segunda-feira, 14 de março de 2011

O homem com o cigarro



Não havia sax, nem mesmo baixo, mas as notas tocaram claras saindo dos fones em seus ouvidos quando ele chegou. Aqueles passos sem pressa acompanhavam as batidas do som do Morphine, e ele nem imaginava que fazia parte de um filme imaginário na cabeça de uma desconhecida.

As pernas vestiam um jeans velho, o braço protegia um jornal de quinta, enquanto as mãos se ajudavam para acender o cigarro. O homem com o cigarro. Era assim que o chamaria, não possuía nome ainda, não conhecia nem mesmo a sua voz.

Os olhos dela deixaram os gestos dele para ver rapidamente se seu ônibus se aproximava, mas nenhum ruído, nenhum sinal da carroça velha. Então voltou com seus olhos espiões para o rapaz.

Discretamente sentou-se no banco vazio do ponto de ônibus, enquanto observava o rapaz que estava a poucos metros. Ele não possuía chapéu ou mesmo suspensório, mas lhe fazia lembrar o John Lurie nos filmes do Jarmusch, e poderia vê-lo em uma imagem preto e branco se fechasse os olhos. Segurava com uma das mãos o jornal, procurando se informar das principais notícias e ao mesmo tempo liberava a fumaça tragada do cigarro para o vento.

Então um ônibus se aproximou, e estacionou trazendo para o ponto uma fumaça negra, e um barulho que lhe irritava os ouvidos. O barulhento parou diante de seus olhos, leu o letreiro e não era aquele que a levaria ao seu destino, era o ônibus esperado pelo desconhecido que passou por ela deixando um cheiro de cigarro acariciar o seu nariz e partiu.

Em breve voltaria a vê-lo novamente. O desconhecido. 

2 comentários:

  1. Retribuindo a visita.
    seu blog é um charme, excelentes texto
    parabéns. Quanto ao comnentário, o livro é ótimo num consigo para de ler.

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