terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Meu pequeno sapinho

Capítulo sexto...


Elis e seu trabalho artístico com tênis all stars continuavam espalhados na sala de estar. A TV mostrava uma entrevista com um psicólogo especializado em relacionamentos amorosos, o que irritou Elis que desligou a caixa de cores. Havia concluído o colorido de um tênis feminino, era de uma garota do mesmo prédio que morava. Continuava vendendo bem os all stars com a propaganda de um cliente para amigos e conhecidos conseguia mais clientes.

Seus olhos cansados foram grandes no relógio, eram quase nove, Nino estava uma hora atrasado. Elis deixou o chão e os materiais de trabalho e foi ter na janela, Marte a seguiu pedindo carinho das mãos da mãe, ela não negou seu pedido silencioso. Penteava com os dedos os pêlos de neve do filhote, mas logo deixou o gesto carinhoso trocando por um turbilhão de pensamentos que invadia sua cabeça. Um leve barulho das chaves anunciou a chegada de Nino que logo estava dentro do apartamento. Olhares que dispensavam sorrisos encontraram-se e teve o silêncio quebrado por Elis.

- Disse que chegaria no horário? O tom não era irônico, era uma pergunta que tentava sair natural, mas não trouxe paz para ambos.

-Fiquei com os colegas do trabalho de novo, sabia que a gente ia discutir.

-Meu Deus Nino, eu não consigo acreditar que está agindo assim. Você não quer discutir ai foge, vai para um boteco com colegas para fugir de mim?

-Elis, esse assunto está um saco.

-Que infantil.

-Infantil, eu?

-É Nino, você.

-Não posso responder isso. Elis eu acho que é melhor a gente dá um tempo, ultimamente a gente anda discutindo muito, você não me entende.

-Não seja dramático, não faça de nossa vida uma novela!

Buscou os olhos de Nino que não tiveram coragem de encarar aquele firme olhar. Elis então, entendeu que ele não brincava, estava decidido. Foi ter no quarto mordendo palavras que desejavam sair. O bornal de estampa colorida há meses guardado foi tirado do armário, roupas e objetos pessoais foram colocados na mochila. Elis andava de um lado a outro do quarto com pressa nos pés, enquanto colhia uma coisa ou outra, não escolhia muito, pegava o que estava mais fácil diante dos olhos. -Isso não é real! Pensava permitindo que as lágrimas rolassem em seu rosto. Calçou uma sandália, descansou a mochila nas costas olhando ainda uma vez o cômodo, fotografando tudo.

***

Nino tomava um suco na cozinha, seus pensamentos eram batidos como liquidificador em sua cabeça. Corpo encostado de costas na pia, olhar fixo na entrada. A aparição em silêncio de Elis na porta, de mochila nas costas e nos braços, Marte que se sentindo tão acolhido nos braços dela estava quase dormindo.

-Não precisa sair Elis.

-Eu vou para casa de minha mãe, vou levar o Marte, ele vai ficar muito sozinho durante o dia.

Secava os olhos antes mesmo de deixar caírem às lágrimas. A expressão triste no rosto de Nino entregava a insatisfação com o que estava acontecendo, mas sua razão lhe pedia um momento distante um do outro. De quanto tempo? Não sabia dizer. A despedida jamais imaginada por Elis silenciou os dois, fazendo palavras ficarem presas na garganta. Ela olhou ainda uma vez para Nino, ele não conseguia encarar os firmes olhos de Elis. Ela acenou um adeus e partiu.

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