quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Meu velho rosto

Com esses olhos fundos que tenho, marcados como se estivessem sempre de ressaca, com essas olheiras que não me largam. Ai essas olheiras! São com esses olhos que observo em silêncio do outro lado do espelho esse rosto, o meu velho rosto, e me pergunto: Será que ele continuará o mesmo para sempre?
Distante de um romance de um conto de fadas, minhas preocupações são completamente outras. São elas: Quem serei amanhã? O que farei no futuro? Estudo mais isso ou aquilo? Devo ficar ou devo ir?
E me pergunto novamente, será que terei esse mesmo rosto para sempre? Um rosto pequeno, olhos que vivem com vizinhos indesejáveis (as velhas olheiras), esse sorriso que aparece largo, mas que também se esconde. Isso me faz lembrar que, às vezes estou sorrindo, mas os meus lábios não e enquanto os outros acham que estou distante, chateada, desejo que saibam que estou sorrindo, mas que a preguiça de mexer os lábios é quem está dominando naquele momento.
Preguiça... Essa coisa de preguiça é coisa muito séria. Sabe que, às vezes, não sei explicar bem isso, mas sinto como um peso invisível, uma preguiça de falar vontade de apenas ouvir, porém sempre vem algo mais forte e me rouba o silêncio, como as perguntas de mamãe.
O rosto de mamãe foi transformado pelo tempo, é bonita a minha mãe, possui uma alegria contagiante naqueles traços que atravessam seu rosto. E por falar em tempo...
Ele venceu, continua passando apressado por mim. Mas, não me acomodo, apesar de ter sido derrotada por ele, o desafio de quando em quando (ultimamente com mais freqüência) e o administro encaixando minhas coisas. Nesses momentos antes do tempo dizer: “Querida, não vai dar!” Sou mais rápida e aviso: “Vai ter que dar, senhor tempo.”
Mas, não vou ficar contando vantagem em cima do tempo, coitado, afinal a perdedora sou eu, ele é quem pode contar vantagem em cima de mim. Espero que ele não seja tão agressivo quando decidir o destino do meu rosto, se irá mudar ou não.
O tempo transforma tudo, mas nem tudo se torna feio. Outro dia comprei dois livros no Sebo do pai de uma amiga, são eles: “Zona Morta” de S. King e “Histórias que nunca esqueci” de Hitchcock. Ambos os livros com aquele cheiro de guardado, de fundo de armário, com aquelas páginas amareladas, marcas dos anos, do tempo. É como se as mãos que já passaram por eles nos convidassem a sentir o mesmo prazer, a mesma emoção que sentiram. Uma expectativa a cada página de saber o que vai acontecer, aquela mania velha de tentar adivinhar os próximos acontecimentos. É excitante.
Mas, e o meu rosto? O jeito é esperar o tempo passar e ver o que acontece.

Um comentário:

  1. passando para conferir seus passeios verbais.... adoro ler o que vc escreve....


    Beijocas

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