quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A imagem da mulher no reality show

A TV construiu um padrão ideal feminino, físico, emocional, profissional e social, padrão esse que foge da diversidade do sexo feminino brasileiro, com seus diferentes tipos de corpos, culturas, maneiras de pensar. Essas mulheres “reais” têm sido excluídas da TV. Bonita, pele perfeita, corpo escultural, magra. É assim que a TV impõe que a mulher deve ser.

Com a chegada do reality show na tv, especialmente o BBB da emissora Rede Globo, a imagem da mulher na televisão tornou-se pior, se antes a mulher para alcançar a felicidade devia gerar filhos, ser prestativas aos seus companheiros, colocando em segundo plano as suas realizações profissionais, etc. No reality show o perfil é outro e agride ainda mais a imagem feminina. O corpo da mulher é recortado e nasce um perfil físico “perfeito” de mulher, a “mulher-plástica”.

CONSTRUÇÃO DA “MULHER-PLÁSTICA” NO REALITY SHOW

O corpo da mulher é recortado, transformado no fim em um padrão de beleza idealizado pela TV. É no reality show, dando mais atenção ao BBB, por ser o mais assistido pelo público e por ser o programa de reality show brasileiro que mais recorre a esse tipo de estratégia para alcançar audiência. É nesse programa que a idéia de corpo escultural é mais explorada.

A mulher é recortada em partes, modelos perfeitos de corpos femininos, até chegar à uma personagem padrão, sem defeitos físicos. Depois essa “imagem ideal” é vendida nesses programas na beira da piscina junto com um produto do mercado ou como próprio produto, quando essas moças são convidadas a posar nuas em revistas e sites específicos em nu.

Fútil, efêmeras, pouco inteligentes. É dessa maneira que a mulher é representada no reality show. Bonita e sexy é o suficiente para colorir o programa, despreocupados com a humanização das moças participantes. Em umas das propagandas da globo.com “sua casa é Brother”, no ano de 2010, o corpo da mulher era apresentado como um dos produtos premiados. Mesmo sendo apenas brincadeira ou jogo de marketing, uma opção de péssimo gosto para chamar a atenção do público, novamente usando da imagem feminina como algo banal.

PACTO DE ENCENAÇÃO

‘No reality show não há roubo de imagem, as observações são com o consentimento de quem participa. Não se trata de voyeurismo, e sim de um “pacto de encenação”. (FELDMAN, 2008)

Não há uma preocupação da parte dessas mulheres que participam do programa em se preservar, há um consentimento ou “pacto de encenação”. Mas, não acredito que encenem a elas mesmas, o que buscam é uma fama, ainda que instantânea, e por isso se sujeitam a mudanças para alcançar esse objetivo.

As mulheres participantes do reality show se transformam em “mulhere-plástico” na intenção de buscar um espaço na mídia. Recorrem a cirurgias plásticas, aumentando os seios, fazendo lipoescultura, modelando o seu corpo aos padrões ditados nesses programas. O que está em risco é a sua fama, mesmo passageira, muito sonhada. Se adéquam a esses padrões e tornam-se celebridades, se rendendo a uma cultura que faz culto ao corpo. Esquece que é um ser pensante e por essa fama prefere ser conhecida por seu belo “bumbum” que por suas idéias. “Não tem opinião, nem sentimentos, mas possuem bunda”.

Ainda que algumas participantes possuam “boa formação universitária”, mostram-se alienadas pela mídia. Enquanto mulheres “modernas” não deviam se render a uma sociedade ainda machista que a reduz a bumbuns e que ao mesmo tempo em que as admira também são preconceituosos com elas, as considerando ignorantes, vulgares, etc.

Na mídia, enquanto para os homens a imagem dessas mulheres é visualizada como objeto sexual; as mulheres buscam ter os corpos que vêem do outro lado da tela, de aparência próxima, projetam-se nesses corpos na intenção de fazer sucesso em seu mundo “real”. O problema está quando esses modelos são reproduzidos por essas mulheres comuns, passam a ter o mesmo comportamento, buscar as mesmas plásticas, e por fim temos um modelo generalizado de “mulher-plástica”, fútil, efêmera.

A MULHER E A MÍDIA

A maior preocupação da mídia é com o seu programa no topo da audiência. A mulher está lá como produto de consumo visual, é o seu corpo que lhe levará ao topo, quem atrairá o público. Em uma sociedade em que a maioria das pessoas acredita que tudo o que é dito pela mídia é certo, não é algo tão difícil de conquistar. Além disso, estamos em uma cultura em que o culto do corpo é mais importante que o ser pensante.

Quando pensamos em mulher na mídia, e ligamos a TV, é como se hoje estivéssemos diante de dois tipos de mulher. De um lado a mulher certinha, aquela ditada nas novelas das oito, a mulher que alcança a felicidade ao casar-se, gerar filhos, se dedica ao marido e a família, e deixa em segundo plano suas realizações profissionais. Do outro lado está a mulher vulgarizada do reality show. Sem idéias, consideradas ignorantes e superficiais, porém com um belo corpo modelado.

Na sociedade em que vivemos é dessa maneira que boa parte dos homens dividem as mulheres, entre mulheres para uso e as certinhas, aquelas feitas para casar com eles e cuidarem de seus filhos. Infelizmente o olhar que consumimos na TV é esse mesmo olhar, aceitado pela maioria das mulheres.

Com esse texto não quero negar que a mulher não deve permitir-se cuidar de si, recorrer a plásticas ou tratamentos de beleza para se sentirem mais bonitas. Pelo contrário a mulher deve se preocupar consigo, se cuidar para sentir-se bem , para agradar a ela mesma antes de tudo e não a uma sociedade que impõe e a uma mídia que dita padrões estéticos e até emocionais. Mas, é importante que essa mesma mulher esteja atenta a degeneração de sua imagem nesses programas de reality shows, deve se preocupar em desmistificar essa imagem criada pela TV.

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