quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Agnés, não!

SEGUNDA PARTE

Sentada na varandinha, realmente muito estreita aquela varanda de apartamento minúsculo. Ela observava o nada enquanto ouvia pequenos barulhinhos de lá de dentro, ele decidira mudar as coisas de lugar, as poucas coisas que tinham de lugar. As únicas duas velhas poltronas, a TV que não era ligada há semanas, o tapete velho.

Seus olhos não o encontravam, pois estava de costas para a entrada da varanda, mas sabia que todo aquele barulho era para lhe arrancar a atenção. Eu sabia que ele e seus olhos pequenos observavam os meus cabelos dançar de quando em quando pelo vento que invadia a varanda, sabia que notava a minha blusa estampada de flores amarelas, conhecia os detalhes mínimos, o botão que havia caído e que eu ainda não havia pregado, talvez por preguiça ou esquecimento.

Ele a admirava do lado de dentro do apartamento, os cabelos que subiam e desciam por conta do vento que invadia a varanda de quando em quando, a blusa estampada que ela vestia. Despertou do encantamento misturado ao orgulho quando o telefone tocou, deixou a vassoura que há alguns minutos estava presa em suas mãos e atendeu o aparelho que vibrava louco no bolso.

Tudo bem, eu vou descer, só um minuto. Tchau!

Os ouvidos da outra não deixaram de escutar as palavras breves dele ao telefone. Curiosa não se conteve e voltou-se para a entrada da varanda, o viu sair e a porta bater.

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