sábado, 29 de janeiro de 2011

O Lixovoodooo




kkkkkkkkkkkk
Trabalho de Argumento e Roteiro II / 2010.1

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Indecisão

Frio e calor

Sentia.

Sono e insônia

Deitava.

Silêncio ou música?

Ouvia baixo.

Aumenta, abaixa...

Som.

Indecisão.

Da paixão estava certo

Do que sofria?

Sofria de tédio.

Godard, eu não desisto!- Parte III: Pierrot, le fou






Pierrot, le fou (1965) é poesia, mas também música, pintura, cinema, principalmente literatura. P-o-e-s-i-a.

O filme está repleto de referências e a maior delas é o poeta de espírito revolucionário Arthur Rimbaud, o que explica a identificação do cineasta com o escritor.

Bebi do artigo “Escrever com a câmera” de Mário Alves Coutinho, pois que não conheço a vida e a obra de Rimbaud. Segundo o autor existem traços biográficos do poeta em personagens de Pierrot, le fou, Rimbaud foi traficante de armas na África, e no filme o suposto irmão de Marianne também.

Ainda é possível identificar referências ao poeta quando o casal foge atravessando a França, abandonando a civilização, buscando a natureza, indo até a praia onde passaram a viver. O casal Ferdinand e Marianne, citam o poeta após roubar um galaxy e entrar com o carro no mar, citam o “Une saison en enfer” ou “Uma estação no inferno”:

Ferdinand: Capítulo oito...

Marianne: Uma temporada no inferno

Ferdinand: O amor está para ser reinventado

Marianne: Vida real é outra coisa.

É preciso encarar a realidade e não viver apenas da fantasia dos livros. Em outro momento do filme quando há uma discussão entre o casal, Marianne está cansada do lugar onde vivem, isolados, está cansada de enlatados, de usar o mesmo vestido. Ele quer livros, ela quer viver, quer ritmo. ...“Você me fala com as palavras, eu te olho com os sentimentos”... Ela diz.

Além de Rimbaud, Godard também faz referência a outros escritores. Marianne fala em Júlio Verne, diz que ambos já bancaram o Júlio Verne o suficiente e que precisavam voltar ao filme de gangsteres, com armas, carros rápidos, clubes noturnos.

Allan Poe também está lá citado por Ferdinand desta vez, momentos antes do assalto ao galaxy. “Ele encontrou seu duplo na rua. Ele procurou em todos os lugares para matá-lo. Uma vez que conseguiu, percebeu que tinha sido a ele próprio que ele havia matado, e o que restava era seu duplo”.

O duplo de Ferdinand seria Pierrot?

Segundo Mário Alves Coutinho, ao chamar Ferdinand durante todo o filme de Pierrot, Marianne faz referência ao amante da “Commedie dell’art” que nunca consegue o amor de volta. Será que ela prevê o fim trágico do casal?

Mas, Pierrot também é uma referência ao pintor Renoir e o seu quadro “Pierrot mascarado”. Alguns quadros do pintor ainda aparecem no apartamento onde mora Marianne, visto ainda no início do filme.

Também são dadas referências do cinema e da música, Ferdinand fala em “Johnny Guitar” e poucos minutos depois na cena em que vemos o movimento dos carros na noite parisiense na Avenida Champs Elysées ouvimos a quinta sinfonia de Beethoven.

Em Pierrot, le fou como também em outros filmes Godard brinca com a aproximação brechtiana (quando o ator se dirige ao espectador), quando o casal está indo em direção a praia com o galaxy e Ferdinand se volta para câmera e diz: Tudo o que ela pensa é diversão! E então Marianne pergunta a ele com quem ele está falando e Ferdinand/ Pierrot responde que fala com a platéia.

Preciso escrever ainda que são belíssimas as cenas em que Anna Karina canta as canções “Jamais je ne t’ai dit que je t’aimerai toujours” e “La ligne de chance”.

http://www.youtube.com/watch?v=1YeWXAmpkUI

http://www.youtube.com/watch?v=vBNn38ZNUXI&feature=related

Politique

No período em que filmes como Pierrot, le fou, La Chinoise, Duas ou três coisas que eu sei dela, foram realizados o diretor fazia parte do Grupo Dziga Vertov, na década de 60 e esse certamente foi o seu período mais político.

Apesar de toda a poesia e do romance de Ferdinand e Marianne, o diretor continua político em Pierrot, le fou, não esquece a guerra do Vietnã, o casal ouve no rádio notícias sobre a guerra.

E ainda continua apostando nas cores azul, branco e vermelho, nos remetendo a bandeira da França. Talvez o vermelho tão explorado seja o sangue derramado nas guerras.

Aqui Godard também faz critica a publicidade. Ferdinand diz ao ver um anúncio em uma revista: “Houve a civilização ateniense, houve o renascimento, e agora a civilização do traseiro”. Critica o capitalismo americano, pois não é gratuito que a marca Esso e o tigre símbolo aparecem na tela em algumas situações.

Antes de o nosso personagem principal fugir ao lado de Marianne ele vivia em uma sociedade fútil, essa que ele abandona. Pessoas que reúnem-se em festas e trocam comentários sobre carros novos, desodorante e até lingerie.

Godard foi sensível em Pierrot, le fou, o filme é poesia. Talvez porque nessa fase o diretor estava se separando da atriz Anna Karina. Talvez por ser sensível, esse filme seja o meu favorito do diretor.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Godard, eu não desisto!- Parte II: La Chinoise



Em La chinoise” (1967) com Jean-Pierre Léaud, Godard trata da revolução de estudantes antes mesmo do acontecimento de maio de 68. Um grupo de estudantes reunidos em um apartamento em Paris discute o Maoísmo, marxismo-lenismo, e planejam uma revolução.

O diretor avisa ao espectador que se trata de uma ficção, quando escrito no início do filme em fundo preto, que se trata de um filme em construção. Confirmamos isso ao ver a câmera surgir na tela em uma das cenas e mais tarde claquetes e ainda o operador de som.

Trilha sonora? “La chinoise (Mao Mao)” de Claude Channes.

O personagem de Jean-Pierre Léaud representa o representado em uma cena durante o filme, ele diz: sim, sou um ator... Vou te mostrar algo, uma idéia do que é o teatro. Ele tem uma atadura enrolada em todo o rosto enquanto relata o protesto de estudantes chineses em Moscow, Stalin. A imprensa está presente no protesto e um estudante aparece com o rosto coberto por curativo, gritando: “Olha o que os revisionistas podres fizeram”.

Então quando o estudante começa a retirar os curativos do rosto, os repórteres esperam cortes e machucados horríveis e, no entanto tem a surpresa de ver o rosto do jovem sem ferimentos, “esse chinês é uma farsa”.

Sou fã do vermelho em seus filmes, aqui essa cor é mais que explorada pelo diretor, afinal estamos falando da revolução cultural chinesa de Mao Tsé-Tung, e são com os livros vermelhos que são construídas trincheiras dentro do apartamento, e ainda podemos ver durante o filme diversos deles na estante e nas mãos dos personagens.

Rádio que se transforma facilmente em metralhadora, assim como uma câmera filmadora na mão de uma das personagens que finge atirar no Léaud. Em determinado momento do filme o personagem do Jean-Pierre Léaud fala sobre alguns países e para representar cada um deles usa alguns óculos. O primeiro é um de armação branca com a bandeira dos EUA estampada na lente, e além desse ainda vemos outros, com as cores mais exploradas por Godard, azul, vermelho, amarelo.

Godard, eu não desisto! - Parte I


Nunca entendi muito de política (continuo sem entender), talvez seja por isso que desde que me apaixonei pela Nouvelle Vague tombei de amores pelo cinema de François Truffaut, mais sensível e lírico que Jean- Luc Godard, político, revolucionário, crítico. Apesar de que o primeiro filme que assistir do movimento foi “Acossado” do Godard.

Seus filmes são uma aula de política e dialoga com outras artes, música, pintura e ainda a filosofia, história e linguagem, a literatura. Talvez a mistura de todos esses conteúdos confunda quem não tem a bagagem que seus filmes exigem.

Como escrevi no início do texto, nunca entendi muito sobre política por isso flutuo diante dos filmes do Godard. Me esforço durante os filmes para poder absorver algo, mas na maioria das vezes quando se trata de seus filmes coloridos sou roubada pelas cores usadas na direção de arte. As cores são sempre muito fortes, o amarelo, verde, vermelho e azul. Isso me agrada visualmente em seus filmes.

Monsieur, je ne comprends pas!

Me interesso pelo cinema do diretor apesar de não entender bem, por isso ultimamente tenho recorrido a textos que expliquem um pouco sua obra pra esclarecer as idéias. Por isso vos digo monsieur: Godard, eu não desisto de você!

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Nas garras do sistema

Estive no banco no fim dessa semana, pronta para colocar a mão na bufunfa do mês e me livrar de algumas contas atrasadas e outras ainda a vencer.

Como imaginei fiquei esperando algum tempo, dia de pagamento, apesar do recesso no prédio o banco estaria cheio. Tudo bem, vai não estava tão cheio como inúmeras vezes já presenciei, mas dessa vez os idosos não paravam de chegar e todos começaram a ser atendidos pelos dois únicos caixas que estavam funcionando.

Quem manda Dona Lu, ter perdido as letrinhas da contra-senha, poderia ir para o caixa eletrônico. O jeito foi esperar. Na TV a Ana Maria Brega batucava com o Martinho da Vila, fiquei surpresa, pois nunca mais havia visto ele na mídia, achei até que poderia ter se aposentado. Ele parece mais gordinho. Olha o que fui notar? A falta do que fazer e o tédio naquela espera me levaram a ver o resto do programa Mais você.

Enquanto o programa acabava, ao meu lado um grupo de homens bobos falavam coisas do tipo “pois, temos de pegar são as meninas novinhas mesmo, ora, já estamos envelhecendo pra quê vamos sair com mulher velha”.

Meus Deus, mas que tortura a espera de minha vez para ser atendida quando minha senha era a 24 e o painel eletrônico marcava o número 6 e estava parado, pois os idosos não paravam de aparecer e precisavam ser atendidos.

Desisti. Passei a minha senha adiante, afinal como frequentadora daquele banco sabia bem que naquela manhã não seria atendida mais.

Mas, agora é que vem a melhor parte. “O sistema caiu... como o sistema caiu?... e o banco fechou...mas, como o banco fechou?”

Imaginei mesmo que apesar de não ser atendida no banco naquele dia, mais tarde ao sair do escritório pagaria as contas, afinal pra que serve o débito? Mas, o sistema caiu e atrasou meu dia, minhas contas, meus juros cresceram mais um pouco e culpa de quem? Do sistema.

Sim, porque se o sistema cai, o débito não passa, as contas não são pagas e isso só prova que nós somos escravos e estamos nas garras desse bendito invisível de nome Sistema.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Janis, janis, janis...



19 DE JANEIRO, aniversário da rainha Janisss...
Se estivesse viva estaria completando 68 anos.

Blue Janis

Composição: Carlos Silva e Ângela Rô Rô

Luzes, suava um bocado
Sofria, grunhia, cantava chorado
Deslocada, na cidade, no amor, no camarim
Assim será sempre foi assim
Janis Joplin e o seu visual
Voz entre os dentes blues visceral
Janis Joplin não é marginal
Só está acima do bem e do mal
Anjos do apocalipse, veteranos e ex-hippies
Vão romper mais uma vez toda a segurança
A dama é uma criança, mamando o microfone,
Está prá lá de alone, um beat não se cansa
Moça feia, gente fina
Calores de heroína, garganta puro aço
Moça linda, gente feia que deu essa heroína diluída no
seu braço
Vamos todos pro seu camarim
Não quero ver você tão triste assim
Nada de voltar sozinha para o hotel
Somos os seus escoteiros de bordel
Montaremos guarda à sua porta
Mesmo que na marra não importa
Dessa vez a gente passa a perna nessa tal de morte
eterna
Essa coisa triste e feia, que só quer fazer xixi na
sua veia
Janis, Janis, Janis, foi só um pesadelo,
Agora acorda e vem, arrepia o meu cabelo
Janis, Janis foi só um sonho mau
O rock de hoje em dia tá querendo o seu know how!

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Un petit ami



Sinto saudade de você que não me pertence mais,

que nunca me pertenceu, aliás.

Me faz falta o seu silêncio, a sua postura séria,

o ar misterioso que me provocava dúvidas, angústia.

E de suas palavras tímidas que fazia tudo isso se dissolver.

Sinto falta das tardes que não vivemos,

dos passeios que não fizemos.

Rememoro os beijos no sofá, a vontade de chorar,

o carro a passar, você a embarcar e nunca mais voltar.

Passou...

A imagem da mulher no reality show

A TV construiu um padrão ideal feminino, físico, emocional, profissional e social, padrão esse que foge da diversidade do sexo feminino brasileiro, com seus diferentes tipos de corpos, culturas, maneiras de pensar. Essas mulheres “reais” têm sido excluídas da TV. Bonita, pele perfeita, corpo escultural, magra. É assim que a TV impõe que a mulher deve ser.

Com a chegada do reality show na tv, especialmente o BBB da emissora Rede Globo, a imagem da mulher na televisão tornou-se pior, se antes a mulher para alcançar a felicidade devia gerar filhos, ser prestativas aos seus companheiros, colocando em segundo plano as suas realizações profissionais, etc. No reality show o perfil é outro e agride ainda mais a imagem feminina. O corpo da mulher é recortado e nasce um perfil físico “perfeito” de mulher, a “mulher-plástica”.

CONSTRUÇÃO DA “MULHER-PLÁSTICA” NO REALITY SHOW

O corpo da mulher é recortado, transformado no fim em um padrão de beleza idealizado pela TV. É no reality show, dando mais atenção ao BBB, por ser o mais assistido pelo público e por ser o programa de reality show brasileiro que mais recorre a esse tipo de estratégia para alcançar audiência. É nesse programa que a idéia de corpo escultural é mais explorada.

A mulher é recortada em partes, modelos perfeitos de corpos femininos, até chegar à uma personagem padrão, sem defeitos físicos. Depois essa “imagem ideal” é vendida nesses programas na beira da piscina junto com um produto do mercado ou como próprio produto, quando essas moças são convidadas a posar nuas em revistas e sites específicos em nu.

Fútil, efêmeras, pouco inteligentes. É dessa maneira que a mulher é representada no reality show. Bonita e sexy é o suficiente para colorir o programa, despreocupados com a humanização das moças participantes. Em umas das propagandas da globo.com “sua casa é Brother”, no ano de 2010, o corpo da mulher era apresentado como um dos produtos premiados. Mesmo sendo apenas brincadeira ou jogo de marketing, uma opção de péssimo gosto para chamar a atenção do público, novamente usando da imagem feminina como algo banal.

PACTO DE ENCENAÇÃO

‘No reality show não há roubo de imagem, as observações são com o consentimento de quem participa. Não se trata de voyeurismo, e sim de um “pacto de encenação”. (FELDMAN, 2008)

Não há uma preocupação da parte dessas mulheres que participam do programa em se preservar, há um consentimento ou “pacto de encenação”. Mas, não acredito que encenem a elas mesmas, o que buscam é uma fama, ainda que instantânea, e por isso se sujeitam a mudanças para alcançar esse objetivo.

As mulheres participantes do reality show se transformam em “mulhere-plástico” na intenção de buscar um espaço na mídia. Recorrem a cirurgias plásticas, aumentando os seios, fazendo lipoescultura, modelando o seu corpo aos padrões ditados nesses programas. O que está em risco é a sua fama, mesmo passageira, muito sonhada. Se adéquam a esses padrões e tornam-se celebridades, se rendendo a uma cultura que faz culto ao corpo. Esquece que é um ser pensante e por essa fama prefere ser conhecida por seu belo “bumbum” que por suas idéias. “Não tem opinião, nem sentimentos, mas possuem bunda”.

Ainda que algumas participantes possuam “boa formação universitária”, mostram-se alienadas pela mídia. Enquanto mulheres “modernas” não deviam se render a uma sociedade ainda machista que a reduz a bumbuns e que ao mesmo tempo em que as admira também são preconceituosos com elas, as considerando ignorantes, vulgares, etc.

Na mídia, enquanto para os homens a imagem dessas mulheres é visualizada como objeto sexual; as mulheres buscam ter os corpos que vêem do outro lado da tela, de aparência próxima, projetam-se nesses corpos na intenção de fazer sucesso em seu mundo “real”. O problema está quando esses modelos são reproduzidos por essas mulheres comuns, passam a ter o mesmo comportamento, buscar as mesmas plásticas, e por fim temos um modelo generalizado de “mulher-plástica”, fútil, efêmera.

A MULHER E A MÍDIA

A maior preocupação da mídia é com o seu programa no topo da audiência. A mulher está lá como produto de consumo visual, é o seu corpo que lhe levará ao topo, quem atrairá o público. Em uma sociedade em que a maioria das pessoas acredita que tudo o que é dito pela mídia é certo, não é algo tão difícil de conquistar. Além disso, estamos em uma cultura em que o culto do corpo é mais importante que o ser pensante.

Quando pensamos em mulher na mídia, e ligamos a TV, é como se hoje estivéssemos diante de dois tipos de mulher. De um lado a mulher certinha, aquela ditada nas novelas das oito, a mulher que alcança a felicidade ao casar-se, gerar filhos, se dedica ao marido e a família, e deixa em segundo plano suas realizações profissionais. Do outro lado está a mulher vulgarizada do reality show. Sem idéias, consideradas ignorantes e superficiais, porém com um belo corpo modelado.

Na sociedade em que vivemos é dessa maneira que boa parte dos homens dividem as mulheres, entre mulheres para uso e as certinhas, aquelas feitas para casar com eles e cuidarem de seus filhos. Infelizmente o olhar que consumimos na TV é esse mesmo olhar, aceitado pela maioria das mulheres.

Com esse texto não quero negar que a mulher não deve permitir-se cuidar de si, recorrer a plásticas ou tratamentos de beleza para se sentirem mais bonitas. Pelo contrário a mulher deve se preocupar consigo, se cuidar para sentir-se bem , para agradar a ela mesma antes de tudo e não a uma sociedade que impõe e a uma mídia que dita padrões estéticos e até emocionais. Mas, é importante que essa mesma mulher esteja atenta a degeneração de sua imagem nesses programas de reality shows, deve se preocupar em desmistificar essa imagem criada pela TV.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Meu pequeno sapinho


Capítulo nono...

Nino estava na mesa há quase trinta minutos com olhos fixos em cima do celular. Levantou-se desanimado, descansando as mãos nos bolsos, passeava em passos lentos e olhar perdido pelo apartamento, as sobrancelhas subiam e desciam na face de vez em quando, pensava, pensava e pensava muito. Percebeu uma caneta no chão e apanhou, distraia-se agora brincando de fazê-la diminuir como uma mágica entre as mãos. Mas aquilo não o distraiu por muito tempo.

Meteu as mãos no bolso novamente e pegou as chaves, abriu e fechou a porta e estava decidido a sair. -Vou comprar Nescau, está acabando mesmo. Pensou. Descia as escadas em passos ligeiros, aqueles degraus já eram seus velhos conhecidos. Mas a pressa não fazia sentido algum. Morava no quarto andar e logo que chegou aos degraus que dava acesso do segundo para o terceiro andar foi tomado pela surpresa de encontrar Elis descansando sentada em um dos degraus. Ela olhou para trás assim que sentiu uma presença, e deu de cara com Nino. –Elis? Indagou surpreso.

Elis logo estava de pé. -Oi, eu estava descansando, essas escadas cansam. Sorriram.

Na verdade estava sem graça por ele ter surpreendido ela ali descansando sentada em um degrau. –Eu vim aqui perto trazer o Marte no pet shop e aproveitei para passar aqui e pegar umas coisas.

A última frase não foi música para os ouvidos de Nino que acreditou por um momento que a outra diria que havia ido o visitar ou mais que isso, que queria conversar.

–Mas acho que está de saída...

-Não, eu só ia comprar Nescau, vamos subir. O seguiu, não deixou de observar enquanto ele andava de costas, procurava alguma mudança, algo diferente, mas Nino permanecia o mesmo, aquele que ainda amava muito. Entraram no apartamento, Elis fotografava tudo ali rapidamente com um só olhar, sentia saudade de tudo ali, dos Pufs, da cozinha pequena, do quarto, da convivência com o namorido. Tudo.

-Quer alguma coisa? Um suco, sei lá?

-Água, eu aceito. Foram ter na cozinha, ele colocou um copo com água para ela e lhe entregou aproveitando que sua atenção estava no copo para observar seu rosto.

-Obrigada.

-Fica à vontade Elis, o apartamento ainda é seu. Aquela frase entrou no ouvido esquerdo de Elis e não saiu pelo direito, ficou marcada na mente.

-O Marte, estou com saudade dele, tem levado ele para passear?

-Levo sim, o Marte adora a rua você não sabe Nino?! Sorriram.

-Senta. Sentaram à mesa. –Amanhã é aniversário do Gim, o Jorge disse que ele tava a fim de fazer uma bagunça na casa dele.

-Ele me ligou avisando, e me acordou hoje com uma chamada.

Sorrisos tímidos, olhos que evitavam se encontrarem por uma onda de timidez. Em baixo da mesa os pés dela dançavam numa mistura de ansiedade e nervosismo, ele parecia calmo, mas escondia o nervoso mantendo-se firme, segurando um guardanapo. Um silêncio deitou sobre eles naquele instante, era possível ouvir um passo no andar de cima. Nino sorriu para ela como se procurasse assunto para quebrar o silêncio, mas nada vinha em mente.

Elis abriu a bolsa que descansava em seu colo, de dentro tirou um bloquinho de papel e um lápis, aquilo chamou a atenção da curiosidade de Nino. Seus olhos seguiam a mão que escrevia no papel, mas não conseguia ver o que estava ali escrito até que ela deslizou o papel até chegar nele. Nino leu ansioso, acompanhava as palavras em silêncio que dizia: Eu não vim aqui para pegar nada, eu não quero tirar nada que é meu daqui.

Nasceu dos lábios dele um sorriso discreto, e logo pegou o lápis dela e colocou-se a escrever, rapidamente o papel estava nas mãos da outra.

-Nem eu quero que tire suas coisas daqui, quero que traga tudo o que levou de volta. Aquelas palavras agradaram a outra que tornou a escrever e passou novamente o papel.

-Senti saudade de tudo aqui, tive vontade de ligar, mas não me senti segura. O Marte também sente saudade. O papel voltou às mãos de Nino que logo escreveu e devolveu com uma resposta.

-Eu sinto falta dos latidos dele, e de quando ele sonha e fica chorando dormindo. Sorriu ao ler. Escreveu e devolveu o papel a ele.

-O que a gente faz agora? Nino leu a pergunta e tornou a escrever. Elis não tirou os olhos dele que não mostrava uma expressão que denunciasse a sua resposta e aquilo a agoniava. O papel voltou às mãos dela.

-Você volta hoje mesmo para cá e voltamos a ser como era antes. Eu sinto saudade da gente e eu te gosto muito, eu amo você.

Um sorriso nasceu no rosto de Elis e aquele era maior que seu rosto inteiro, cheio de satisfação e felicidade. Deixou o papel na mesa trocando ele pelo abraço que os braços de Nino a oferecia. Ficaram de pé, deixaram a mesa, o papel, o copo com água. Esqueceram de tudo por um abraço e o beijo tão desejado nessas últimas semanas.

“Ask” voltou a ser berrada pelo celular, atraindo risos no meio de um beijo entre os dois. Elis atendeu, do outro lado da linha avisavam que Marte já estava liberado que poderia buscá-lo.

Nino e Elis foram juntos pegar o filhote no Pet shop. A felicidade de Marte ao rever seu “pai” foi expressa pela bola de pelos que cheirava a chiclete com muita alegria de seu rabinho que não parava de balançar enquanto ele tentava lamber o rosto do outro. Saíram do pet shop para um passeio até a casa de Elis, Nino guiava o Marte que cheirava o chão sem parar por onde passavam, enquanto de mãos dadas com a namorada recomeçavam suas vidas.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Meu pequeno sapinho

Capitulo oitavo

Era fim de tarde, o sol começava a esfriar quando Elis saiu com Marte para dá umas voltas. O filhote peludo tinha brilho nos olhos ao ver a rua e pés indo e voltando a sua volta, adorava passeios. Ela sempre cuidadosa com Marte, observava a calçada por onde passavam para evitar que o filhote abocanha-se algo errado.

As nuvens ainda dispersavam no céu quase rosado pelo por do sol e lhe agradava assistir aquilo, sempre se lembrava de uma lenda sobre um raio verde que aparecia no pôr do sol. Trocou a atenção da calçada pelo céu, seus olhos deviam está apaixonados, uma nuvem lembrava um coração, imagem essa que lhe conquistou um sorriso nostálgico no rosto. Abanou a cabeça e voltou à atenção para Marte. Esqueçamos um pouco Elis e seus sinais no céu...

Naquela noite de sexta-feira Nino chegara mais cedo do trabalho e estava decidido a não sair apesar de convites de amigos. Como sempre desde a partida de Elis, chegara ao apartamento abandonando a mochila em um dos Pufs e logo indo ter na cozinha. Queijo, presunto, casados no pão, Nescau gelado no copo, e seu jantar estava pronto. Após o jantar e em seguida um banho morno relaxante para afastar o estresse do dia, encostou as costas na cabeceira da cama, pernas descansando estendidas. Assistia TV, essa era a sua companhia nas ultimas semanas, falava muito aquela caixa preta, falava tanto que às vezes o enjoava e acabava desligando para consegui dormir.

Pulava de canal em canal, dedo descontrolado no controle remoto procurando por algo interessante para ver, e aquela roda da fortuna de imagens parou no jornal local que estava no início. Quando o nome da jornalista apareceu na tela antes mesmo que ela pronunciasse uma Boa noite de sorriso simpático desenhado na face, Nino foi obrigado a ler em voz alta, foi automático.

–Elis Garcia. Leu distraído. –Elis. Repetiu. Não deixou de lembrar-se da namorada.

Pegou no sono antes mesmo do jornal acabar, o que sonhara não se sabe, mas decerto era algo feliz, seus lábios enquanto dormiam davam uma expressão alegre ao seu rosto.

***

O celular vibrava e berrava “Ask”, despertou assustada erguendo rápido o corpo da cama de modo que ficara sentada, olhando aquele rosto sonolento no espelho diante de si, e aquele rosto sem coragem era seu. Tomou em uma das mãos o celular e no visor uma chamada perdida de Gim.

–O Gim, só podia ser. Sorriu, mas um sorriso um pouco descontente, havia uma esperança guardada dentro dela de que aquela chamada poderia ser do outro. Deixou o celular na cama e levantou-se percebendo que Marte já estava acordado e esperando a porta abrir. Olhou para a bola de pelo e indagou:

- Então, o que faço Marte, vou ver o Nino? Um latido saiu forte da boca do filhote e aquilo a deixou assustada. –Vamos logo Marte, vou tomar um banho e levar você no pet shop.

Ainda eram dez da manhã quando Marte chegou ao pet shop com Elis e lá foi deixado pela dona para um banho, ele ficaria lá por pelos menos duas horas. Ao sair da loja, pensava no que faria para passar o tempo enquanto o filhote não era liberado. O pet shop era o mesmo que ela e o namorido sempre que podiam levavam Marte e era próximo ao apartamento. –Passo lá ou não? O que vou inventar como desculpa? O celular tocou atrapalhando seu diálogo consigo mesma, novamente era Gim.

–Oi Gim.

Viciada em Jim Jarmusch


Descobrir os filmes do Jim Jarmusch e suas fotografias em preto e branco e agora não quero mais largar, ou melhor, não tirar ele de minha lista de torrentes. O silêncio em seus filmes nos leva a fazer pequenos comentários durante uma cena ou outra, mas como tenho assistido a todos os filmes dele sozinha, o único comentário que tenho feito é: “Perfeito”.

“Down by law”(1986), foi o primeiro filme que tive contato do Jarmusch. Três rapazes tem seus destinos cruzados após serem presos. Zack e Jack (Tom Waits e John Lurie) vão parar na cadeia, logo depois mais um elemento é colocado na mesma cela, o italiano bem humorado Roberto (Roberto Benigni) e seu inglês mal falado. Após uma grande idéia de Roberto os três fogem. Durante alguns momentos em que os personagens estão na cadeia, o clima é de puro tédio e desse lado de cá conseguimos sentir esse clima.

Todo o conjunto no filme do Jarmusch me roubou de imediato. O figurino oitentista cool, a trilha sonora do próprio John Lurie e Tom Waits. No início do filme, em planos abertos a câmera passeia pelas ruas do bairro onde ocorre a história e depois no pântano, nos apresentando o cenário. Assistimos a tudo isso ao som de Jockey Full of Bourbon, do Waits. Sem entrar em detalhes na fotografia desse filme, que é fantástica, feita pelo Robby Muller.

Ainda em meu vício, corri para ver mais um filme, o próximo foi “Estranhos no paraíso” (1982). Novamente com o John Lurie que vive o húngaro Willie, que mora há dez anos em Nova York. Desocupado, mora só em um pequeno apartamento e recebe a visita de sua prima húngara, Eva (Eszter Balint). Após alguns dias Eva vai morar com sua tia em Cleveland, sentindo sua falta Willie e seu amigo vai buscá-la e depois seguem para a Florida.

Nesse filme podemos sentir também o tédio dos personagens, e a diferença da cultura vivida por eles. Willie acostumado com o modo de vida americano está jantando quando pergunta a prima se ela não deseja um “jantar de TV”, ela responde que não e pergunta o que aquilo significa. Então pergunta ainda sobre a carne, ele responde que veio da vaca, ela diz que aquilo nem parece carne. “Comemos assim nos EUA”. Responde Willie.

Já na Flórida, quando Willie presenteia sua prima e seu amigo com óculos escuros para “parecerem turistas”, essa cena me remeteu a “Paixão suicida” (Goran Dukic, 2006).

A minha cena favorita em “Estranhos no paraíso” é sem dúvida o passeio dos três personagens na praia.

Em “Sobre café e cigarros” (2004), Jarmusch reúne alguns curtas-metragens em que o assunto é o consumo de café e cigarros, claro. Também fotografia PB, podemos ver Tom Waits e Iggy Pop, Roberto Benigni, e outros. Confesso que foi o filme que menos gostei.

Então vamos ao próximo de minha lista, “Dead Man” (1995), com Johnny Depp. Conta a história do contador William Blake (Depp) que se muda para Cleveland, mas acaba sendo acusado da morte de uma moça e fugindo conhece um índio chamado Ninguém.

Nesse filme ao perceber que se tratava de uma história do velho oeste, confesso que sentir falta da cor. A iluminação quente que estou acostumada a ver nesses filmes, mas estamos falando de Jim Jarmusch e a fotografia, claro foi preto e branco. A trilha é do Neil Young (Crosby, Stills, Nash & Young). Perfeito.

Continuarei meu vício em Jim Jarmusch, tudo indica que o próximo filme que vou ver será “Permanent Vacation” (1980), o primeiro do diretor.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Meu pequeno sapinho

Capítulo sétimo...

Naquele momento em que havia o destino quebrado o encanto de seu relacionamento podia ver no vai e vem das ruas dezenas de casais juntos, indo e vindo passeando apaixonados. Aquelas cenas lhe trouxeram mais tristeza, e aquilo lhe era visto como tortura. De volta à casa de seus pais, sentiu-se estranha em seu próprio quarto, tão acostumada ao espaço dividido com o outro. Sete dias, sete dias para se acostumar novamente com aquele colchão.

Em uma das primeiras noites perdera o sono, olhar fixo, perdido no teto envernizado.

–Não posso está tão errada assim, eu não sou a errada, não dessa vez. Pensava em silêncio enquanto descascava das unhas um esmalte já velho. –Como será que deve está as coisas no apartamento Marte? Indagou colocando os olhos no peludo que dormia próximo a porta.

Faziam duas longas semanas da sua saída do apartamento. Elis continuava a vender seus tênis, após ter vendido mais um naquele fim de tarde decidiu ficar na rua por mais um tempo dando voltas com Lizy enquanto conversavam.

-Então foi assim, você saiu de lá e não sabe se tem volta? Mas eu não entendo vocês se dão tão bem Elis...

-Eu realmente não sei Lizy o que vai acontecer. Eu tenho achado tão estranho a casa de meus pais, minha rotina mudou, o dinheiro dos tênis sobra, porque lá eu não compro nada, sabe o que fiz? Coloquei um dinheiro num cofre que achei no armário. Sorriram. Eu só queria que tudo fosse um pesadelo!

-Eu sei Elis! E o Marte, ele ficou com o Nino?

-Não, eu o trouxe. Como o Nino passa o dia fora ele ficaria muito só! Se souber de notícias dele me diz, se o Jorge falar com ele ou o Gim!

-Aviso sim Elis, mas vocês não têm nem telefonado?

-Não.

-Isso é passageiro, você vai ver, logo vai voltar para lá e tudo recomeça! Hoje tem cinema no Big John que tal?

-Ótima distração!

***

Noite de cinema no Big John era uma noite bem movimentada. A tela grande no centro do bar atraia a atenção dos que chegavam e ocupavam lugares nas mesas, todos ansiosos em descobrir naquele nada branco qual seria o filme da noite. Elis encontrou a alegria dos amigos numa das mesas bem próximo da tela para não perderem um só detalhe das imagens.

O filme da noite fora anunciado e logo o Big John era silêncio total. –Essa noite no Cine Big John vamos viajar nas imagens de “Assédio”, filme de Bernardo Bertolucci. Era filme conhecido por Elis e seus olhos estavam ansiosos para rever aquelas cenas novamente.

A música africana cantada quase como um grito de desespero no início do filme penetrava fundo nos ouvidos de todos no bar, desde os que estavam no fundo até aqueles da frente envolvidos nas imagens de olhares tristes e sofridos por uma repressão. Elis perdeu-se dentro daquelas imagens era um de seus filmes preferidos, e não deixava de lembrar cada cena que ainda estava por vir.

No fundo do bar silenciosamente ainda chevagam algumas pessoas, entre elas Nino que ocupou um lugar no fundo, pois não havia como ficar mais próximo da tela, estava cheio. Seus olhos encontraram aquelas cenas pela primeira vez, estava profundamente atento ali, preso a novas cenas, e nem percebera os amigos e Elis mais na frente.

As luzes voltaram a iluminar todo o bar revelando rostos surpresos com o desfecho do filme, alguns copos ainda cheios abandonados pela atenção que fora toda depositada nas cenas que agora acabavam. Era como se todos despertassem de um sonho, se desligavam da envolvente história da moça e o pianista e voltavam a pensar em sua vida real e sua cerveja já quente e esquecida.

Elis voltou-se para trás procurando Gim, mas seus olhos encontraram longe e ao mesmo tempo tão próximo o velho e conhecido rosto do Pequeno sapinho. Seus lábios tremeram em dúvida, se um sorriso ou um aceno distante. Seus pés e sua bomba no peito pediam que se aproximassem, mas não se sentia segura para um passo.

– Nino, senta aqui, nem tá bebendo nada! Gim gritou para o amigo no fundo do bar, ainda com surpresa espalhada em cada ponto de sua face, Nino levantou-se e juntou-se aos amigos e Elis.

–Viu o filme ou chegou agora? Indagou Lizy ao amigo que ocupou um lugar na mesa.

–Vir o filme todo. Os olhares de Gim, Lizy e Jorge comunicavam-se silenciosamente, não deixavam de analisar a falta de atitudes de Elis e Nino. Pareciam medrosos de encontrarem o olhar um do outro, sem palavras certas para dizer. Mas o cumprimento devia ser feito ambos desejavam o fazer e o fizeram.

-Nino...

-Elis e ai como vai?

-Bem, e você como estão as coisas?

-Tudo bem. Procuravam mais palavras para a conversa, fugindo dos olhos da outra que eram fixos nele. E o Marte, como está?

-Ele está bem. Sorriu um riso tímido, de lábios trêmulos. O outro deixou nascer nos lábios o sorriso esperado por Elis, esse sorriso que há dias não via em real, somente projetado em pensamentos, lembranças, sonhos.

A conversa jogada fora na roda de amigos ecoava na cabeça de Nino como música de fundo em sua cena da vida real. Não deixou de reparar nos traços que desenhavam o rosto de Elis, o olhar penetrado na conversa, pulando de amigo em amigo, de quando em quando deixando nascer um sorriso que não era o seu natural. Aquele era simples, distraído.

As maçãs rosadas, as pálpebras que brilhavam levemente, tudo eram fotografadas por ele. Ali ao seu lado, Elis sorrindo conversas de outros, borboleteava em seus pensamentos. Segurava seus olhos curiosos em analisar o outro, tentar descobrir como realmente estava passando; olhar que se esforçava para capturar aquela imagem discretamente. Em momento de distração e risos descobriu no outro um riso forçado, ou mesmo usado para disfarçar sua falta de jeito naquele momento e os pensamentos que vagueavam na mente. Elis daria moedas de ouro para descobrir o que se passava naquela cabeça pensante.

Eram onze, quando Nino decidiu ir embora acordaria cedo no dia seguinte para o trabalho, seus amigos concordaram, pois também tinham compromisso no dia seguinte. Gim reclamava que estava cedo para partir e que a noite escura iluminada por vários bares ainda pedia mais curtição. Elis e ele seguiriam juntos.

Abraços trocados na frente do Big John pelos amigos na despedida, discretamente olhares que se procuravam e encontravam-se entre um abraço e outro. Nino aproximou-se de Elis para cumprimentá-la, ofereceu seus braços a outra que o envolveu nos seus. Sentiram a saudade no aperto daquele abraço, enganavam a si próprios quando não encaravam um ao outro ou quando não trocaram tantas palavras na mesa. Mas, ao sentimento esse eles não enganavam. A luz nervosa do poste que os iluminavam rapidamente apagou e ascendeu, atraindo risos dos amigos, e surpresa dos dois que como num piscar de olhos viram desaparecer e aparecer seus rostos.

–Que energia! Gim e seus comentários brincalhões tiraram risos de todos.

–Até mais, boa noite! Despediram-se e seguiram para suas casas.

Aquele último encontro no Big John parecia ter sido desenhado pelo destino a favor de Elis e Nino. Não deixaram de pensar neles após aquele reencontro, e apesar de ter ficado escondido no fundo de suas mentes o desejo de permanecer um pouco mais, observar mais um ao outro e aproximar suas mãos, despediram-se naquela noite deixando partir junto com eles essa vontade de entregar-se novamente.

A menina


Só por vaidade

ela comprara um vinil do Gil.

Só por vaidade,

acordava às 7:00 para ver a luz do dia

refletir em seus fios.

Só por vaidade,

escolhia os livros pelas belas capas e

empilhava todos na estante vazia da sala.

Só por vaidade,

exigia o olhar do rapaz à passar

todas as tardes ao lado do bar.

Por teimosia,

vestia preto quando a ocasião pedia branco

cantava alegria quando chovia tristeza o dia

amava aquele que não a amava e o outro chorava.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

C'est tout!


Pulei do ano velho para o novo, decidida a ser feliz, subir em árvore, catar conchinhas à beira-mar... Sei lá.

Apesar desses dias estranhos, quando parecia sentir o chão partindo abaixo dos pés, as paredes derretendo e reconstituindo-se com uma metade da história que não conhecia. Apesar dos olhos que arderam, e das noites vazias que me levaram o sono embora. Apesar de tudo, estou decidida a ser feliz, subir em árvore, catar conchinhas à beira-mar, procurar o raio verde em qualquer pôr-do-sol desses e sorrir até minha boca rasgar de tanto esticar.

Não acredito em coincidências, mas em destino e há coisas que só são apresentadas a gente quando alguém lá em cima sabe que podemos carregar. Quando possuímos um equilíbrio necessário para tal coisa, pois cá estou eu e meu equilíbrio, coração leve, peito suspirando e pronta para esse e os anos que vem pela frente.

Não está entendendo nada? Tudo bem. Existem coisas que não são feitas para serem explicadas, mas sentidas. Nesse caso, sentir e muito, mas houve explicações que não justifica nada, mas que é necessário suportar e seguir. Por isso, não explico o que significa todas essas palavras suspiradas, só pertence a mim.

O que fica, o que reescrevo, é que esse ano entrei decidida a ser feliz. C’est tout!

Meu pequeno sapinho

Capítulo sexto...


Elis e seu trabalho artístico com tênis all stars continuavam espalhados na sala de estar. A TV mostrava uma entrevista com um psicólogo especializado em relacionamentos amorosos, o que irritou Elis que desligou a caixa de cores. Havia concluído o colorido de um tênis feminino, era de uma garota do mesmo prédio que morava. Continuava vendendo bem os all stars com a propaganda de um cliente para amigos e conhecidos conseguia mais clientes.

Seus olhos cansados foram grandes no relógio, eram quase nove, Nino estava uma hora atrasado. Elis deixou o chão e os materiais de trabalho e foi ter na janela, Marte a seguiu pedindo carinho das mãos da mãe, ela não negou seu pedido silencioso. Penteava com os dedos os pêlos de neve do filhote, mas logo deixou o gesto carinhoso trocando por um turbilhão de pensamentos que invadia sua cabeça. Um leve barulho das chaves anunciou a chegada de Nino que logo estava dentro do apartamento. Olhares que dispensavam sorrisos encontraram-se e teve o silêncio quebrado por Elis.

- Disse que chegaria no horário? O tom não era irônico, era uma pergunta que tentava sair natural, mas não trouxe paz para ambos.

-Fiquei com os colegas do trabalho de novo, sabia que a gente ia discutir.

-Meu Deus Nino, eu não consigo acreditar que está agindo assim. Você não quer discutir ai foge, vai para um boteco com colegas para fugir de mim?

-Elis, esse assunto está um saco.

-Que infantil.

-Infantil, eu?

-É Nino, você.

-Não posso responder isso. Elis eu acho que é melhor a gente dá um tempo, ultimamente a gente anda discutindo muito, você não me entende.

-Não seja dramático, não faça de nossa vida uma novela!

Buscou os olhos de Nino que não tiveram coragem de encarar aquele firme olhar. Elis então, entendeu que ele não brincava, estava decidido. Foi ter no quarto mordendo palavras que desejavam sair. O bornal de estampa colorida há meses guardado foi tirado do armário, roupas e objetos pessoais foram colocados na mochila. Elis andava de um lado a outro do quarto com pressa nos pés, enquanto colhia uma coisa ou outra, não escolhia muito, pegava o que estava mais fácil diante dos olhos. -Isso não é real! Pensava permitindo que as lágrimas rolassem em seu rosto. Calçou uma sandália, descansou a mochila nas costas olhando ainda uma vez o cômodo, fotografando tudo.

***

Nino tomava um suco na cozinha, seus pensamentos eram batidos como liquidificador em sua cabeça. Corpo encostado de costas na pia, olhar fixo na entrada. A aparição em silêncio de Elis na porta, de mochila nas costas e nos braços, Marte que se sentindo tão acolhido nos braços dela estava quase dormindo.

-Não precisa sair Elis.

-Eu vou para casa de minha mãe, vou levar o Marte, ele vai ficar muito sozinho durante o dia.

Secava os olhos antes mesmo de deixar caírem às lágrimas. A expressão triste no rosto de Nino entregava a insatisfação com o que estava acontecendo, mas sua razão lhe pedia um momento distante um do outro. De quanto tempo? Não sabia dizer. A despedida jamais imaginada por Elis silenciou os dois, fazendo palavras ficarem presas na garganta. Ela olhou ainda uma vez para Nino, ele não conseguia encarar os firmes olhos de Elis. Ela acenou um adeus e partiu.

A ordem da coisa


Primeiro, é feito a descoberta. O fato mais louco que lhe poderia ter acontecido até agora.

Depois, põe-se a pensar em uma solução mais sensata entre razão e emoção, para não errar a mão.

Seguindo, a espera. Essa desgraçada espera. Enquanto súplica para que o tempo leve tudo e batalha consigo para ser forte, sai para o lugar mais alto onde pode está e diante do rio percebe longe os barcos que se encontram, a lancha que corta a água e sente o vento forte beijar-te o rosto.

Uma fuga de si, do mundo, de tudo. Mas volta, alguém precisa muito dela e volta.

A cabeça continua uma caixa apertada e dolorida.

Não há música que lhe roube, que lhe traga paz, não há sorriso que lhe faça esquecer o que há, não há nada que lhe cure o incurável.

Tem unhas mal feitas, os olhos cansados, mas permanecerá forte.

Minha vida é um filme da nouvelle vague


É engraçado pensar no amor esses dias, quando um turbilhão parece me empurrar coisas ocultas por tanto tempo e com tanto...

O que é o amor, o que é essa coisa louca? Não me refiro somente ao amor entre homem e mulher ou amor acompanhado de desejo carnal. Mas, também aquele entre irmãos, pais e filhos...

O que é essa coisa que alguém nomeou de Amor? Que sentimento é esse que nos faz optar por atitudes, às vezes tão insensata e outras tão justas?

É mesmo esse sentimento que leva alguém a ocultar algo tão grande e tão importante durante tanto tempo? É mesmo esse que sufoca e também cuida?

O amor é uma daquelas coisas que não existem para ser explicadas, mas sentidas. Porém, os efeitos que esse tal de amor causa, ás vezes precisam ser explicados e preciso dessa explicação.

Começo a pensar que a minha vida é um filme da nouvelle vague. Então por favor, alguém grita aí: Corta!!!

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Meu pequeno sapinho

Capítulo quinto...

Um brilho diferente no sorriso perolado de Nino. Naquela tarde voltou para a casa explodindo felicidades. Tomou Elis nos braços, essa logo precisou largar o lenço que estava nas mãos.

– Consegui. Disse ele tatuando beijos no rosto da garota confusa, porém sorridente. Libertou Elis de seu forte abraço e continuou: - Consegui um emprego numa empresa de arquitetura lá no centro, começo amanhã...

-Isso é ótimo Nino, mas será arquiteto mesmo, vai realizar projetos? Já?

-Não, que dizer vou trabalhar como arquiteto sim, mas em conjunto não vou assinar nada sozinho, mas isso é por enquanto, vou chegar lá...

-Claro... Eu tô muito feliz por você. Então vamos sair e comemorar?

-Vamos, eu falei com a galera e vamos para o Big John hoje às 7:00.

-Ótimo! Beijou-lhe os lábios felicitando o namorido, Marte e seus pêlos de neve logo se meteu no meio do abraço dos dois arrancando sorrisos de ambos.

Naquela noite no Big John, bar freqüentado pelo casal, Nino e Elis encontraram três amigos próximos, os inseparáveis Jorge e Lizy e ainda o Gim. Compartilhavam sorrisos e boas piadas de Gim enquanto tomavam cerveja.

–Eu tô falando sério, não foi engraçado galera...

-Gim, pensa cara...

-Não faz pedidos difíceis a ele Jorge. Lizy brincou com o amigo conseguindo risadas e mais risadas de todos ali na mesa. Bagunçou os cabelos que chegavam aos ombros do amigo, demonstrando que era apenas uma brincadeira.

-Vocês já riram demais de mim por hoje, agora vamos, conta Nino e esse emprego? Já sabe se dá para emprestar uma grana para mim no fim do mês?

-Mas o senhor é muito folgado... Caíram em risos, Nino sorria por detrás do gole de cerveja lutando para não rir tanto que fizesse chover cerva. –O emprego é bom, é na minha área então vai dá certo, vamos brindar à mim...

-Meu Deus, mas ele nem se acha, “vamos brindar á mim”... Mas só você Nino. Lizy falou entre risos, acompanhou os outros com os copos suspensos no ar e brindaram a nova fase do amigo.

***

Realmente era a vez de Nino. Aquela oportunidade havia chegado para aliviar sua ansiedade pela busca de um emprego, mas, além disso, havia algo que parecia ser ainda mais importante na conquista daquele trabalho. Era o momento que esperava para provar aos outros que era capaz.

Naquela noite Elis havia preparado um jantar o que era uma vitória para ela que pouco entendia de cozinha. Uniu a sua vontade e ingredientes saborosos, e daí fez o macarrão com cogumelos, voilá. Ainda em um avental colocou pratos na mesa, copos e talheres, tudo para um jantar perfeito. No centro um espaço para a bandeja com seu macarrão já havia sido reservado e ali bem ao lado o vinho que ela mesma comprara naquela tarde aguardava ansioso para ser degustado.

–Pronto! Agora Marte a mama aqui vai se arrumar para a chegada do Papá. Deixou a cozinha, banho e logo depois se arrumaria para aguardar a chegada de Nino.

Já bem confortável naquele azul básico e claro, sentou-se em um dos Pufs com uma revista em mãos para esperar os ponteiros do relógio rodarem e finalmente trazer o namorido para casa, faltava pouco, meia-hora. Mas, essa meia-hora passara rápido e a chegada de Nino era coisa da imaginação de Elis. A revista cobria seu rosto zangado, preocupado e ansioso, mas sua perna cruzada na outra denunciava tudo isso enquanto subia e descia balançando sem parar. Era a impaciência vindo incomodá-la. Olhou para Marte parado na porta, ele já havia até deitado e cochilado, passavam das dez.

-Eu odeio isso, mas não tenho outra escolha!

Tomou o celular nas mãos e discou os números do outro, aguardava a cada chamada que a voz dele dissesse um “alô”, mas aqueles “pans” de chamada eram uma música irritante depressiva para ela. Desligou quase afundando o botão do aparelho de tão forte. Levantou-se deixando a revista escorregar de seu colo, foi ter na cozinha onde os pratos eram tirados da mesa quase que sem pressa alguma, seus pensamentos dançavam confusos na mente, não percebeu a chegada repentina do outro.

-Elis... Sorriso largo no rosto, nem mesmo percebeu a falta de sorriso da outra. Por vê-la com pratos nas mãos acreditou que estaria colocando a mesa.

-Tentei falar com você...

-Eu não ouvir o celular, vi agora a ligação, desculpe eu não avisei que iria demorar o pessoal no trabalho me chamou para um bate-papo ao lado da empresa...

-Tanto faz! Deixou os pratos na mesa novamente, mas um por cima do outro. Passou por ele sem mesmo trocar olhares com Nino, que não deixou de notar depois de sua frase seca que havia algo errado. –Então... O que aconteceu? Me desculpa, eu não avisei...

-Nino, preparei um jantar legal para gente, vinho, tudo o mais porque queria fazer algo diferente para gente. Te esperei e nada de você chegar, liguei para você e nada de você atender, e você nem ao menos para me avisar que iria chegar atrasado hoje.

-Eu não fui legal, mas... Elis a gente pode jantar agora, eu tomo um banho rápido e sentamos...

-Nino, toma seu banho e janta o macarrão está no microondas. Até amanhã!

Abandonado sozinho na cozinha, quando foi dormir depois de jantar Nino não pode conversar com Elis que já havia pegado no sono. Na manhã seguinte antes de sair, uma conversa no café da manhã parecia colocar as coisas no lugar. Nino e seu desejo de quebrar o silêncio fez da maçã uma ponte para os dois. Estendeu a fruta até Elis do outro lado da pequena mesa. –Quer? Conseguiu lhe tirar um sorriso, tímido que não resistiu ao outro, mesmo ainda chateada. –Eva é quem oferece maçã a Adão, Nino. Sorrisos eram novamente trocados em paz. –Engraçadinha!

-Não quero, obrigada!

-Vou levar comigo então. Volto no horário hoje e se acontecer alguma coisa ligo avisando. Fez uma pausa para mastigar um pedaço de sanduiche. –O macarrão estava muito bom, está de parabéns querida!

-Obrigada Meu pequeno sapinho!

-Acho que minha mãe vai ligar hoje, quando contei a ela que havia conseguido esse emprego ficou feliz claro, mas me encheu de perguntas como sempre duvidando que eu pudesse conseguir algo realmente legal. Mas, ótimo vou provar para todo mundo que “conhece” o Nino que ele não é incapaz de algo grande, e nem vou precisar roubar um banco para isso! Sorriu.

Naquele sorriso, naquele olhar deslumbrado e feliz Elis conseguia ver que Nino continuava a nadar naquele rio de idéias bobas de provar algo aos outros a sua volta.

-Vamos almoçar com eles no fim de semana, minha mãe convidou a gente!

-Nino precisa isso?

-O almoço? Também achava que não, mas eles querem me ver, sei lá, puxar o saco. Caiu em risos enquanto que Elis girava aquela colher no café preto.

-Eu posso dizer uma coisa?

-Pode.

-Não fica chateado...

-Pode falar...

-Eu não acho que está fazendo certo, acho que isso não é necessário. Nino eu não tô falando do almoço com sua família, estou falando de você e essa sua obsessão em provar, provar, provar. Para quê, me diz? Você é dez, você é bom no que faz, é um cara inteligente, coração de ouro, e não falo isso por ser sua mulher-namorada, eu digo isso porque conheço muito bem essa pessoa ai...

-Eu não estou entendendo, Elis...

-Está, está sim. Você se sente magoado por não acreditarem em você, família, alguns colegas, mas eu acredito, e não acho que deve provar nada a ninguém, você só precisa provar algo para você mesmo, você acredita em você, então, isso é importante.

-Você não sabe o que é... Não Elis eu não vou discutir isso com você, eu tentei outra vez e você continua sem me entender. Seu tom de voz entregava a sua chateação. Deixou a cadeira. -Qual o problema em querer provar para o mundo que eu posso fazer algo de grande?

-Nino, desse jeito parece que você não acredita em você mesmo, sei lá. Veja, pense você não tem outro objetivo senão esse, o tempo todo provar, provar, provar. Não precisa disso cara...

-Eu vou trabalhar Elis, você fica com suas certezas, eu fico com a minha. Bom dia!

Saiu sem mesmo olhar um nos olhos do outro. Voltaram a estaca zero, quando tudo parecia bem, as paredes do apartamento voltavam a testemunhar desavenças.