domingo, 9 de janeiro de 2011

Meu pequeno sapinho


Capítulo nono...

Nino estava na mesa há quase trinta minutos com olhos fixos em cima do celular. Levantou-se desanimado, descansando as mãos nos bolsos, passeava em passos lentos e olhar perdido pelo apartamento, as sobrancelhas subiam e desciam na face de vez em quando, pensava, pensava e pensava muito. Percebeu uma caneta no chão e apanhou, distraia-se agora brincando de fazê-la diminuir como uma mágica entre as mãos. Mas aquilo não o distraiu por muito tempo.

Meteu as mãos no bolso novamente e pegou as chaves, abriu e fechou a porta e estava decidido a sair. -Vou comprar Nescau, está acabando mesmo. Pensou. Descia as escadas em passos ligeiros, aqueles degraus já eram seus velhos conhecidos. Mas a pressa não fazia sentido algum. Morava no quarto andar e logo que chegou aos degraus que dava acesso do segundo para o terceiro andar foi tomado pela surpresa de encontrar Elis descansando sentada em um dos degraus. Ela olhou para trás assim que sentiu uma presença, e deu de cara com Nino. –Elis? Indagou surpreso.

Elis logo estava de pé. -Oi, eu estava descansando, essas escadas cansam. Sorriram.

Na verdade estava sem graça por ele ter surpreendido ela ali descansando sentada em um degrau. –Eu vim aqui perto trazer o Marte no pet shop e aproveitei para passar aqui e pegar umas coisas.

A última frase não foi música para os ouvidos de Nino que acreditou por um momento que a outra diria que havia ido o visitar ou mais que isso, que queria conversar.

–Mas acho que está de saída...

-Não, eu só ia comprar Nescau, vamos subir. O seguiu, não deixou de observar enquanto ele andava de costas, procurava alguma mudança, algo diferente, mas Nino permanecia o mesmo, aquele que ainda amava muito. Entraram no apartamento, Elis fotografava tudo ali rapidamente com um só olhar, sentia saudade de tudo ali, dos Pufs, da cozinha pequena, do quarto, da convivência com o namorido. Tudo.

-Quer alguma coisa? Um suco, sei lá?

-Água, eu aceito. Foram ter na cozinha, ele colocou um copo com água para ela e lhe entregou aproveitando que sua atenção estava no copo para observar seu rosto.

-Obrigada.

-Fica à vontade Elis, o apartamento ainda é seu. Aquela frase entrou no ouvido esquerdo de Elis e não saiu pelo direito, ficou marcada na mente.

-O Marte, estou com saudade dele, tem levado ele para passear?

-Levo sim, o Marte adora a rua você não sabe Nino?! Sorriram.

-Senta. Sentaram à mesa. –Amanhã é aniversário do Gim, o Jorge disse que ele tava a fim de fazer uma bagunça na casa dele.

-Ele me ligou avisando, e me acordou hoje com uma chamada.

Sorrisos tímidos, olhos que evitavam se encontrarem por uma onda de timidez. Em baixo da mesa os pés dela dançavam numa mistura de ansiedade e nervosismo, ele parecia calmo, mas escondia o nervoso mantendo-se firme, segurando um guardanapo. Um silêncio deitou sobre eles naquele instante, era possível ouvir um passo no andar de cima. Nino sorriu para ela como se procurasse assunto para quebrar o silêncio, mas nada vinha em mente.

Elis abriu a bolsa que descansava em seu colo, de dentro tirou um bloquinho de papel e um lápis, aquilo chamou a atenção da curiosidade de Nino. Seus olhos seguiam a mão que escrevia no papel, mas não conseguia ver o que estava ali escrito até que ela deslizou o papel até chegar nele. Nino leu ansioso, acompanhava as palavras em silêncio que dizia: Eu não vim aqui para pegar nada, eu não quero tirar nada que é meu daqui.

Nasceu dos lábios dele um sorriso discreto, e logo pegou o lápis dela e colocou-se a escrever, rapidamente o papel estava nas mãos da outra.

-Nem eu quero que tire suas coisas daqui, quero que traga tudo o que levou de volta. Aquelas palavras agradaram a outra que tornou a escrever e passou novamente o papel.

-Senti saudade de tudo aqui, tive vontade de ligar, mas não me senti segura. O Marte também sente saudade. O papel voltou às mãos de Nino que logo escreveu e devolveu com uma resposta.

-Eu sinto falta dos latidos dele, e de quando ele sonha e fica chorando dormindo. Sorriu ao ler. Escreveu e devolveu o papel a ele.

-O que a gente faz agora? Nino leu a pergunta e tornou a escrever. Elis não tirou os olhos dele que não mostrava uma expressão que denunciasse a sua resposta e aquilo a agoniava. O papel voltou às mãos dela.

-Você volta hoje mesmo para cá e voltamos a ser como era antes. Eu sinto saudade da gente e eu te gosto muito, eu amo você.

Um sorriso nasceu no rosto de Elis e aquele era maior que seu rosto inteiro, cheio de satisfação e felicidade. Deixou o papel na mesa trocando ele pelo abraço que os braços de Nino a oferecia. Ficaram de pé, deixaram a mesa, o papel, o copo com água. Esqueceram de tudo por um abraço e o beijo tão desejado nessas últimas semanas.

“Ask” voltou a ser berrada pelo celular, atraindo risos no meio de um beijo entre os dois. Elis atendeu, do outro lado da linha avisavam que Marte já estava liberado que poderia buscá-lo.

Nino e Elis foram juntos pegar o filhote no Pet shop. A felicidade de Marte ao rever seu “pai” foi expressa pela bola de pelos que cheirava a chiclete com muita alegria de seu rabinho que não parava de balançar enquanto ele tentava lamber o rosto do outro. Saíram do pet shop para um passeio até a casa de Elis, Nino guiava o Marte que cheirava o chão sem parar por onde passavam, enquanto de mãos dadas com a namorada recomeçavam suas vidas.

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