quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Sobre crianças de rua

Há mais ou menos um mês voltava do trabalho para casa quando me chamou a atenção uma cena silenciosa e bonita. O cenário era a Avenida Rio Branco (Rua da frente), no centro da cidade, o céu estava incrivelmente azul e o sol brilhava como nunca.

Os principais personagens dessa cena eram duas crianças de rua, sentados de frente para o rio naquele muro de proteção conversavam tranqüilos, sorrindo. Era como se esquecessem de toda a miséria que os cercam. Essa cena flutua até hoje em minha memória, vi tudo aquilo rapidamente através da janela de um ônibus, mas foi como se estivesse assistindo a um filme feliz sobre crianças sorrindo.

Desde aquele dia comecei a pensar na situação dessas crianças que vivem nas ruas, e como se caído do céu, encontrei em um sebo o livro “Tô Vivu- Histórias dos meninos de rua” de Maria Avelina de Carvalho. Esse livro foi a tese de mestrado da autora e também uma denúncia das condições de vida que levavam as crianças de rua de Goiânia entre os anos de 1987 e 1988.

Os meninos de Avelina, como ela mesma se refere às crianças em seu livro, “os meus meninos”. Essas crianças são as mesmas que vi outro dia observando o rio, são aquelas nas ruas de São Paulo, são todas as crianças que vivem nas ruas nesse país, e que são ignoradas, esquecidas e violentadas, humilhadas, exploradas, por essa sociedade. E o problema está na falta de estrutura familiar, na péssima educação escolar pública, principalmente, que tem esse país e na falta de uma reabilitação adequada nas instituições responsáveis.

O que essas crianças precisam não é de paternalismo, nem de nossos olhares de pena, esses olhares que ao mesmo tempo em que sente pena, ignoram a existência deles. Eles necessitam de algo que todo mundo sabe e finge não saber, aqueles que estão no poder sabem e continuam sem nada fazer pela educação, principalmente para que eles sintam-se motivados a crescer.

Ninguém nasce marginal, a sociedade que ignora, maltrata, revolta e os transformam em tal. O roubo, a violência, é a forma de se vingarem ou de sentirem-se importantes, mostrar que existem que estão ali e que precisam ser vistos.

Um forte exemplo foi o fato ocorrido no Ônibus 174 no ano 2000, quando Sandro que também foi um menino de rua, aterrorizou passageiros e chamou atenção do Brasil inteiro. Ele que antes estava à margem, naquele momento tornou-se o protagonista, usando da violência desejava mostrar que estava ali, que existia e que precisava ser reconhecido.

Essas crianças precisam ser respeitadas, tem direito a casa, trabalho, a VIDA, como todos.

Em um dos registros de Maria Avelina em “Tô Vivu”, ela escreve sobre o nascimento da filha de uma menina de rua de apenas 15 anos: “Por enquanto quero dizer que nasceu uma luz, uma esperança. Quem sabe nasceu um novo tempo?”

A autora escreveu essas linhas em 1988, estamos em 2010 e podemos ver que o sonho da Avelina infelizmente não se tornou realidade.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Pensando...

Como é que faz quando queremos mudar coisas na gente? Aqui dentro, internamente. Como é que faz quando não estamos satisfeitos com certas atitudes, manias e vícios já enraizados em nós e sentimos a necessidade de se livrar de tudo isso. De todas essas coisas que não nos servem mais?

Nos desconstruímos e aprendemos um novo jeito de ser desde o início?

Não prometerei nada para mim mesma, pois sei que quando se trata de manias e atitudes antigas, sabe-se lá o que vem amanhã, mas tentarei eliminar todas essas coisas que me incomoda e que me pertencem.

Se não entendeu não tem problema. Existem coisas que não precisam ser explicadas, apenas sentidas.

domingo, 24 de outubro de 2010

Como nos velhos tempos...




Sempre digo que não gosto dos domingos porque eles são tristes. Mas, para esse domingo não poderia usar essa frase.

Me sentir feliz de ver minha família, aquela velha família sem pai e sem mãe, como costumamos dizer, reunida novamente como nos velhos tempos. Aquelas risadas, um bom filme, algumas novidades. Foi bom sentir que mesmo por algumas horas você voltou pra gente. Poucos sabem o quanto isso significa pra mim. J

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

"Cine, Cine" - Luis Eduardo Aute

Não poderia deixar de postar essa linda canção que achei por um acaso em homenagem a Truffaut . j'adore!!!


Canción de Luis Eduardo Aute "Cine, Cine"

Recuerdo bien
aquellos «cuatrocientos golpes» de Truffaut
y el travelling con el pequeño desertor,
Antoine Doinel,
playa a través,
buscando un mar que parecía más un paredón.
Y el happy-end
que la censura travestida en voz en off
sobrepusiera al pesimismo del autor,
nos hizo ver
que un mundo cruel
se salva con una homilía fuera del guión.

Cine, cine, cine,
más cine por favor,
que todo en la vida es cine
y los sueños,
cine son.

Al fin llegó
el día tan temido más allá del mar,
previsto por los grises de Henri Decae;
cuánta razón
tuvo el censor,
Antoine Doinel murió en su «domicilio conyugal».
Pido perdón
por confundir el cine con la realidad,
no es fácil olvidar Cahiers du cinéma,
le Mac Mahon,
eso pasó,
son olas viejas con resacas de la nouvelle vague.


C'est beau...

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

"Criança, a alma do negócio"


Essa semana, por conta do dia das crianças eu tive acesso a um documentário interessantíssimo da cineasta Estela Renner, “Criança, a alma do negócio”. Estela em seu doc. faz uma reflexão sobre a publicidade direcionada ao público infantil brasileiro.

Apesar de não ser mãe ainda e por desejar ser um dia, esse assunto me chamou bastante atenção e me fez pensar um pouco em como a publicidade vem sendo cruel no momento em que usa das crianças para lucrar com seus produtos.

Estamos vivendo um tempo em que os pais trabalham muito na intenção de dar o melhor a seus filhos, em educação, saúde, lazer, etc. e acabam deixando o papel de criar para a babá. Enquanto eles batalham, suas crianças passam a maior parte do tempo na companhia daquela que desde cedo é transformada em sua “amiga”, a TV. É com a TV que essas crianças passam a maior parte de seu dia e tem sido ela que vem “educando” esses pequenos.

O que preocupa é essa “educação” que a mídia vem dando aos seus filhos e aos meus primos e que pode vir a dar a minha afilhada daqui á pouco. Afinal, que tipo de educação é essa que ensina a criança a ser consumista, que incentiva a competição entre elas ao invés de ajudar no desenvolvimento do senso critico deles que são o futuro desse país? Desconstruindo a verdadeira infância, correr, brincar, como fizemos um dia, como os nossos pais também fizeram.

O que me faz pensar em como os brinquedos mudaram, pois me lembro de minha mãe contar que em sua infância fazia bonecas até com pequenos sabugos de milho para brincar, meus tios jogavam pião e bola na rua. Hoje os brinquedos são outros, a informática é pesada, games com internet fazem sucesso entre os meninos, enquanto as meninas vêem suas bonecas não mais como filhas, mas como projeções, como modelos a serem seguidos, desejam ser “princesa”. Deseja passar tardes em salões de beleza, usar maquiagens, e o resultado de tudo isso é a erotização infantil.

A mídia que sempre ditou suas regras, modo de comportamento em nossa sociedade, não tem perdoado nem as inocentes crianças. Ensina a elas a regra “ter para ser aceito” desde cedo. Se para nós adultos o está relacionado a determinado grupo social, o ser aceito por determinado grupo é importante, imagina para uma criança de sete, oito anos, o que é isso? E ainda, além de “ter” é ensinado que é necessário “ter mais”, não para brincar e sim para o ser melhor, o prazer de ter o que o outro não tem.

Se você é ou não pai ou mãe, indico esse documentário. Se alguns publicitários e donos de empresas para as quais esses profissionais trabalham, estão mais preocupados com o aumento de seu lucro e pouco se importam com a educação passada para as crianças deste país, então é preciso que façamos alguma coisa.