terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Meu pequeno sapinho


Capítulo terceiro...

Elis saiu do prédio sem controlar os músculos da face, segurando o choro, engolindo sem sucesso o nó preso na garganta. Seus pés continuavam apressados e a levou para o primeiro ponto de ônibus que viu. Logo surgiu no final da rua uma jaula ambulante, tomou aquela sem mesmo ler o destino, dá voltas de ônibus por ai seria o seu novo e triste hobby naquele dia.

Ocupou um banco de apenas um lugar, trancou-se em seu mundo particular, seria a melhor escolha naquele momento. Esqueceu-se dos rostos dentro do transporte, voltando a atenção para o que vinha além da janela. Já cansados de guardar lágrimas que lutavam para serem derramadas, seus olhos desabafaram a dor que lhe alfinetava. Não deixava de lembrar as palavras trocadas no apartamento.

***

No apartamento Marte desistira de pedir atenção ao pai, ele não o notava. Nino era forçado a refletir pelo arrependimento, apertava na mão o que devia ser uma bolinha ortopédica, distraídos seus olhos alcançavam o mapa preso na parede. Libertou a bolinha e foi ter com o mapa.

-Pronto, está aqui. Elis sorriu marcando com tachinhas a Holanda.

-A Holanda? Você prefere a Holanda amor. Ele marcava Londres, descansando seu braço no ombro da outra. –Vamos à Londres...

-Nino pegamos um trem e de um vamos para outro país! Não passavam de sonhos e planos as marcações por falta das notas verdinhas que poderiam levá-los aos destinos escolhidos. Mas, divertiam-se imaginando viagens como aquelas.

Nino rememorava um dos bons momentos vividos pelos dois naqueles seis meses morando juntos. Deixou o mapa ao perceber o desenho interrompido pela discussão, estava ainda inacabado o tênis abandonado no tapete. Sentou-se com uma das pernas junto ao corpo e tomou nas mãos o all star com o rosto do Bob Marley. Perdeu-se no tempo com o tênis nas mãos admirava cada trabalho da outra, apesar daquele lamentável episódio, apoiavam-se desde sempre. Em seus pés possuía uma recordação de Elis, no último aniversário de Nino ela havia desenhado um sapinho de grandes e alegres olhos e ao lado escrito...

-Meu pequeno sapinho. Sussurrou o carinhoso apelido dado pela namorada.

Olhou além da janela, o céu aos poucos se tornava negro deixando o dia partir. Começara a preocupar-se com a saída de Elis. Tomou nas mãos o telefone, Marte já desperto colara na porta com o focinho encostado na abertura aguardando ansioso o retorno da mãe. Olhar esperançoso em cima da porta enquanto contatava amigos que pudessem lhe dá notícias de Elis. Marte permanecia imóvel na porta, seu focinho gelado buscava o cheiro da mãe por uma mínima entrada de ar.

-Valeu, se ela aparecer por ai me liga. Obrigado! Desligou. Suas buscas não foram vitoriosas, um ar de desânimo sussurrava próximo dele, estava preocupado com o desaparecimento da namorada. Voltou ao chão, ainda o tinha nos pés. Sentou-se meio as tintas e canetas, lamentando em silêncio a desavença.

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