quinta-feira, 8 de março de 2012

Incompreendida

Amava muitas coisas e odiava muitas outras, pensava que se listasse tudo não caberia na página em branco em sua mente. Achava lindo viver, mas compreendia que era muito difícil. Todos os dias era momento de se transformar, tirar a casca velha que lhe cobria e renascer, excluir defeitos, desconstruir-se e reconstruir-se. Estava aprendendo a viver.

A fase de tentar compreender as coisas havia passado e agora se perdia na tentativa diária de saber viver. Só então entendia a angústia de ser um personagem de Clarice Lispector.

Viver não é fácil meu bem, mas vai e tenta. Desafiava a si mesma todos os dias.

Sentia que os outros não a compreendia e aqueles que demonstravam a compreender, certamente a interpretavam errado e isso lhe doía os pensamentos. Não pensar, às vezes, era bem mais fácil (mas era difícil se privar de pensar, pensar em não pensar já está pensando), o bombardeamento de pensamentos lhe colocava em situações complicadas, em conflito consigo mesma e era a pior das situações.

Carregava um mundo dentro de si onde tudo era mais intenso, sonhos, desejos, dores, tristezas. Se perdia dentro dela e voltava cheia de dúvidas e ansiedade. Sorridente, meio perdida, pobre de concentração.

Pensava como certos sentimentos eram tão particulares, quando do início de uma paixão, por exemplo, sente-se indescritível, algo como uma alegria que cresce aos poucos. E ainda que outros conheçam aquele sentir, cada sentir, em cada corpo e coração é inexplicavelmente particular.

E tudo isso, do que diz respeito a sentimento não está para entender e sim para sentir e era o que fazia. Quando se pegasse tentando se perder ao querer explicar para si mesma uma palavra de ternura trocada, um toque na mão e um sorriso nos lábios, não pensaria, mas sentiria com corpo e alma.

Não queria nada do passado, desejava o mundo do presente, mas entendia que não podia abraçar tudo de uma só vez. Do futuro não sabia e preferia não pensar, mas era inevitável.

Acreditava mais no bem que no mal, o que a tornava ingênua. Para ela a política separava as pessoas, ela tão pacífica, tão quieta, detestava que a colorissem, ela que só tinha um lado, o dela mesma. Ela que acreditava e defendia os direitos da mulher se irritava com a ausência de união entre elas, com a inveja e outros sentimentos ruins que muitas alimentavam umas pelas outras.

E ser mulher era outra aprendizagem. O que era para ela ser mulher?

Era jovem ainda, mas pensava nas palavras de seus pais sobre o futuro. “Quando você for mãe irá entender”. Essa frase se confirmará mais tarde, ela sabia e se preparava para ter seus pensamentos amadurecidos no futuro, mas por enquanto ainda era cedo.

Boba, sentimental, seus olhos se emocionaram diante de algumas crianças em festa em apresentação folclórica, e parava encantada enquanto para os outros era algo comum. Bonito, mas comum.

Em dias de espírito doente sentia o mundo feio e contra ele ficava, sentia uma dor que vinha de dentro e que lhe deixava sem muitas palavras e lhe roubava a calma. Sentia vontade de fugir e esconder-se até acalmar tudo e entendia que era dentro de si que precisava resolver as coisas, lá fora tudo estava como sempre, as pessoas usando suas máscaras e lutando uns contra os outros, alguns até vivendo felizes, outros apenas fingindo.

E para sobreviver a dias como esses era preciso colocar a armadura, pois que fazia parte do mundo e precisava participar dele, querendo ou não, havia obrigações a cumprir. Quando o dia acabasse, estaria segura em casa e tudo seria colorido novamente.






Nenhum comentário:

Postar um comentário