sexta-feira, 11 de março de 2011

Conto de Inverno (Conte d'hiver)


Catherine do “Jules et Jim,Gabrielle de  “Uma garota dividida em dois”... E Felicie de “Conto de Inverno” do Eric Rohmer, uma mulher que ama três homens de maneiras diferentes.

Finalmente comecei a ver os filmes da série de “Contos das quatro estações” do Eric Rohmer. O primeiro lançado em 1990 foi o “Conto de primavera”, mas comecei pelo segundo, “Conto de inverno” de 1992.

Nesse filme, Rohmer aborda a história de Felicie que após viver um romance arrebatador em umas férias de verão, dar o seu endereço errado ao rapaz por conta de um lapso e isso impede que eles voltem a se encontrar. Mas, ela jamais esqueceu Charles, e a sua filha fruto da relação deles naquele verão é a sua lembrança viva dele.

Cinco anos depois, Felicie se encontra em Paris onde vive com sua filha Elise e sua mãe. A moça mantém um namoro com o cabeleireiro Maxence que está prestes a se divorciar, e também mantém o romance com o intelectual e bibliotecário, Loïc.

Felicie ama Maxence e Loïc de maneiras distintas, mas o seu amor por Charles a impede de seguir sua vida seja com qualquer um dos rapazes.

Ela não engana ninguém, é fiel aos seus sentimentos, um rapaz sabe do outro e também da existência de Charles e da esperança de reencontrá-lo. Mas, ninguém acha provável esse reencontro.

Aqui Rohmer também discute filosofia, religião, coincidências, destinos e probabilidades.

Em uma conversa com Maxence, no final de semana em Nevers, Felicie e o namorado discutem a probabilidade. Ela pensa em respostas que expliquem o porquê de Charles não a ter encontrado, mesmo com o endereço falso.

Decidida a morar com Maxence em Nevers e tentar dar um rumo a sua vida, a personagem vai à casa de Loïc em uma noite avisá-lo de sua decisão. Ao chegar à casa do bibliotecário, ele está com amigos discutindo sobre um romance, ela que se diz ignorante apenas ouve e observa a conversa.

Em determinado momento do filme confessa a mãe que não gostaria de ser esposa de Loïc, pois que não a agrada ser dominada intelectualmente, mas fisicamente sim.

Após o jantar, ele e seus amigos discutem religião, a alma e o sobrenatural. Loïc é católico e quando sua amiga, espírita, diz que não há diferença entre o sobrenatural dela e o dele, pois todas as religiões acreditaram em reencarnação, ele discorda. Diz que ela recusa o sobrenatural cristão e aceita os outros, assim sendo alvo de charlatões. Ela, por sua vez, diz não conhecer nenhum charlatão, pois não faz parte de uma seita, não dar dinheiro a ninguém e compra livros usados. Ele sim é vitima do charlatanismo cristão.  

Loïc continua sua defesa dizendo que a reencarnação suprime a responsabilidade, que podemos ser responsável por apenas uma vida. Então, Felicie, que até então apenas observava, decide expor sua opinião discordando, pois para ela se o espírito passa por diversos corpos ela pode se aperfeiçoar aos poucos e isso suprime a responsabilidade. Apesar de achar encantadoras as palavras da namorada, ele é contra, diz que não passam de palavras.

Apesar de amá-la é racional o tempo todo, é um homem dos livros. Ela sente. Felicie diz que se um dia dissesse que o amava ele consultaria Shakespeare.

Rohmer aborda a fé em “Conto de inverno”.

Felicie está vivendo em Nevers com Maxence, e em uma tarde vai a Catedral com sua filha Elise que deseja ver o presépio. Ela não é católica, se diz brigada com a religião e é naquele momento na igreja que Felicie conversa com Deus, á sua maneira ela não reza, vai além, estabelece contato com Ele refletindo e então descobre sua fé e nela encontra uma luz para a sua vida.

Decide deixar Maxence e voltar a Paris com Elise, mas não para Loïc, apesar de procurá-lo, ela volta para a sua esperança de reencontrar Charles, o pai de sua filha.

De volta a Paris, Felicie acompanha Loïc que vai ver uma peça de Shakespeare, “Conto de inverno” título com o qual Rohmer também batiza seu filme. A personagem se identifica com a história da peça, se envolve completamente se emocionando durante a apresentação.

A peça trata de pessoas que supostamente mortas vão para o exílio e retornam ressuscitadas. Loïc se sente em dúvida, se a rainha, personagem da peça, mexeu-se porque ainda não estava morta ou se era magia. Felicie tinha uma certeza quanto a sua dúvida, para ela o que havia a ressuscitado foi a fé.

Foi a fé quem devolveu a esperança a Felicie, o acreditar em algo mais forte foi quem lhe deu força. Ela não se converte ao cristianismo, ela acredita em Deus, e sejamos católicos, evangélicos, espíritas, ou qualquer outra religião, é a fé que depositamos em Deus, pois existe apenas um, é ela quem nos dar equilíbrio.

Não possuo religião, mas é a fé que me coloca em equilíbrio e paz de espírito.

A coincidência ou destino (gosto de acreditar em destino) é quem leva Charles ao encontro de Felicie, em uma tarde do dia de ano novo. 

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