domingo, 31 de maio de 2009

II Capítulo




A Observadora não sabia que era também observada.
Notara seus cabelos escuros presos naquela manhã, escondia o brilho dos fios negros, mas não lhe tirava a beleza que trazia na face de finos traços. Era capaz de fechar os olhos e ver os dela puxadinhos no canto, seus lábios naturalmente vermelhos e aquela pele levemente rosada pelo blush.
A observadora havia desligado o telefone, mesmo assim o colega da cabine da frente ainda prestava atenção em seus movimentos. Ela esticou as pernas, deixou a cadeira de trabalho e aproximou-se de umas gavetas de arquivos, tirou a pasta azul.
Abriu, passava folha dava atenção a uma outras não, ajeitava delicadamente com uma das mãos os fios de cabelos que caiam nos olhos os colocando detrás da orelha.
Parecia satisfeita, abandonou a pasta na mesa e deixou a sala, logo ele se colocou a procurar algo para fazer, ela decerto colocaria seus olhos na cabine onde estava e o pegaria observando. Desapareceu no corredor.
Como se sentisse os passos aproximarem-se colocou os olhos grandes além daquele vidro, saboreava um cafezinho quente naquela manhã fria.
Novamente sentada atrás daquela mesa pegou na pasta azul, pela sua expressão sem mal ou bom humor havia um trabalho um pouco chato a fazer.
Quando o homem sério atrás daqueles óculos de grau tirava os olhos dela, a outra o observava. Ele destacando decerto os longos e brilhosos cabelos da colega e ela guardando em sua memória a concentração daqueles óculos na cabine da frente.
“Finalmente aquele expediente havia acabado, esperei o dia inteiro por isto”...
Como todos os dias abriam e fechavam as portas, ouvia-se o, até logo, de sempre e correspondiam-se os sorrisos de despedida.
Nem acredito que esse dia acabou meus pés doem dentro desse sapato 38, e minhas pernas, essas pedem que eu circule.
Eles estão saindo, as portas abrem e fecham ao mesmo tempo e depois de um expediente inteiro observando um ao outro trocam apenas uma palavra: Tchau! Ora isso chega a me causar revolta.
E lá se foram mais uma vez o homem sério para o lado direito da Rua Olavo Bilac, onde está localizado esse escritório. A outra seguia para o lado esquerdo, sempre pegava um taxi na esquina.
Fiquei por último, nunca vi esse escritório tão vazio. Não posso ver as cabeças concentradas nas cabines ao lado e nem na frente. Ninguém nos telefones, computadores desligados.
Não posso ir para casa sabendo o que irá acontecer amanhã, novamente meus colegas irão passar por desencontros de olhares, ficaram disfarçando seus interesses. Não, não vai dá para ver as mesmas coisas acontecerem amanhã.
Ainda tenho dez minutos antes que fechem o escritório, é o tempo suficiente para meu plano. Um bilhete!
Um não, dois bilhetes, um para cada e assinado por ambos. Mas o que aquele homem sério escreveria para ela? Mas claro, combino um encontro o mesmo bilhete para os dois com assinaturas diferentes.
“Adoraria dividir com você a mesa daquele café do outro lado da rua no horário de almoço”...
Isso precisa dá certo, pronto, bilhetes prontos, e dobrados, tenho dois minutos antes de fecharem o escritório para deixar os bilhetes na mesa de cada um.
Quando ele chega nessa cabine de vidro sempre olha para a foto da família, o que tem nos olhos de grau é saudade dos entes queridos, soube que todos estão morando em outro estado.
Deixo o bilhete aqui bem embaixo dessa foto.
Agora o recado para a moça da cabine da frente e minha missão acaba. Bilhete entregue a mesa e me despeço do trabalho por hoje.

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