, Mon Dieu!

Me rendo, pois, antes usar óculos de vez em quando a adiar e mais tarde de tão prejudicados meus grandes olhos de mangá não poder ler nenhuma linha de um livro.

Providenciar consulta ao oftalmologista! Anotado.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

India Song



Chanson,Toi qui ne veux rien dire

Toi qui me parles d'elle et toi qui me dis tout,

Ô toi, Que nous dansions ensemble

Toi qui me parlais d'elle, D'elle qui te chantait

Toi qui me parlais d'elle ,de son nom oublié

De son corps, de mon corps ,de cet amour là De cet amour mort

Chanson,de ma terre lointaine

Toi qui parleras d'elle, maintenant disparue

Toi qui me parles d'elle, de son corps effacé ,de ses nuits, de nos nuits

De ce désir là, de ce désir mort

Chanson,Toi qui ne veux rien dire

Toi qui me parles d'elle et toi qui me dit tout

Et toi qui me dit tout...


(Letra de Marguerite Duras)

Postagem N°105- Nota sobre a violência contra a mulher

Essa manhã, li em um dos jornais locais sobre o assassinato de uma garota de apenas 13 anos. O motivo, o namorado com ciúmes foi contra a participação da menina em um concurso de beleza na escola. Resultado: a menina assassinada a facadas pelo próprio namorado.

Não preciso falar que achei um absurdo esse fato. O machismo, o sentimento de posse desse rapaz sobre essa menina. Alguns homens ainda insistem na velha idéia de que a mulher deve servir a ele e viver para ele, andar conforme ditam as suas palavras.

Em Aracaju, no Departamento de grupos vulneráveis na maioria das queixas realizadas pela mulher os agressores são os seus próprios companheiros, e algumas dessas mulheres ao chegar à delegacia não desejam a prisão do marido e sim que a delegada converse com o cidadão para que seu relacionamento seja salvo, melhore. Essas mulheres são dependentes financeiramente e emocionalmente desses homens, isso atrapalha, pois elas continuam suportando aquelas agressões, aquela vidinha de tapas e humilhações, muitas vezes por medo da solidão e, além disso, por depender do outro para vestir e comer.

É triste que ainda existam mulheres que pensem assim e continue levando uma vida tão sofrida por uma ilusão, pois que amor é esse que espanca, que mata? É triste que ainda existam mulheres que deixem de pensar em seu futuro para viver a vida do outro. É inadmissível o machismo e atitudes como essas, um modo tão antigo de se pensar.

sábado, 27 de novembro de 2010

Livre


Me sinto velha, às vezes, principalmente quando me imagino distante do mundo em que vivo, diferente de tudo, de todos. Então os meus olhos parecem pesados na face envelhecida, cansada, como se já tivesse vivido vinte anos a mais do que tenho. Mas, ultimamente essa sensação de velhice me esqueceu e não tem me visitado. Agradeço, fique onde está!

Transformou-se em pó aquela vontade de entrar em um trem e desaparecer por um tempo, viajar em trilhos desconhecidos e distantes. Nasce a vontade de encontrar todos ao mesmo tempo e com todos dividir tudo, conhecer un peu de choses e rir juntos.

Me lembro da vontade que me dava de me atirar no mar de vez em quando, não com intenção suicida, mas procurando um pouco de liberdade, sei lá, mesmo que por pouco tempo. Longe do barulho de tudo, todos, das cobranças, das perguntas quando na verdade só queria um pouco de silêncio.

Me sinto distante dessa vontade, sim, ainda tenho vontade de me atirar no mar, mas só isso. Sinto que as coisas mudaram de uns dias para cá, e me deixa contente.

Ando contente. Apesar das palavras de ofensas e toda a água de mágoa que me cercou há dias atrás, me permito esquecer, pois sei que as coisas não voltam a ser como eram, quando uma casa cai, ela nunca é reconstruída da mesma maneira, mas não significa que não ficará de pé novamente. Por isso ainda ecoa em minha cabeça as palavras sabias que ouvir de alguém dias atrás: “Não vale à pena”. O tempo passa e é melhor seguir.

Os domingos. Nossa os domingos, aqueles dias tão tristes, eles mudaram um pouco, já não são desertos e sem sorrisos como antes, um novo círculo me leva, ás vezes, e os encontros simples de boas risadas e conversas, um pouco de tinto. Na verdade é preciso confessar que invadir certo grupo de amigos e como fui bem acolhida, desde já agradeço a ótima recepção meus queridos!

Acho que finalmente cresci. Começo a entender que pessoas são apenas pessoas e me descubro igual a elas de duas maneiras: As pessoas têm lados bons e ruins. Preto e branco. Não somos de todo mal e nem somos de todo bem.

Entendo melhor que nem todos podem pensar como eu, que existem os que desejam viver a vida dos outros e aqueles que desejam viver suas vidas. Eu estou nesse último grupo e preciso entender o primeiro para continuar próxima das pessoas que gosto.

Me sinto livre finalmente, livre de mim mesma, de um tempo longo que passei apenas eu e eu e momentos estranhos na minhas costas. Me sinto livre e terei essa certeza a cada dia que o sol vier e partir novamente.

Li em algum lugar certo dia, recentemente: “Tenho dezenove anos, é tempo de fazer alguma coisa. Talvez eu tenha medo demais, e isso chama-se covardia”.

Viverei mais, farei mais parte do mundo em que todos vivem.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Momento Espanca: "Eu"

Eu ...

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho,e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!

(Florbela Espanca)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Do texto : "Em busca de um novo rumo"








"Na linguagem dos símbolos, a âncora, definindo a esperança, nunca poderá valer as asas, que são a libertação. A âncora agarra-se ao fundo e fica, as asas abrem-se no espaço e penetram no céu. Seria aviador! E foi."

(Florbela Espanca)


Melhor voar então...

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A Grande Pedra

Mania dos tímidos de acreditar que o mundo gira ao seu redor. Assim era ele. Silencioso e de imaginação extremamente fértil.

Imaginava, construía um mundo inteiro em sua mente. Entrou em um ônibus no meio da tarde, era uma daquelas tardes escaldantes de sol, quando o ônibus ferve feito caldeirão. Entrou, olhou os rostos de todas aquelas pessoas conversando, e ocupou um lugar vazio. A desconfiança era a sua marca de nascença, como um sinal nas costas, no peito, por todos os lados.

Ali bem próximo, dentro do ônibus havia uma moça. Ela usava óculos escuros, daqueles que cobrem todo o olho e um pouco da testa, os famosos óculos no estilo besourão. Ela cochichava com a amiga ao lado, entre risos discretos. A segunda olhou para ele enquanto ainda mantia o riso de um comentário engraçado.

Cismou. Foi o suficiente para que em poucos segundos escrevesse o roteiro daquela história. Pensava se estava com alguma mancha no rosto, havia acabado de trabalhar com tintas, depois ainda se havia algo errado com seu cabelo. Mas, do que é que estão rindo?Odeio pessoas indiscretas, nem na hora de fazer comentários sobre os outros conseguem disfarçar. Conversava consigo mesmo, acreditava que falavam dele.

Não sabia mais como se colocar ali naquele assento estreito, desviou a atenção para além da janela, naquela idéia de que “o que os olhos não ver o coração não sente”, mas foi inútil. Sua neura só lhe deixou em paz quando ouviu forte o sinal de parada e os passos do salto alto desceram. Relaxou.

***

Era uma amanhã doce, um friozinho agradável passeava pela cidade quando ele deixou a casa para mais um dia de trabalho. Trabalhava em uma loja de CDs, o que era esquisito, pois que, nos tempos em que estamos quem compra CDs?

De vez em quando um ou outro evangélico catando um cd gospel ou uma noveleira de plantão procurando o novo cd internacional da novela global com a Ximenes na capa. Mas, naquela manhã foi diferente.

Uma moça cruzou a entrada a entrada da loja, trajando um vestido e tênis. Dois colegas dele logo se colocaram a disposição para atender a garota, mas apenas um o fez, enquanto ela entre uma palavra e outra lançava uns olhares discretos para o balcão onde estava o nosso personagem.

Ele havia notado a moça e seu tênis xadrez assim que ela atravessou a entrada, mas a pedra, a grande pedra não lhe permitiu observá-la por mais uma vez. Nem percebeu que ela não parava de admirá-lo de longe, enquanto seu colega a atendia com todo o interesse de um rapaz ousado.

Decidiu então por um cd do Nelson Gonçalves, disse que era para seu avô que estava fazendo aniversário, deixou o atendente e foi até ao caixa. Primeiro contato com o tímido do balcão.

Ela sorriu, ele também. Mecanicamente foi registrando a compra da moça e fazendo seu trabalho, com a pedra lhe matando a coragem de dizer um, olá, com mais interesse e naturalidade.

Obrigada! Ela lhe disse com um sorriso agora mais contido e se foi. Ele então pôde observá-la com mais coragem, quando ela já não podia perceber. Seus colegas sem entender nada daquela cena aproximaram-se todos de uma só vez em cima do caixa, perguntavam o que aconteceu, por que ele não aproveitou para conversar mais com a moça do tênis xadrez. A pedra não deixou. Respondeu.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Sobre crianças de rua

Há mais ou menos um mês voltava do trabalho para casa quando me chamou a atenção uma cena silenciosa e bonita. O cenário era a Avenida Rio Branco (Rua da frente), no centro da cidade, o céu estava incrivelmente azul e o sol brilhava como nunca.

Os principais personagens dessa cena eram duas crianças de rua, sentados de frente para o rio naquele muro de proteção conversavam tranqüilos, sorrindo. Era como se esquecessem de toda a miséria que os cercam. Essa cena flutua até hoje em minha memória, vi tudo aquilo rapidamente através da janela de um ônibus, mas foi como se estivesse assistindo a um filme feliz sobre crianças sorrindo.

Desde aquele dia comecei a pensar na situação dessas crianças que vivem nas ruas, e como se caído do céu, encontrei em um sebo o livro “Tô Vivu- Histórias dos meninos de rua” de Maria Avelina de Carvalho. Esse livro foi a tese de mestrado da autora e também uma denúncia das condições de vida que levavam as crianças de rua de Goiânia entre os anos de 1987 e 1988.

Os meninos de Avelina, como ela mesma se refere às crianças em seu livro, “os meus meninos”. Essas crianças são as mesmas que vi outro dia observando o rio, são aquelas nas ruas de São Paulo, são todas as crianças que vivem nas ruas nesse país, e que são ignoradas, esquecidas e violentadas, humilhadas, exploradas, por essa sociedade. E o problema está na falta de estrutura familiar, na péssima educação escolar pública, principalmente, que tem esse país e na falta de uma reabilitação adequada nas instituições responsáveis.

O que essas crianças precisam não é de paternalismo, nem de nossos olhares de pena, esses olhares que ao mesmo tempo em que sente pena, ignoram a existência deles. Eles necessitam de algo que todo mundo sabe e finge não saber, aqueles que estão no poder sabem e continuam sem nada fazer pela educação, principalmente para que eles sintam-se motivados a crescer.

Ninguém nasce marginal, a sociedade que ignora, maltrata, revolta e os transformam em tal. O roubo, a violência, é a forma de se vingarem ou de sentirem-se importantes, mostrar que existem que estão ali e que precisam ser vistos.

Um forte exemplo foi o fato ocorrido no Ônibus 174 no ano 2000, quando Sandro que também foi um menino de rua, aterrorizou passageiros e chamou atenção do Brasil inteiro. Ele que antes estava à margem, naquele momento tornou-se o protagonista, usando da violência desejava mostrar que estava ali, que existia e que precisava ser reconhecido.

Essas crianças precisam ser respeitadas, tem direito a casa, trabalho, a VIDA, como todos.

Em um dos registros de Maria Avelina em “Tô Vivu”, ela escreve sobre o nascimento da filha de uma menina de rua de apenas 15 anos: “Por enquanto quero dizer que nasceu uma luz, uma esperança. Quem sabe nasceu um novo tempo?”

A autora escreveu essas linhas em 1988, estamos em 2010 e podemos ver que o sonho da Avelina infelizmente não se tornou realidade.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Pensando...

Como é que faz quando queremos mudar coisas na gente? Aqui dentro, internamente. Como é que faz quando não estamos satisfeitos com certas atitudes, manias e vícios já enraizados em nós e sentimos a necessidade de se livrar de tudo isso. De todas essas coisas que não nos servem mais?

Nos desconstruímos e aprendemos um novo jeito de ser desde o início?

Não prometerei nada para mim mesma, pois sei que quando se trata de manias e atitudes antigas, sabe-se lá o que vem amanhã, mas tentarei eliminar todas essas coisas que me incomoda e que me pertencem.

Se não entendeu não tem problema. Existem coisas que não precisam ser explicadas, apenas sentidas.

domingo, 24 de outubro de 2010

Como nos velhos tempos...




Sempre digo que não gosto dos domingos porque eles são tristes. Mas, para esse domingo não poderia usar essa frase.

Me sentir feliz de ver minha família, aquela velha família sem pai e sem mãe, como costumamos dizer, reunida novamente como nos velhos tempos. Aquelas risadas, um bom filme, algumas novidades. Foi bom sentir que mesmo por algumas horas você voltou pra gente. Poucos sabem o quanto isso significa pra mim. J

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

"Cine, Cine" - Luis Eduardo Aute

Não poderia deixar de postar essa linda canção que achei por um acaso em homenagem a Truffaut . j'adore!!!


Canción de Luis Eduardo Aute "Cine, Cine"

Recuerdo bien
aquellos «cuatrocientos golpes» de Truffaut
y el travelling con el pequeño desertor,
Antoine Doinel,
playa a través,
buscando un mar que parecía más un paredón.
Y el happy-end
que la censura travestida en voz en off
sobrepusiera al pesimismo del autor,
nos hizo ver
que un mundo cruel
se salva con una homilía fuera del guión.

Cine, cine, cine,
más cine por favor,
que todo en la vida es cine
y los sueños,
cine son.

Al fin llegó
el día tan temido más allá del mar,
previsto por los grises de Henri Decae;
cuánta razón
tuvo el censor,
Antoine Doinel murió en su «domicilio conyugal».
Pido perdón
por confundir el cine con la realidad,
no es fácil olvidar Cahiers du cinéma,
le Mac Mahon,
eso pasó,
son olas viejas con resacas de la nouvelle vague.


C'est beau...

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

"Criança, a alma do negócio"


Essa semana, por conta do dia das crianças eu tive acesso a um documentário interessantíssimo da cineasta Estela Renner, “Criança, a alma do negócio”. Estela em seu doc. faz uma reflexão sobre a publicidade direcionada ao público infantil brasileiro.

Apesar de não ser mãe ainda e por desejar ser um dia, esse assunto me chamou bastante atenção e me fez pensar um pouco em como a publicidade vem sendo cruel no momento em que usa das crianças para lucrar com seus produtos.

Estamos vivendo um tempo em que os pais trabalham muito na intenção de dar o melhor a seus filhos, em educação, saúde, lazer, etc. e acabam deixando o papel de criar para a babá. Enquanto eles batalham, suas crianças passam a maior parte do tempo na companhia daquela que desde cedo é transformada em sua “amiga”, a TV. É com a TV que essas crianças passam a maior parte de seu dia e tem sido ela que vem “educando” esses pequenos.

O que preocupa é essa “educação” que a mídia vem dando aos seus filhos e aos meus primos e que pode vir a dar a minha afilhada daqui á pouco. Afinal, que tipo de educação é essa que ensina a criança a ser consumista, que incentiva a competição entre elas ao invés de ajudar no desenvolvimento do senso critico deles que são o futuro desse país? Desconstruindo a verdadeira infância, correr, brincar, como fizemos um dia, como os nossos pais também fizeram.

O que me faz pensar em como os brinquedos mudaram, pois me lembro de minha mãe contar que em sua infância fazia bonecas até com pequenos sabugos de milho para brincar, meus tios jogavam pião e bola na rua. Hoje os brinquedos são outros, a informática é pesada, games com internet fazem sucesso entre os meninos, enquanto as meninas vêem suas bonecas não mais como filhas, mas como projeções, como modelos a serem seguidos, desejam ser “princesa”. Deseja passar tardes em salões de beleza, usar maquiagens, e o resultado de tudo isso é a erotização infantil.

A mídia que sempre ditou suas regras, modo de comportamento em nossa sociedade, não tem perdoado nem as inocentes crianças. Ensina a elas a regra “ter para ser aceito” desde cedo. Se para nós adultos o está relacionado a determinado grupo social, o ser aceito por determinado grupo é importante, imagina para uma criança de sete, oito anos, o que é isso? E ainda, além de “ter” é ensinado que é necessário “ter mais”, não para brincar e sim para o ser melhor, o prazer de ter o que o outro não tem.

Se você é ou não pai ou mãe, indico esse documentário. Se alguns publicitários e donos de empresas para as quais esses profissionais trabalham, estão mais preocupados com o aumento de seu lucro e pouco se importam com a educação passada para as crianças deste país, então é preciso que façamos alguma coisa.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A primeira rosa


Meu primeiro curta ehehehe

"La prémiere rose"

J’ai reposé en sont coeur ouvert pour moi

Entouré dans ses bras nos poumon remplis et sechés d’air

En une valse presque parfaite

Les mains qui glisseaient dans mon corps encore en découverte

On c’etaient les mains de Marin connaîsseur d’autres mers.

Il a baisé ma bouche

Il m’ambrassé

Chaque mouvement de toi vers moi était une marque

Que jê n’ai voulu laisser s’éteindre

Mes pieds gelaient

Mon corps brûlait

Mes larmes qui plongaient doucement dans ma peau

C’etait la douleur de la prémiere rose

Mon prince, amant

Nous avons été presents et maintenent passes

Éteint de ma mémoire pour toujours.

(Luciana Oliveira)

Avec Jules

Era tarde, passava da meia-noite. Os olhos dela pesavam de sono, havia sido despertada por um sonho ruim, caia de um abismo quando foi salva por um susto que a fez acordar.

Deu algumas voltas pela casa, do quarto para o banheiro onde lavou seu rosto, do banheiro para a cozinha onde da geladeira tirou um pouco de água, da cozinha para a sala.

Olhou além da janela ainda no escuro que forrava o apartamento, e como brilhavam as luzes da cidade. Postes, faróis de carros calmos, livres do trânsito nervoso conhecido da luz do dia.

Voltou para o silêncio do interior da sala, acendendo logo a luz, querendo se livrar daquele escuro como se ele a levasse de volta ao pesadelo do abismo. Ainda havia sono nos olhos, mas ela não queria obedece-los.

Sentou-se na poltrona, copo vazio. O quadro estava lá na parede, o rosto de Jules diante dela, a observando com a mesma expressão doux de sempre. A hipnotizou de maneira que se levantou da poltrona, largou o copo no chão sem mesmo se dar conta do que fazia.

Aproximou-se do quadro com uma das mãos preparada para tocá-lo, os dedos dançavam no ar, calmos, fez que tocaria a textura em forma de rosto masculino, mas não o fez, não teve coragem.

Ficou ali por alguns segundos admirando, se perdendo no castanho que dava vida a aqueles olhos. Imaginando que “Jules tinha de ser real”. Voltou para poltrona sem consciência desse ato. Voava a nossa personagem, duelava com o sono enquanto ele parecia crescer dentro dela.

O aroma quadrado flutuava forte na sala de estar, podia sentir passear por sua narina aquele cheiro agradável. O perfume de Jules, simples, marcante, quadrado. Fechou e abriu os olhos, diante deles surgiu uma imagem embaçada, talvez pela sonolência. O rosto de Jules estava mais próximo, o tom de sua pele parecia mais vivo, os olhos que antes eram castanhos possuíam um tom ainda mais claro.

Sentiu os lábios de um avermelhado vivo lhe tocar as costas de uma das mãos, de repente um sorriso desenhou-se nos lábios dele e ela nada conseguiu falar. Jules era um homem cortês.

Aquela era uma visita silenciosa, mas não havia o que dizer apenas sentir, e sentia uma alegria tomar conta aos poucos de seu ser.

Ele a levou para ver o mundo fora do apartamento, a noite tornou-se dia. Os olhos dela pegaram-se assustados por um momento quando encontraram o novo mundo que parecia ter sido construído, ou pintado da noite para o dia. Sim pintado, pois que tudo agora possuía cores bem mais vivas, os carros eram mais negros, as pessoas e suas peles em tons mais fortes. Quando atravessou a porta de braços casados com Jules, estava passando para um mundo surreal. Que mundo feliz!

Apenas sorriam um para o outro, era como se aquele fosse um novo idioma, podiam entender o que desejavam, para onde seus passos os levariam. Seguiram pelas calçadas limpas até um jardim no fim da rua, um lugar que ela jamais havia prestado atenção quando passava todas as manhãs no começo das atividades de seu dia.

Botões de rosas vermelhas, bem cuidadas, moravam ali naquele jardim, logo ela ficou encantada com todas elas e o perfume que embriagava quem passasse por perto. Uma das rosas foi eleita pelo homem cortês a mais bonita e digna de sua querida, a presenteou e finalmente ela pode sentir que gosto possuía os lábios de Jules, eram doux como ele e certamente como sua voz deveria ser, essa que continuava mistério para ela.

Aquele momento pintado por um artista desconhecido estava preste a ser desmanchado por uma chuva repentina e malvada. O céu azul foi coberto por nuvens pesadas, com pinceladas de um cinza muito forte, e sem ao menos esperar que ela voltasse a abrir os olhos e encontrasse os castanhos de Jules, a chuva veio com toda a força e poder de destruição que tem sobre a tinta e aos poucos Jules e seu mundo surreal desapareceram. A tinta misturava-se a água da chuva e o belo das cores vivas perdeu seu brilho.

Abriu finalmente os olhos, parecia confusa. A noite estava iluminada por postes e carros que transitavam sem pressa de chegar a qualquer que fossem os seus destinos. O que estava fazendo na rua àquela hora, de pés descalços? Não soube responder. Voltou às pressas para o apartamento, encontrou a porta aberta e na parede ainda solitário o rosto de Jules e uma mancha no canto esquerdo de sua testa.