terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sorriso largo no rosto



Uma manhã que nasce de sol lindo no céu azul, apesar de escaldante calor. E lá vou eu pisando no chão molhado da chuva da noite passada. Fone de ouvido e a trilha sonora que eu escolhi pra mim, para o episódio do meu dia.



Sentindo nada, nem dor, nem sono, nem falta, nada, apenas respiração que vem de dentro subindo, subindo e me traz um sorriso, sei lá porque, mas é bom e é assim, simples, sem motivo.



Otimismo demais? Sei lá. Talvez alguns ainda me julguem falsa-feliz tentando disfarçar tristeza. Mas, decidi ser feliz todos os próximos dias da minha vida, pra quê estressar tão cedo se ainda temos as próximas horas do dia para tapar os buracos com calma, resolver as pendências, visitar a família, pegar ônibus cheio, etc.? Por que reclamar tanto se sou tão jovem e com tão boa saúde? Não há por que. Por que não segurar a onda e respirar quando o mundo ameaçar cair e tentar resolver tudo numa boa? Pois é, foi isso que escolhi pra mim.



Sorriso largo no rosto, na alma, no fígado, no rim, como eu puder sorrir irei sorrir, pelo menos tentar, porque tentar não paga, mas ajuda muito. (risos) E se o céu é azul e lindo eu serei também, linda e feliz, porque passado e dor tá fora de moda baby e eu quero evitar rugas e não quero morrer estressada do coração, não mesmo. Hahahaha.


sábado, 16 de julho de 2011

Curta-metragem: Sorriso largo no Rosto ;)


Uma garota sente uma alegria imensa dentro si. Paz de espírito? Livre de si mesma? Livre dos seus medos?

terça-feira, 14 de junho de 2011

Uma paixão, uma arma e la putana

Parte IV


Não tinha notícias de Henrique, desde a noite em que o expulsou de sua porta. E não fazia questão de saber, estava cheia das confusões dele, e ter sacado uma arma em sua frente havia sido a gota d’água.

Estava concluindo o ensino médio, era um ano decisivo para a garota. Naquela tarde assistia a uma aula de geografia e viajava em coisas nada haver com o mapa-múndi, pensava em como diria a sua mãe que pretendia ir embora da cidade no fim do ano, e já imaginava a despedida de seus amigos.

O sinal tocou chamando os alunos para um intervalo, cortando a empolgação da professora de geografia. Os alunos deixaram os livros e saíram rapidamente da sala de aula, Maria não fez diferente, foi ter na lanchonete com Lúcia. E foi lá que recebeu a ligação desesperada de dona Lourdes, mãe de Henrique. Chorava ao telefone descrevendo a destruição que o filho fez em casa, e a sua partida sem destino.

-          Pode deixar dona Lourdes, que eu sei bem onde esse vagabundo deve estar... Não chora, pois o Henrique não merece metade das lágrimas da senhora. Até mais dona Lourdes, fica bem.

***
Manhã de sábado, o sol iluminava a pequena cidade alagoana que estava movimentada por conta da feira livre. Homens gritando, anunciando os seus produtos, a carne que sangrava na mesa imunda, frutas frescas, donas de casas enfeitadas com bobis na cabeça e puxando os carrinhos de metal onde guardavam as compras para o almoço.

No meio da feria estava Maria. Carregava consigo uma expressão nada amigável, olhos alertas. Procurava uma casa, conferia de quando em quando um endereço no papelzinho em sua mão. Finalmente, a poucos metros encontrou, e foi ter na casa verde. Diminuiu os passos e parou diante da casa, conferindo ainda uma vez o endereço, era ali, não havia dúvidas. O portão estava aberto, abriu cuidadosamente, mas um pequeno ruído foi inevitável, não se deu o trabalho de fechar e aproveitou que a porta também estava entreaberta e adentrou na casa.

Henrique, sentado no sofá assistia TV, as pernas descansavam esticadas em um banco. Em uma das mãos uma cerveja e no rosto uma expressão assustadora de surpresa ao ver Maria diante dele. Saiu de sua postura largada, enquanto Maria desligava a TV e do corredor surgia a La putana com quem ele estava morando.

-          O que está fazendo aqui minha amiga?
-          Vai, pega tuas coisas e vamos embora Henrique...
-          Quem é você vagaba? La putana, mexia a cabeça e o corpo enquanto indagava com as mãos na cintura. Possuía uma valentia impressionante, mas não maior que a ousadia de Maria.
-          Diz para essa aí não falar comigo.
-          Mas, você está na casa dela...
-          Olha aqui Henrique, eu não tenho tempo pra conversinhas...
-          Você pensa que manda em mim ô garota...
-          Mas, eu mando mesmo. Pega logo suas coisas e vamos embora. Tua mãe me telefonou Henrique, como é que você apronta uma coisa dessas pra ela, derrubou tudo em casa e depois vem morar nesse muquifo?
-          Mas, você é muito ousada...

La putana armou-se de violência e voou em cima de Maria, que rápida colocou os braços para proteger seu rosto. Henrique agarrou a La putana arrastando ela para um canto da sala, Maria aproximou-se deles com olhos grandes.

-          Chega, eu não vim aqui para trocar tapas com uma mulher como você por causa de um tipo como Henrique. E você Henrique, pegue suas coisas e vamos embora, estou esperando lá fora.
Maria ajeitou a camisa amassada pela confusão, os dedos penetraram nos fios dos cabelos, colocando-os para trás. Deixou a casa.

Henrique soltou a La putana, pensava com as mãos na cabeça dando voltas pela sala. Ela ainda tinha raiva, suas mãos tremiam e sua boca não parava de soltar palavras sujas. Henrique entrou pelo corredor em direção ao quarto e voltou com o tênis na mão e a mochila nas costas, deixando a outra sem acreditar no que via. Resmungou: - Você é um pau-mandado mesmo, não acredito que vai com essa mimada saf...

-          Hey, chega. Nada de palavrões com ela. Eu vou embora.

Foi ter com Maria na porta da casa, ela olhava para o relógio no pulso quando viu os pés dele descalços ao lado dos seus. 

-          Antes que confunda as coisas, saiba que vim aqui por causa da sua mãe, e tão cedo não quero ver você no meu caminho e tão cedo não quero ouvir falar se você andou aprontando.

Caminharam juntos e o silêncio os acompanhou.







segunda-feira, 13 de junho de 2011

Sem título, porque me falta imaginação...



Como era ansiosa, seus dedos tremiam em sincronia com um não sei o quê que sentia no peito. Na cabeça flutuavam todas as idéias, planos, desejos que guardava e precisava trazer para o real, mas o tempo era o muro mais alto, o concreto mais duro e impiedoso, não chegava a ser um inimigo, mas uma pedra no caminho.

Acreditava que no dia seguinte acordaria mais calma, as idéias seriam organizadas como em um calendário e tudo ficaria sobre o seu controle, assim fácil. Iludida. A manhã nasceu e ao abrir os olhos sentiu todo aquele incomodo do dia anterior. Respirou e deixou a cama com toda a coragem que roubava de dentro do corpo e achou esquisito o escuro, perguntava-se onde estava a luz do sol que sempre entrava pela fresta da janela incomodando os seus olhos.

Nos lábios um sorriso, resposta do céu cinza lá fora e da chuva que caia fraquinha trazendo um vento fresco. – Talvez uma música... e um café também. Sussurrou para si mesma. Morava sozinha e era a sua maior conquista aquele apartamento pequeno com o seu jeito, as suas cores, o seu cheiro.

Descalçou os pés para a pele sentir o frio que forrava o piso, caminhou até a cozinha, preparou e tomou café da manhã rindo sabe-se lá do quê. E a ansiedade descansava e voltava lhe roubando a calma e os pensamentos. Neles desenhavam-se papéis em branco, livros, uma máquina fotográfica, um rapaz, um pen-driver, roupas que deveria escolher, tênis ou sapatilha? Sandália de dedo, talvez? Outro rapaz. Pausa para um gole de café, uma mordida digna no sanduíche de queijo derretido. Novamente os desenhos nos pensamentos, a passagem da viajem, o dinheiro que deveria guardar, uma agenda escrita quase completa.

Hora de voltar à realidade e fazer as coisas que eram preciso fazer. Deixou a cozinha e foi de cabeça para a ducha morna, tinha exatamente 30 minutos para deixar a sua caverna e ir para o trabalho.

Dirigia bem. Dirigia? Pelo menos era atenta nas ruas, o carro emprestado dos pais há quase dois anos, sua sorte que eram seus pais os donos, pois que abuso. Mas, eles não se importavam, não muito. Logo... logo...logo... ela compraria o seu e tudo ficaria bem. Essa parte da história não fazia parte do seu troféu de independência. 

Dona de pouca idade, sentia-se criança quando pensava em confiança. Diante de diversas situações dividia-se em duas naqueles dias, tantas histórias e tantas versões que sabia-se lá em quê ou quem dá mais crédito. Mas de uma coisa tinha certeza: Estaria do seu lado, que era o mais confiável. Bastava discuti com sigo mesma todos os dias, entre a quieta e corajosa, a santa e a ousada, a individualista e a amável.


Era meio esquisita também, não se sabe explicar. Era um dia de sol amarelo brilhante no céu, deixara a prisão de deveres e afazeres que era seu trabalho, e sem explicação alguma, sem ter nem porque o seu espírito flutuava, leve e alegre, um sorriso tatuado de canto a canto do rosto, impossível de conter. Tudo nas ruas era mais lindo, o céu mil vezes mais azul, era paciência pura, os semáforos poderiam fechar que os seus pés não reclamavam por está com pressa. Esquisito toda aquela alegria que explodiu dentro dela, mas maravilhoso e muito bem-vinda, era paz de espírito. 

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Uma paixão, uma arma e la putana



Parte III



Henrique havia bebido três doses de tequila, andava feito louco pelo salão do clube com cara de poucos amigos procurando Maria e o parceiro de dança. Nada encontrou. Deixou o clube com asas nos pés, seus lábios não sabiam sorrir e dispensou os cumprimentos aos amigos.

Combinou velocidade e raiva, caçando a namorada em várias partes da pequena cidade alagoana. A praça na frente da Igreja matriz estava deserta, os coretos solitários, e gatos que vagavam na noite sem mesmo sentir frio. Henrique tinha olhos atentos e o sangue fervia de raiva dentro de suas veias. Passou pela lanchonete que já estava fechada. Descansaria apenas quando a encontrasse com seu parceiro desconhecido.

***
Maria levou seus amigos para sua casa, a varanda estava iluminada e sua família já descansava. Estavam entre risos e mãos dadas, Lúcia e Bruno havia passado das indiretas e jogo de olhares para os beijos e Maria junto com Marcos conversavam aos risos.

Ouviram pneus cantando na frente da casa, logo deixaram as cadeiras quando avistaram Henrique surgindo feito um vingador de dentro do carro. Marcos apressou-se em descer as escadas , mas Maria o segurou pelo braço e colocou-se na frente dele. Bruno estava surpreso com a chegada do amigo, quis cumprimenta-lo, mas Henrique logo gritou com ele: - Nem fale comigo seu traira, por que deu carona para esse cara ai e a Maria? Você é idiota?

-          Cala a boca Henrique e fala baixo na frente de minha casa... Maria estava furiosa.
-          Vai embora agora seu sacana... Henrique continuou a gritar, dessa vez com Marcos que tirou Maria de sua frente e desceu as escadas correndo, havia raiva em seus olhos e descontaria no outro. Maria o seguiu. – Não Marcos. Vai embora você Henrique...
-          Ele vai... Henrique sacou das calças uma arma e apontou para Marcos a poucos metros dele. Apenas o portão e o muro baixo os separavam. Lúcia assustada perdeu a voz. Bruno desceu as escadas para junto de Maria que passou para frente de Marcos como um escudo.
-          Abaixe isso agora e vai embora daqui, seu sacana, eu não quero mais olhar na tua cara e é com ele que eu vou ficar, você está me ouvindo...
-          Maria...
-          Vai.. vai agora... Maria gritou sem mesmo se importar com a família que dormia dentro de casa. Henrique abaixou a arma olhando nos olhos dela que cresciam no rosto, numa expressão séria e furiosa. Ele voltou para o carro e antes de dar partida gritou colocando para fora toda a sua fúria. Partiu.

Lúcia do alto da escada respirou aliviada e sua voz então voltou, foi ter com os amigos. Maria despediu-se silenciosamente, a raiva havia deixado ela sem forças e logo entrou em casa. Seus amigos foram pouco depois.

Uma paixão, uma arma e la putana


Parte II


Passos animados, rostos bonitos e felizes circulavam no clube. Maria e o casal de amigos logo encontraram velhos conhecidos e socializaram. Diferente de quando ainda estava a caminho para o baile, agora ela já não se importava com Henrique e la putana, desejava dançar a noite inteira e a música a convidava a isso. Não só a música como também o olhar sedutor de um moreno do outro lado do salão.

Lúcia e Bruno distraídos com as indiretas de ambos, não perceberam quando a amiga sorriu para o moreno que se aproximou lhe oferecendo a mão para dançar. Uma conversa envolvia o casal, Maria esqueceu-se por instantes da situação que a cercava desde aquela tarde. O rosto do rapaz tocava o seu com os lábios tão perto de um beijo, quando por cima do ombro largo do outro viu o marrento do Henrique entrar no salão. Estava atento, olhando para  todos os lados à sua procura, quando foi abordado por um grupo de amigos, tapinhas nas costas, algo como: - E aí cara! E lá mesmo ficou, perdido nas conversas bobas dos rapazes.

Maria não desviava a atenção de Henrique, que de longe não a reconheceu. O parceiro de dança estava aproximando-se cada vez mais de seus lábios, devia resistir ou aquilo se transformaria em uma guerra.

-          Você parece distraída com alguma coisa, são seus amigos? Podemos ir lá...
-          Não! Negou prontamente. – Não, é melhor não. Eu preciso ser sincera com você, até mesmo para lhe proteger.
-          Não estou entendendo nada. Sorriu.
-          O meu namorado acabou de chegar...
-          Você tem namorado...
-          Sim. Mas, o problema é que ele é meio violento e não quero envolver você em problemas...
-          Tenho certeza que ele é só um metido a machão...
-          Não queira pagar para ver, por favor!

Henrique percebeu os passos de sua namorada e do moreno desconhecido, seu desejo foi de ir até lá, os seus olhos não negavam o ciúme que o dominava, mas foi impedido por seus amigos que o arrastaram para o bar.

Bruno e Lúcia dançavam no meio do salão, quando Maria e o parceiro de dança se aproximaram. A amiga convenceu o casal a ir embora, saíram á francesa deixando Henrique. No carro, Maria explicava aos amigos o que era aquela fuga, o moreno que a acompanhava ainda não entendia o porquê de tudo aquilo.

-          Mas, a festa estava começando Maria, o Henrique estava lá com aqueles babacas dos amigos dele, não deve nem ter visto vocês...
-          Lúcia... hey, babacas não, eles são meus amigos também... Bruno falava sem tirar a atenção da pista.
-          Eu disse a ela que não precisava a gente sair correndo de lá...
-          Vocês acham que conhecem o Henrique e você Marcos não sabe mesmo quem é ele. O Henrique já estava bebendo e depois como adora brigas eu não queria ficar e pagar pra ver!
-          Então... Pra onde vamos? Porque ainda é cedo... Falou Bruno, ainda pensando em flertar com Lúcia.


***


quarta-feira, 1 de junho de 2011

Uma paixão, uma arma e la putana

Parte I



Trazia um sorriso fácil nos lábios, caminhar seguro, e uma ansiedade que parecia não combinar com a sua postura de homem briguento e machista. Entrou na lanchonete sem mesmo dar atenção as vozes que misturavam-se e conversas que se confundiam, pois era nela que focava o seu olhar, os seus sentidos. Seu nome era Maria, e os seus olhos não expressavam a mesma alegria que os dele em vê-la.

Sentou à mesa junto a ela, suas mãos desejavam tocar o rosto fino da moça, mas ela se esquivou, virou o rosto e o nos lábios o bico estava estampado de insatisfação. Ele respirou , apenas um olhar para o mocinho da lanchonete e logo uma cerveja estava servida.

-          Então, o que ta pegando?
-          O que ta pegando? Você é bem engraçadinho Henrique. Eu sei, todo mundo tá sabendo que você anda me enganando com uma puta... e não adianta fingir que não sabe de nada...

Os olhos de Henrique pareciam querer saltar do rosto, como ela havia descoberto tal coisa? A cerveja do copo desceu em um só gole pela garganta seca de nervoso.

-          Você só pensa que sou idiota, só pensa... Me telefonaram para contar as suas safadezas, seus amigos sabem, minhas amigas, todos  dessa cidadizinha sabem...
-          Calma Maria... foi só uma aventura sem graça...
-          Aventura sem graça? Você a traz aqui onde a gente freqüenta e é só uma aventura sem graça? Olha aqui Henrique, suas aventuras para mim sempre foram besteiras, mas você levar suas vagabundas para o local onde freqüentamos, ah isso não.
-          Eu vou terminar com ela.
-          E eu vou para a festa de hoje á noite e sem você. 

Maria estava prestes a deixar a mesa, as mãos seguravam firme a bolsa. Henrique a segurou em um dos braços e a resposta foi um olhar metralhador de Maria em cima de sua mão. Ela sacudiu o seu braço para que ele largasse.

-          Não me toque dessa maneira.
-          Eu vou com você hoje à noite, antes marco com ela, termino tudo e te encontro lá. O Bruno te leva na festa e encontro vocês.
-          Não demora a fazer isso... Tchau!

Maria deixou a lanchonete com um sorrisinho vencedor nos lábios, enquanto Henrique calculava planos para resolver a situação em que estava. Cerveja gelada novamente na garganta e logo partiu.
***
A chuva caia um pouco agitada naquela noite. Maria aguardava a carona para a festa, parecia uma dama pintada em um quadro, vestida de vermelho emoldurada pelas bordas de madeira pintada de branco da janela. Gritou algo como: - Mãe, até mais! E logo foi ter com os amigos no carro estacionado na porta. A noite estava apenas começando.

Bruno, amigo próximo de Henrique, possuía umas entradas precoces na cabeça jovem de 22 anos. Risonho, adorava as boas piadas mesmo em horas mais tensas. No banco da frente do carro, ao seu lado, estava Lúcia, amiga de Maria que flertava com Bruno há alguns dias.

A chuva não dava trégua, no rádio tocava baixinho um programa voltado para o rock anos 50. Lúcia e Bruno cantarolavam juntos, entre risinhos e olhares de interesse. Maria, sorria assistindo a cena dos dois, mas hora ou outra voltava os pensamentos da safadeza aprontada por Henrique. Despertou da distração ao ver o carro do namorado estacionado em uma esquina, chovia, a água escorria nas janelas de vidro, mas ela o reconheceu dentro do veículo acompanhado pela outra. Gesticulavam, e sua curiosidade lhe provocava, desejando saber o que conversavam naquele instante. Bruno buzinou para o amigo e seguiu. 

quarta-feira, 11 de maio de 2011

"Tão sensível as coisas simples da vida"




“Tão sensível as coisas simples da vida”... (do filme, O Fabuloso destino de Amelie Poulain)
Talvez alguns nos digam bobos, ou ainda voador demais. Me lembrei dessa frase hoje cedo ainda com os olhos sonolentos, mesmo após um banho de cabeça e tudo com água bem fria.

Havia um arco íris riscando o céu, fazia algum tempo que não via um e mesmo com aquela nuvem cinza por detrás daquelas cores, estava lindo. As pessoas não percebiam, não se importavam, mas estava radiante. Homens trocavam palavras na calçada, proseando certamente sobre a expectativa do futebol de hoje à noite ou mesmo sobre o sangue dos jornais de ontem. Lá estavam também os pedestres concentrados em seus passos rápidos e os carros e seus donos apressados no asfalto e meu pai oferecendo sua atenção completa ao trânsito. Nenhum deles viram o arco íris desenhado no céu e a nuvem cinza que escondeu aos poucos aquela beleza. 

sábado, 7 de maio de 2011

Sorriso largo no rosto



O que me ocorre
É uma vontade louca de viver.
Sair na chuva e correr
Sentir os pingos me molhar
Ver o barco no rio atravessar.
E sorrir, sorrir...
Rir do mundo, de tudo.
Dos rostos que também sorrir
Das horas que me apertam
Dos dias que me esperam.
De tudo, para tudo.
Dormir e acordar outra
Mais feliz. 
Sorriso largo no rosto.

sábado, 26 de março de 2011

segunda-feira, 14 de março de 2011

O homem com o cigarro



Não havia sax, nem mesmo baixo, mas as notas tocaram claras saindo dos fones em seus ouvidos quando ele chegou. Aqueles passos sem pressa acompanhavam as batidas do som do Morphine, e ele nem imaginava que fazia parte de um filme imaginário na cabeça de uma desconhecida.

As pernas vestiam um jeans velho, o braço protegia um jornal de quinta, enquanto as mãos se ajudavam para acender o cigarro. O homem com o cigarro. Era assim que o chamaria, não possuía nome ainda, não conhecia nem mesmo a sua voz.

Os olhos dela deixaram os gestos dele para ver rapidamente se seu ônibus se aproximava, mas nenhum ruído, nenhum sinal da carroça velha. Então voltou com seus olhos espiões para o rapaz.

Discretamente sentou-se no banco vazio do ponto de ônibus, enquanto observava o rapaz que estava a poucos metros. Ele não possuía chapéu ou mesmo suspensório, mas lhe fazia lembrar o John Lurie nos filmes do Jarmusch, e poderia vê-lo em uma imagem preto e branco se fechasse os olhos. Segurava com uma das mãos o jornal, procurando se informar das principais notícias e ao mesmo tempo liberava a fumaça tragada do cigarro para o vento.

Então um ônibus se aproximou, e estacionou trazendo para o ponto uma fumaça negra, e um barulho que lhe irritava os ouvidos. O barulhento parou diante de seus olhos, leu o letreiro e não era aquele que a levaria ao seu destino, era o ônibus esperado pelo desconhecido que passou por ela deixando um cheiro de cigarro acariciar o seu nariz e partiu.

Em breve voltaria a vê-lo novamente. O desconhecido. 

Ennui...




Pois sim, o que Anna Karina diz nos primeiros minutos desse vídeo é mais ou menos o que pensava outro dia.

Poderíamos, às vezes, ter o poder de mudar de corpo e de mundos quando a nossa vida caminhar em um dia sem graça.  (Um domingo, por exemplo, pois é um dia triste). Outro lugar, “outro mundo, outro mambo”

Não reclamo de minha vida, gosto dessa estrada de 21 anos, mas é agradável um ritmo diferente de vez em quando. Rotinas não me agradam muito, afinal sou aquariana. Gosto de pessoas conversando, passando, um pouco de agitação, mas também me agrada o silêncio e traquilidade.


E assim o tédio some e reaparece, e o meu tédio adora os domingos. 

sábado, 12 de março de 2011

Eva


A tarde estava tranqüila, o mundo funcionava do lado de fora, mas Eva não se importava. Estava mergulhada em uma leitura que logo concluiria. Dias atrás ganhara um romance, “O Amante”, de Marguerite Duras. Há uma semana perdia-se nas páginas entre as linhas e palavras que revelavam a história da escritora ainda quando jovem e seu amante chinês e homem maduro.

Encontrava-se sentada no sofá, sua concentração estava ali nas últimas páginas. Os olhos dançavam da esquerda para direita, lendo, penetrando em cada frase, cada parágrafo. Seus olhos atentos, possuindo sede cada vez mais naquela leitura leram as últimas palavras do livro. Seu peito suspirava diante da história que não lhe pertencia, mas que era como sua.

... Dissera-lhe que era como dantes, que ainda a amava, que nunca poderia deixar de a amar, que a amaria até a morte. (Do livro “O Amante”, de Duras)

Olhou além, por cima do livro, perdia-se dentro de pensamentos secretos, a história estava ali ainda, presa em sua mente. Refletia sobre a garota de 15 anos e seu amante chinês?

Era cedo ainda, estava no meio da tarde. Foi ter no quarto de sua mãe, levou o livro junto, em mãos, junto ao corpo. Seus passos a levaram para diante do guarda-roupa, não olhava para os lados, não dava atenção a nada naquele quarto a não ser ao guarda-roupa. Em sua mente como em uma fotografia podia ver o que procurava. O móvel estava aberto mostrava-lhe blusas, calças, saias, mas o que procurava era aquele velho vestido de sua mãe. Sua mão buscou no fundo do guarda-roupa a seda, a cheirou, pálpebras fecharam e abriram como se lhe trouxessem lembranças. Um sorriso tímido nasceu nos lábios. Em poucos minutos abandonou o livro na cama e vestiu o pano fino, o corpo que estava na frente do espelho parecia habituado a vestir-se daquela maneira. Voltou ao móvel e de lá tirou o cinto, o cinto de couro marrom. O envolveu na cintura, fechou e pronto. Novamente diante do espelho, o pente penetrava com seus dentes entre os fios, dividiu em duas metades e delas fizera surgir duas tranças. Nos lábios passara o velho batom num tom escuro de vermelho. Tocou com uma das mãos o cabelo deu-se conta de que algo lhe faltava. –O meu chapéu?

A campanhia disparou, quem era? Seus olhos cresceram no rosto, deixou o quarto e mesmo em passos lentos logo estava na sala. Ela, suas tranças e seus lábios avermelhados. Rodou a maçaneta e abriu a porta, lá estava, ele. O outro a olhava curioso havia um sorriso querendo explodir em sua boca, mas conteve no primeiro momento. Atravessou a entrada e agora observava ela fechar a porta, voltou-se para ele possuindo a mesma expressão com a qual o recebera ao abrir. Estava em silencio, sem riso, sem seriedade. Não havia nada. Apenas ela em silêncio e com aqueles olhos que pareciam lhe atravessar fundo o corpo.

- Que roupa é essa? Ele perguntou deixando finalmente o sorriso que havia escondido aparecer. Não obteve resposta da outra. Ela o olhou apenas, parecia menosprezá-lo por um momento e sua pergunta boba, sem graça, de deboche.

-Eu que pergunto a você. Que roupas são essas que você veste? Onde está aquele homem elegante, aqueles belos sapatos de antes? Onde está o meu amante de antes?

Enquanto ela sentava-se no sofá de pernas cruzadas, esperava uma resposta do outro com aquele olhar rebelde, sorriso irônico escondendo dentes nos lábios avermelhados. O outro não se conteve, novamente lhe veio e dessa vez do fundo da garganta uma gargalhada dessas que o fez ficar descontrolado. Não conseguia parar de rir. Ele foi ter com ela, sentou-se ao seu lado tocando o rosto dela.

-Que história Eva, que papo estranho, tá louca? Você bebeu o que hein?

O sorriso irônico desmanchou-se dos lábios dela. Desviou o rosto da mão que lhe fazia carinho e avançou sobre o outro lhe roubando um beijo. Não eram os mesmos lábios de antes que o beijava, foi essa impressão que o outro teve. Havia algo, menos doce, mais ousado que antes; as mãos que lhe tocaram o rosto enquanto lhe roubava aquele beijo também eram outras, eram mãos que o prendiam, que o arrastava para ela.

-Meu nome não é Eva. Quem é Eva, do que você está falando?

Não houve respostas. Ele parecia aéreo, seus olhos observavam aquela diante dele, analisando. Aqueles olhos estavam diferentes, o dominava, parecia devorá-lo. Os braços que sentia dar a volta em seu pescoço eram mais decididos, menos medrosos, o levavam para junto da outra. Sua namorada havia mudado. A conhecia como amável, olhos tímidos que pareciam medrosos em encará-lo fundo nos seus, lábios doces que precisavam ser provocados para matar o desejo de um beijo. Um pouco silenciosa às vezes. Chegavam a ouvir suas próprias respirações enquanto o tempo passava e eles abraçados no sofá da sala de estar. Essa era a Eva que ele conhecia, era a Eva que parecia não estar mais ali.

Desenvolvera outro Eu, ou melhor, trouxera de seu interior outra metade de si desconhecida para o mundo dos outros. Essa outra metade era reprimida, travada. Possuía olhos que penetravam fundo em olhos desejados, mãos que buscavam sem medo o que lhe roubava a atenção. E principalmente, palavras que saiam sem receio de lábios decididos. Era outra Eva. A ousada.

-Melhor você ir trocar de roupa a gente vai se atrasar para o filme.

-Que filme? Eu não quero sair vamos ficar e aproveitar a tarde aqui mesmo.

-Eva, sério. Eu tô gostando e tudo dessa sua... Enfim... Mas você está muito estranha...

-E você está muito chato.

O menosprezou. Deixou o sofá decepcionada, estava agora de pé no meio da sala diante dele, o olhava de cima para baixo, esperando uma reação da parte do outro. Ele estava lá sem moral alguma para com ela, bestificado com toda aquela atitude que era novidade aos seus olhos. Fez que ia dizer algo, mas nada saiu de sua boca muda, parecia engolir palavras que arranhavam sua garganta, parecia confuso. Naquele instante começou um diálogo de olhares, uma comunicação silenciosa, porém era como se falassem aqueles olhares.

Os olhos dela diminuíram, lembrava o olhar de antes, aquele da menina doce às vezes um pouco silenciosa. Mas não era a de antes. Aqueles olhos diziam fixos ali no do outro, observando de cima para baixo; dizia com aquele ar autoritário e teimoso que ele devia se levantar e decidir se atenderia aos desejos dela ou iria embora. Ele por sua vez começava a sentir um nó dentro de si, uma dor pelo desprezo daquele olhar, pela frieza. Conseguia comunicar o sentimento de tristeza que começava a dominar ele através dos olhos miúdos.

Olhares tão fixos e silenciosos que pareciam não respirar por alguns minutos. Ele de baixo ainda imóvel no sofá, ela de pé diante dele, braços cruzados e mandões, e ainda um sorriso quase dócil que uma vez ou outra nascia nos lábios de maneira discreta, sem dentes.

Parecia cansado de ser provocado, deixou o sofá como em um salto. Suas mãos foram sem paciência nos braços dela como um militar furioso, no rosto os lábios eram sérios. Os olhos pareciam penetrar fundo nos dela que cresceram imediatamente no rosto feminino, parecia assustada, mas não desmanchava aquela postura de teimosia, de rebeldia que a dominava.

-Seu nome é Eva...

A sacudia, sua impaciência impedia que pensasse no que estava fazendo, não percebia que parecia agressivo. As pálpebras dela se fecharam levemente e em poucos segundos abriram-se como se despertasse de um sono leve. Eram olhos miúdos, não mais aqueles grandes e assustados de poucos segundos atrás; os lábios mexeram acompanhados de um estalido quase surdo e disse:

- Rui. 

Sorriso largo no rosto




Nunca mais havia chorado por felicidade. E nem explico, apenas sinto...

Sorriso largo no rosto. 

sexta-feira, 11 de março de 2011

Conto de Inverno (Conte d'hiver)


Catherine do “Jules et Jim,Gabrielle de  “Uma garota dividida em dois”... E Felicie de “Conto de Inverno” do Eric Rohmer, uma mulher que ama três homens de maneiras diferentes.

Finalmente comecei a ver os filmes da série de “Contos das quatro estações” do Eric Rohmer. O primeiro lançado em 1990 foi o “Conto de primavera”, mas comecei pelo segundo, “Conto de inverno” de 1992.

Nesse filme, Rohmer aborda a história de Felicie que após viver um romance arrebatador em umas férias de verão, dar o seu endereço errado ao rapaz por conta de um lapso e isso impede que eles voltem a se encontrar. Mas, ela jamais esqueceu Charles, e a sua filha fruto da relação deles naquele verão é a sua lembrança viva dele.

Cinco anos depois, Felicie se encontra em Paris onde vive com sua filha Elise e sua mãe. A moça mantém um namoro com o cabeleireiro Maxence que está prestes a se divorciar, e também mantém o romance com o intelectual e bibliotecário, Loïc.

Felicie ama Maxence e Loïc de maneiras distintas, mas o seu amor por Charles a impede de seguir sua vida seja com qualquer um dos rapazes.

Ela não engana ninguém, é fiel aos seus sentimentos, um rapaz sabe do outro e também da existência de Charles e da esperança de reencontrá-lo. Mas, ninguém acha provável esse reencontro.

Aqui Rohmer também discute filosofia, religião, coincidências, destinos e probabilidades.

Em uma conversa com Maxence, no final de semana em Nevers, Felicie e o namorado discutem a probabilidade. Ela pensa em respostas que expliquem o porquê de Charles não a ter encontrado, mesmo com o endereço falso.

Decidida a morar com Maxence em Nevers e tentar dar um rumo a sua vida, a personagem vai à casa de Loïc em uma noite avisá-lo de sua decisão. Ao chegar à casa do bibliotecário, ele está com amigos discutindo sobre um romance, ela que se diz ignorante apenas ouve e observa a conversa.

Em determinado momento do filme confessa a mãe que não gostaria de ser esposa de Loïc, pois que não a agrada ser dominada intelectualmente, mas fisicamente sim.

Após o jantar, ele e seus amigos discutem religião, a alma e o sobrenatural. Loïc é católico e quando sua amiga, espírita, diz que não há diferença entre o sobrenatural dela e o dele, pois todas as religiões acreditaram em reencarnação, ele discorda. Diz que ela recusa o sobrenatural cristão e aceita os outros, assim sendo alvo de charlatões. Ela, por sua vez, diz não conhecer nenhum charlatão, pois não faz parte de uma seita, não dar dinheiro a ninguém e compra livros usados. Ele sim é vitima do charlatanismo cristão.  

Loïc continua sua defesa dizendo que a reencarnação suprime a responsabilidade, que podemos ser responsável por apenas uma vida. Então, Felicie, que até então apenas observava, decide expor sua opinião discordando, pois para ela se o espírito passa por diversos corpos ela pode se aperfeiçoar aos poucos e isso suprime a responsabilidade. Apesar de achar encantadoras as palavras da namorada, ele é contra, diz que não passam de palavras.

Apesar de amá-la é racional o tempo todo, é um homem dos livros. Ela sente. Felicie diz que se um dia dissesse que o amava ele consultaria Shakespeare.

Rohmer aborda a fé em “Conto de inverno”.

Felicie está vivendo em Nevers com Maxence, e em uma tarde vai a Catedral com sua filha Elise que deseja ver o presépio. Ela não é católica, se diz brigada com a religião e é naquele momento na igreja que Felicie conversa com Deus, á sua maneira ela não reza, vai além, estabelece contato com Ele refletindo e então descobre sua fé e nela encontra uma luz para a sua vida.

Decide deixar Maxence e voltar a Paris com Elise, mas não para Loïc, apesar de procurá-lo, ela volta para a sua esperança de reencontrar Charles, o pai de sua filha.

De volta a Paris, Felicie acompanha Loïc que vai ver uma peça de Shakespeare, “Conto de inverno” título com o qual Rohmer também batiza seu filme. A personagem se identifica com a história da peça, se envolve completamente se emocionando durante a apresentação.

A peça trata de pessoas que supostamente mortas vão para o exílio e retornam ressuscitadas. Loïc se sente em dúvida, se a rainha, personagem da peça, mexeu-se porque ainda não estava morta ou se era magia. Felicie tinha uma certeza quanto a sua dúvida, para ela o que havia a ressuscitado foi a fé.

Foi a fé quem devolveu a esperança a Felicie, o acreditar em algo mais forte foi quem lhe deu força. Ela não se converte ao cristianismo, ela acredita em Deus, e sejamos católicos, evangélicos, espíritas, ou qualquer outra religião, é a fé que depositamos em Deus, pois existe apenas um, é ela quem nos dar equilíbrio.

Não possuo religião, mas é a fé que me coloca em equilíbrio e paz de espírito.

A coincidência ou destino (gosto de acreditar em destino) é quem leva Charles ao encontro de Felicie, em uma tarde do dia de ano novo. 

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

20 Anos blues- Elis Regina



Uma mania infernal


Era atormentada por algo mais forte que ela, algo que não tinha nome, nem forma, mas que habitava dentro dela e consumia os seus pensamentos, vivia do consumo de seus pensamentos. A confundia, a fazia brigar, vivia em conflito com essa coisa invisível e seu Eu, seu corpo era uma casa sem paz nos dias em que aquela bendita vinha para lhe acariciar.

A luz do dia iluminava tudo, penetrava pelas janelas e portas abertas iluminando móveis, porta-retratos, chaves penduradas na parede. Na cozinha preparava um suco para saciar a sede, com as mãos apressadas colocava as frutinhas vermelhas em poções dentro do liquidificador, depois água fria, então apertou o botão e o bicho começou a triturar tudo, aquele monstro.

Ela podia saber quando as frutas perdiam suas formas pelo barulho, que de grosso se tornava mais suave. Diante dos seus olhos a cor das frutinhas vermelhas ia perdendo o vivo do tom e ficando mais claro, e surgia a espuma branca cobrindo o sabor que guardava aquele suco de acerola ainda amargo, pois que não havia açúcar. Estava pronto, precisava coar.

Desligou o liquidificador, agora ele estava em silêncio, colocou as duas mãos no copo, antes mesmo de desencaixar do aparelho foi tomada pela força sem rosto que lhe fez colocar uma das mãos novamente no botão. Voltou a ouvir o barulhento, e então desligou, mas aquilo dentro dela era mais forte, lhe roubava a paz dentro de sua cabeça e voltou a ligar e desligar.  Finalmente desencaixou o copo do liquidificador e colocou o suco no coador.

Era uma ansiedade que lhe invadia, uma mistura de pensamentos por cima de pensamentos que apareciam de repente em sua cabeça como um mar em ressaca, onde ela tentava nadar e chegar à praia e ficar a salva de tudo aquilo, mas não conseguia. A força era maior e lhe fazia continuar com aquelas manias de repetir gestos e coisas.

Acreditava que se não o fizesse lhe aconteceria o mal, o contrário do que almejava, e a sua insegurança acompanhava a ansiedade nesse barco e se aproveitava da situação fácil e frágil da personagem para também participar da tortura.

Quando estava com a mente desocupada essa dupla unida se aproximava e lhe dava noticias. Assim continuou durante toda a tarde e permaneceu quando a noite chegou. Antes de dormir passou por todo o ritual até cair na cama e fechar os olhos. Primeiro escovava os dentes até reconhecer que estavam brancos, depois bebia água e caminhava até o quarto, mas não antes de ter certeza de que a porta da frente estava mesmo trancada.

No quarto, olhou em volta como uma câmera que capta tudo muito rápido, e não havia insetos para lhe roubar o sono mais tarde. Apertou o interruptor e se encontrava no escuro quando a força veio e lhe fez voltar a ligar, estava escuro, depois claro, depois escuro, e novamente claro, e depois outra vez no escuro, e quando tentou ligar mais uma vez só pôde ouvir o barulho do interruptor. A luz havia queimado, então foi dormir.

O que fazia, quando entenderia que não eram as coisas que conseguia tocar, e que se sentia obrigada a fazer que lhe faria mal? E sim as energias que depositava ao acreditar naquela neurose que lhe invadia a cabeça.

Estava louca ou era normal até demais? Não se sabe.


quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Eupersonagem do Eric Rohmer

Ainda não assistir muitos dos filmes do Rohmer, apenas dois, porém esses dois me fizeram sentir a estranha sensação de crê que sou uma personagem do cineasta nouvelle vagueano. Eu sei, pode parecer estranho, mas não é. Afinal estamos falando de cinema cotidiano, estamos falando de Eric Rohmer.

Essa semana assisti “Pauline a la plage” (1983). Pauline uma adolescente e sua prima já adulta vão juntas passar uns dias na praia, enquanto ela se envolve com um rapaz de sua idade, sua prima que se julga experiente nos assuntos do amor está envolvida com um rapaz que a engana. Eric Rohmer coloca duas mulheres em idades diferentes vivendo seus amores e dessa maneira nos deixa claro que independente de idade o ser possui um pouco de imaturidade no que diz respeito ao amor.


Me sinto completamente Delphine em “Le rayon vert” (1986) , o primeiro que assistir do cineasta quando comecei a entrar em contato com as obras do movimento francês Nouvelle Vague, é também um dos meus filmes favoritos. 

Delphine é uma secretária que mora em Paris. Duas semanas antes de tirar férias sua colega de viagem desiste de ir para Grécia, sem saber o que fazer das férias ela aceita alguns convites de amigos para viajar, mas sempre acaba voltando a Paris sentindo-se incompreendida, solitária. A última tentativa da personagem é a praia, lá ouve uma história sobre a lenda do raio verde, que é visto no último segundo do pôr-do-sol no mar. Segundo a lenda do livro do escritor Júlio Verne quem ver o raio verde tem seus pensamentos mais íntimos e os das pessoas a sua volta revelados. Decidida a voltar novamente a Paris, Delphine conhece um rapaz na estação de trem e resolve tentar aproveitar o que lhe resta das férias, mas antes deseja ver o raio verde.

As conversas entre os personagens nesse filme, na mesa enquanto fazem a refeição em uma das viagens, por exemplo, não há nada mais cotidiano que cenas como essa, tão simples e próximo de nós, do real.

O cineasta abusa dos diálogos, deixando as ações em segundo plano, prefere a discussão sobre as suas dúvidas, problemas, a vida. É um cinema de paciência, de contemplação, que vai fundo na alma, no ser.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

...



"Estou quieta como uma xícara
Espero que vc venha e me provoque
Depressa! Venha me acordar..."

(Beleza Roubada)

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Notre film/ Nosso Filme

Eu atuo,
tu atuas,
nós atuamos
Eu dirijo,
Tu diriges,
Nós dirigimos.
Um filme em plano sequência,
Nada de cortes, beijo atrás de beijo,
Abraços atrás de abraços,
Closes nos seus, nos meus olhos.
Você toca a trilha sonora
Em seu violão de uma só corda
Eu decido o figurino,
o que vestimos ou não vestimos...
Cenários de lua cheia
Ou na praia ao entardecer
                                      Esperar o raio verde aparecer.