sábado, 25 de dezembro de 2010

Meu pequeno sapinho

Capítulo segundo...

Distraia-se com uma canção de melodia doce enquanto dedicava-se a novas formas em mais um all star. Dessa vez o trabalho era ainda mais minucioso, o cliente desejava o rosto do Bob Marley no tênis e precisava chegar o mais próximo que pudesse. Dividia a atenção entre as linhas que marcara no grosso tecido e a fotografia no chão. Suspirou de susto, surpresa ao ver Nino chegar, cruzando a porta e fechando, trajado de desânimo e insatisfação.

-Assim não dá... Cada vez está ficando pior...

Atônita em vê-lo daquele jeito, assistia o nervosismo do outro andando a sala inteira, abandonando bornal no puf, chaves em mesa de centro sem ao menos perceber o suco que descongelava ali, talvez há meia hora, esquecido por Elis.

-Nino...

-Eu não consegui a vaga na empresa Elis, eu contava com isso.

-Calma Nino, eu sei que estávamos animados e seguros com essa vaga, mas se não deu vamos agora partir para outra...

-É sempre assim... Elis eu estou pirando, você na maior parte das vezes está segurando a barra aqui com o que fatura dos tênis, não me sinto o melhor homem dos homens nessa situação.

-Eu entendo Nino, mas...

-Não, não entende nada, ninguém entende. Nino não é capaz de coisa alguma, já dizem aqueles que acham que me conhecem. “Coitado do Nino, sempre tão distante, será que consegue ir longe?”

Sua ironia, explosão de opiniões foram despejadas de maneira grosseira e fria em Elis. Ela deixou seu trabalho de lado, sua razão lhe pedia calma.

-Os dias passam, as oportunidades se espremem até desaparecer e eu continuo sem consegui algo que segure a gente. Não pensamos Elis quando decidimos...

-Pára Nino, pára agora, não quero nem que complete essa frase. Deixou o chão de imediato, havia desabado por dentro com as palavras do outro. -Não acredito que estou ouvindo isso, fala como se tudo o que estamos construindo aqui fosse um planozinho de viajem que deu errado no meio do caminho.

-Elis eu não falei isso, mas precisa entender que é muito sério, você encara as coisas muito simplesmente, não vamos ficar dependendo só de você, eu não quero...

-E isso não vai acontecer, Nino eu não sou nenhuma criança eu levo tudo isso muito a sério não vivo de fantasias, mas não me desespero, não vai nos levar a nada o desespero.

-Desisto de fazer você entender...

A discussão havia tornado-se cada vez mais desagradável, as palavras dele continuavam afiadas, cego pela cabeça quente. Ela respondendo magoada aos bombardeios do outro. Nino sentou-se no puf azul, recolheu do tapete um livro, sem mesmo saber exatamente qual página estava lendo procurava fugir do desentendimento ali naquelas palavras escritas que chegavam confusas e fora de ordem em sua cabeça.

-Isso não pode ser real. Elis falou enquanto observava a indiferença do outro tentando esconder-se naquele livro. - A gente sabia que nada seria sempre fácil, nada na vida é e agora na primeira dificuldade que temos você acredita que não foi a melhor das idéias o nosso espaço, as nossas coisas, nós dois mais próximos...

-Não foi o que eu disse...

-Foi o que me fez entender com seu discurso.

Pegou a bolsa jogada no tapete, saiu em passos apressados sem fechar a porta direito. Nino foi coberto por uma surpresa maior que ele, essa o impediu de mover-se. Seus olhos congelaram por instantes na porta, confusos, arrependidos. Logo os mesmos encontraram Marte sentado em sua frente colocando seus olhinhos quase que questionativos em cima dele. Desde que a desavença havia iniciado Marte observava tudo na platéia, seus olhos eram duas bolas de tênis indo e vindo entre Nino e Elis e suas palavras sem razão.

-Nem me olhe com essa cara...

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